Acumulando desvalorização média de 45% nos últimos 12 meses, as ações do setor de construção estão indiscutivelmente baratas, abrindo boas perspectivas de ganhos para quem estiver disposto a investir nesse segmento. 

No entanto, a piora do cenário econômico provoca o medo de que o abismo em que esses papéis caíram nos últimos meses não está perto do fim, como muitos gostariam. 

Para os analistas do Itaú BBA, essas duas leituras estão corretas e caminham juntas, por isso é preciso tomar cuidado para fazer a escolha certa, no momento adequado. 

Em relatório em que anunciam a retomada da cobertura de 17 ações do setor, os analistas Daniel Gasparete, André Dibe e Bruna Breunig destacam que essas ações, nas circunstâncias atuais, não são nem titãs em termos de crescimento, nem irão afundar como o Titanic, nunca mais voltando à tona.

“Não tenham dúvidas: as construtoras brasileiras estão altamente descontadas, e os investidores podem obter retornos razoáveis com o setor”, começa o relatório. “Mas ainda não é o momento para dizer que elas atingiram o fundo [do poço]”.  

Os analistas do Itaú BBA admitem que, com os preços nos atuais patamares, os investidores podem obter bons retornos no longo prazo, se tiverem paciência. A grande questão é justamente quando será o ponto de virada para que esses retornos se concretizem. 

Para eles, tanto os aspectos macroeconômico, quanto questões das empresas e setoriais estão negativos e não mostram sinais de melhora. Do lado macro, o principal problema são as taxas de juros de longo prazo.

As ações do setor estão muito correlacionadas à curva de juros de dez anos, e não existe perspectiva de que ela vai começar a se inclinar para baixo, diante das pressões inflacionárias globais e os riscos fiscais domésticos. 

No âmbito micro, os analistas do Itaú BBA esperam que o ambiente operacional piore antes de atingir o ponto de inflexão. Os lançamentos e vendas de imóveis devem continuar recuando no curto prazo, por conta da deterioração da confiança dos consumidores, juros em alta, inflação dos materiais e do aumento dos estoques. 

“Uma possível inflexão positiva do ambiente macro e micro (que é provável, porque tanto a economia brasileira quanto o setor de construção são, sem dúvida, cíclicos) pode abrir espaço para uma reavaliação significativa das ações”, diz trecho do relatório. “Contudo, é difícil precisar quando isso deve ocorrer.” 

Segundo os analistas, quando os ambientes micro e macro estiverem positivos, as ações podem dobrar ou até triplicar de valor, como visto entre o segundo semestre de 2018 e o final de 2019. 

Para aqueles que pretendem investir no setor, mesmo diante de circunstâncias ainda não favoráveis, o relatório do Itaú BBA sugere se posicionar em nomes expostos ao segmento de baixa renda, em especial, MRV &Co, Direcional, Cury e Plano & Plano

O segmento, de acordo com os analistas, conta com alguns aspectos mais positivos do que nomes que atuam em faixas de renda mais alta, como oferta de imóveis um pouco mais limitada e demanda em alta por conta do programa Casa Verde Amarela, com crédito subsidiado pelo governo federal. 

Além disso, essas empresas estão mais protegidas da inflação dos custos com matérias-primas por utilizarem placas pré-moldadas em alumínio, reduzindo despesas trabalhistas, terem verticalizado a mão de obra, ao invés de contratar autônomos, e terem operações por todo o País, não ficando tão expostos aos custos elevados com mão de obra em grandes centros. 

No caso dos nomes ligados a faixas de renda mais elevadas, ainda que recomendem esperar mais um pouco para comprar ações, os analistas do Itaú BBA sugerem buscar nomes com menos despesas como proporção dos lançamentos, baixa alavancagem e bancos de terrenos estabelecidos por meio de trocas, ao invés de aquisições. 

Também indicam buscar empresas com baixo inventário e baixa queima de caixa. Para eles, os nomes que mais se encaixam nesse perfil são Moura Dubeux, Even e Mitre.