Maldonado é o departamento uruguaio onde estão localizados os destinos mais procurados do Uruguai, como Punta Del Este e José Ignácio. Conhecido por seus quilômetros de costa, cena gastronômica autêntica, boa hospedagem e vinhos que despontam como os melhores do país, a região coloca agora o Uruguai no cenário artístico internacional com a inauguração do Maca, Museu de Arte Contemporânea Atchugarry.

O edifício de 5 mil m² faz parte da Fundação Atchugarry, criada em 2007 pelo artista plástico Pablo Atchugarry, um parque de esculturas monumentais espalhadas por extensos jardins de mais de 360 mil m² de natureza abundante.

Considerado um dos maiores escultores contemporâneos do mundo, trabalhando a leveza em blocos de mármore, ele já teve suas obras expostas em todos os principais museus internacionais. Em 2014, por sinal, em comemoração aos seus 70 anos, uma retrospectiva de seu trabalho foi apresentada no Mube, em São Paulo, e no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

A proposta do Maca é incluir o Uruguai no circuito das grandes exposições internacionais, ao mesmo tempo que abriga um acervo permanente de obras do próprio Atchugarry e peças de artistas americanos, latino-americanos e europeus como Julio Le Parc, Carlos Cruz Diez, María Freire y Costigliolo, Wifredo Díaz Valdéz, Joaquín Torres García, Ernesto Neto y Carmelo Arden, Miguel Ángel Pareja, Vik Muníz, Frank Stella, Louise Nevelson, entre muitos outros.

“Existe uma preocupação comum entre artistas e colecionadores, que consiste em pensar onde irão parar as suas as obras, fruto de uma vida inteira, e da paixão que sempre as acompanhou. Então, há alguns anos, nasceu a ideia de construir um museu, dentro da Fundação Pablo Atchugarry, que é de alguma forma a herança cultural que deixo para o Uruguai”, explicou Pablo Atchugarry sobre a concepção do Maca.

O Maca tem um acervo permanente de obras do próprio Atchugarry

Localizado no km 4,5 da rota 104 em Manantiales, entre a cidade de Punta Del Este e o badalado pueblo de José Ignácio, o Maca abriu as portas em janeiro com uma retrospectiva internacional chamada "Christo e Jeanne-Claude no Uruguai". A mostra trouxe 50 obras, entre fotografia, desenhos, colagens e plantas, provenientes da família dos artistas e de colecionadores particulares que chegam pela primeira vez à América do Sul.

O casal ficou conhecido por suas realizações artísticas em escalas monumentais como os projetos que embalaram o Reichstag, em Berlim, ou o Arco do Triunfo, em Paris. Um dos projetos documentados na exposição é o The Umbrellas. Em 1991, 1,8 mil trabalhadores começaram a abrir os 3,1 mil guarda-chuvas em Ibaraki, no Japão, e em uma propriedade a 95 km de Los Angeles. Esta obra de arte temporária Japão-EUA teve investimento de US$ 26 milhões feita pelos próprios artistas e foi concebida para refletir as "semelhanças e diferenças nos modos de vida e no uso da terra em dois vales" nos dois países.

O projeto do Maca é do arquiteto uruguaio Carlos Ott, construído em uma estrutura de madeira que por suas formas curvilíneas dialoga com os jardins do Parque de Esculturas, parte da Fundação Pablo Atchugarry. Para o visitante é uma imersão em arte e natureza.

A chegada do Maca teve outro efeito na região ao dar visibilidade para uma rota de arte com galerias espalhadas por pequenos pueblos nos arredores. No Pueblo Garzón, por exemplo, estão as galerias Black Gallery, Campo Canteen, La Galerilla, Walden Gallery e Piero Atchugarry (filho de Pablo Atchugarry). Em José José Ignácio é possível visitar a Galeria de Las Misiones e a Galeria Los Caracoles.

A exposição "Christo e Jeanne-Claude no Uruguai" trouxe projetos e fotos de obras do casal como "The Umbrellas"

O circuito se completa com a Casapueblo, a casa do artista uruguaio Carlos Páez Villaró, mais conhecida dos brasileiros, localizada nas proximidades de Punta Del Este. Ela fica na encosta da Punta Ballena e com os anos foi sendo ampliada até o artista transformá-la em uma “escultura habitável”. Hoje é museu, galeria, hotel, restaurante e palco para avistar o pôr do sol no embalo da voz de Villaró recitando seu poema Ceremonia del sol.

Retomada dos brasileiros

A inauguração do Maca se junta a outros destaques que fazem da região o novo hot spot do Uruguai e que atraem turistas principalmente no verão. Segundo o Ministério do Turismo do Uruguai, historicamente o Brasil tem, ano a ano, uma participação entre 15% e 18% do total de visitantes a Punta Del Este, com um pico de 37% em 2019.

Apesar dos dados da alta temporada de 2022 ainda não terem sido consolidados, a tendência é de uma retomada dos visitantes brasileiros que, mesmo com a pandemia, tiveram uma participação de 19% em 2021.

Os brasileiros são atraídos pelas hospedagens rústicas chiques em estâncias tradicionais no interior, hotéis luxuosos ‘pé na areia’, paradores de frente para o mar com parrillas a todo vapor de onde saem frutos do mar frescos ou carnes de renome mundial e vinhos de qualidade que vão além da uva flagship local Tannat. E, claro, a segurança em flanar sem preocupação por Maldonado.

O Uruguai é pequeno, mas tem tido resultados positivos em desenvolvimento econômico e social. O país ocupa a 55ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas (contra 84º lugar do Brasil), tem PIB per capita de US$ 22,7 mil (versus US$ 14,8 mil PIB brasileiro).

O país apresenta ainda a segunda maior taxa de alfabetização da América do Sul (98,8%). Todos esses números se traduzem, na prática, em menor desigualdade social, menor criminalidade, elevada qualidade de vida e bem-estar e infraestrutura de turismo preparada e amistosa.

Vinhos além da Tannat

A evolução da vitivinicultura uruguaia nos últimos 15 anos é expressiva. Os investimentos foram pesados e a região que mais se desenvolveu no país foi Maldonado, onde está incrustrada José Ignacio. Ali, a influência do Atlântico nos vinhedos impressiona e o enoturismo é uma importante fonte de receita para as vinícolas.

A Bodega Garzón em pouco mais de dez anos assumiu a liderança de mercado no Uruguai, produzindo vinhos desde os entry-level até exemplares icônicos como os da linha Petit Clos até o Balasto, flagship da casa. Este vinho foi o 1º vinho do país a ser lançado com os negociantes da praça Bordeaux, o mais importante mercado de vinhos. O 1º do continente a ser negociado em Bordeaux, foi o renomado Almaviva, já há muitos anos.

Vale destacar que, dos mesmos donos da Bodega Garzón, o empresário argentino Alejandro Bulgheroni, está a Colinas de Garzón, de onde provém azeites muito apreciados no Brasil. O enoturismo representa 20% da receita da empresa e os brasileiros são 70% dos visitantes.

Também em José Ignacio está a Bodega Oceânica, que produz vinhos de muita qualidade com destaque para o seu Chardonnay e seu Albariño. Por sinal, se a Tannat é a casta mãe do país, a casta branca coqueluche hoje por lá é a Albariño, que se deu muito bem no clima marítimo dessa região.

Alguns quilômetros de José Ignacio, rumo a capital, cerca de 65 km, nas cercanias da cidade praiana de Piriapólis, está outra vinícola que chama a atenção por seus vinhedos ainda mais perto do mar. A novíssima Bodega Cerro del Toro produz brancos de destaque, notadamente seus Chardonnays e Albariños, bem como seus Pinot Noirs. A visita a Cerro del Toro é impressionante também por sua pequena sala de degustação com vista para grande parte de seus vinhedos.