Depois de a Netflix ter anunciado no primeiro trimestre a primeira perda de usuários em quase uma década, as expectativas do mercado não eram muito otimistas para o balanço do segundo trimestre. Principalmente pelo fato de que a própria companhia projetava uma perda de 2 milhões de assinantes no período. 

Mas o pessimismo em relação às perspectivas da companhia de streaming deu lugar a um forte otimismo, com o balanço financeiro divulgado nesta terça-feira, dia 19 de julho, renovando as expectativas dos investidores. Isso ficou claro no desempenho das ações no pós-mercado da Nasdaq. Por volta das 19h30, os papéis subiam 7,09%, a US$ 215,93. 

Dois motivos explicam esse movimento positivo. O primeiro é o fato de que a perda de assinantes no período ficou abaixo do que havia sido projetado. A Netflix teve uma perda líquida de 970 mil usuários pagos, com a base de usuários somando 220,67 milhões de pessoas. 

Essa relativa "boa notícia" se juntou a uma outra sinalização positiva. A empresa informou que espera fechar o terceiro trimestre com uma adição líquida de 1 milhão de novos assinantes. 

O segundo fator que está animando os investidores é o fato de a Netflix ter dado um pouco mais de detalhes a respeito da intenção de criar uma opção de assinatura mais barata e com exibição de publicidade, vista por analistas como uma avenida de crescimento para uma empresa que enfrenta dura concorrência. 

No balanço, a Netflix informou que a expectativa é de que o serviço seja lançado no começo de 2023. Para isso, ela fechou uma parceria com a Microsoft, anunciada na quarta-feira passada, dia 13. A companhia fundada por Bill Gates ajudará a viabilizar as vendas e a tecnologia para exibir publicidade. 

A opção será lançada inicialmente em alguns mercados em que o nível de gastos com publicidade é “significativo”, de acordo com a Netflix. A empresa não divulgou projeções, mas espera um crescimento gradual da base de usuários ao longo do tempo. 

“Como a maioria das nossas novas iniciativas, nossa intenção é lançar, escutar, aprender e expandir rapidamente para melhorar nossa oferta”, diz trecho do comunicado da Netflix junto com o balanço. “Com isso, nosso negócio em publicidade, em alguns anos, vai parecer um tanto diferente do que será em seu primeiro dia.”

Para Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, gestora de investimentos especializada em companhias de tecnologia, essa é a principal mensagem que a Netflix trouxe nos resultados do segundo trimestre, mais do que ter “estancado a sangria” da saída de usuários. 

“Ela tangibilizou no resultado a intenção de explorar a opção da publicidade”, afirma. “Claro que tem muita lenha para queimar, isso ainda precisa se desenvolver, mas é uma quebra de cultura de alguém que dizia que nunca iria entrar na parte de publicidade, que não enxergava mudanças em seu modelo de negócio.”

Segundo Lobão, a iniciativa pode ajudar a fazer recuperar o terreno perdido para outros competidores, que já se utilizam de publicidade, caso das plataformas Hulu e da Disney+, que estreou um modelo parecido nos Estados Unidos neste ano. 

Ele vê ainda a perspectiva de ganhos com publicidade sustentando as ações da Netflix até o lançamento do novo plano. “Vai ter um lapso de valorização das ações, diante das expectativas, mas precisa ver se vai resultar em ganhos de longo prazo. Por isso, não é um bom papel para se apostar se está se olhando para o longo prazo”, afirma. 

A Netflix acabou registrando um lucro líquido de US$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, alta de 6,5% na comparação com o mesmo período de 2021. O lucro por ação, de US$ 3,20, veio acima da média das expectativas coletadas pela consultoria Refinitiv, de US$ 2,94. 

A receita líquida subiu 8,5%, em base anual, para US$ 7,91 bilhões, mas ficou levemente abaixo da média de estimativas, que apontavam US$ 8,03 bilhões. A companhia informou que a valorização do dólar pesou. Excluindo o efeito do câmbio, a alta seria de 13%.