Quando recebeu o cheque de R$ 580 milhões do Softbank, no segundo semestre de 2021, a Omie deixou claro que faria aquisições para complementar suas capacidades para atender as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). “Estamos em um mercado gigantesco de milhões de PMEs e 80% dos clientes que chegam aqui vieram de nenhum software de gestão”, diz Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, ao NeoFeed.
Lombardo vai além e diz que o “grande concorrente da companhia no mercado é a incapacidade dela de andar mais rápido.” Por conta disso, a Omie acelerou e, em menos de um ano, adquiriu cinco empresas: além da Mintegra, comprada antes do aporte, ela trouxe para casa a Devi Tecnologia, G-Click, Linker e Conpass. Agora, mais uma entra no seu portfólio.
A Omie revelou ao NeoFeed que comprou a Ergoncredit, que vai funcionar como o seu motor de crédito. A operação foi realizada há seis meses, mas, até então, o negócio vinha sendo testado dentro de casa. “Trouxemos toda a plataforma da Ergoncredit e integramos na base da Omie”, diz Lombardo. “Cada recebível, cada CNPJ, cliente de cliente, fornecedor de cliente, está sendo scorado em tempo real.”
Somente os clientes da Omie emitem cerca de R$ 16 bilhões de nota fiscal por mês. Além disso, a companhia tem informações como extratos de contas bancárias, histórico de adimplência dos clientes dos clientes e dos fornecedores, de nível de estoque. “Tudo o que o ERP contempla”, diz Lombardo.
“Vamos modelar esse motor com os nossos parceiros de funding e oferecer crédito”, diz Lombardo. “Ninguém sabe usar dados para dar crédito, por isso vamos fazer essa modelagem sem pressa, junto com eles.” Entre os parceiros estão a CDP Capital, que trabalha com FIDCs, e outros que estão negociando com a companhia de software.
Hoje, a Omie tem apenas R$ 5 milhões na carteira e a meta é chegar a R$ 500 milhões em 12 meses. “Começamos devagar com antecipação de recebíveis”, afirma Lombardo. Agora, a empresa está testando crédito clean a taxas que variam entre 1,5% e 3% ao mês. A operação da Ergoncredit é fundamental na nova estratégia da companhia de criar um ecossistema que abrace o seu cliente, o cliente do seu cliente e o fornecedor do seu cliente.
O empresário afirma que cada cliente da companhia aponta para outros 116 CNPJs únicos. Justamente por isso, a Omie está lançando um portal, que também vai funcionar como uma boca de funil, para trazer todos esses players. “Todo mês, mandamos milhões de e-mails com boletos, notas fiscais eletrônicas”, diz Lombardo. “A partir de agora, eles não virão mais com anexos e sim com um link para o portal.”
No portal, que até hoje vinha funcionando no formato beta, todos terão acesso a documentos fiscais e instrumentos de cobrança e features como gestão antifraude de boletos, Pix, entre outros. “Tudo o que a Arquivei te cobra, vou dar de graça”, diz Lombardo sobre a startup de análise e gerenciamento de documentos fiscais.
Com isso, os clientes dos usuários da Omie terão à sua disposição um painel para consultar e gerenciar o status de todos os documentos. “O cliente do meu cliente poderá financiar ali mesmo. E ajudamos o nosso cliente a crescer sem que ele precise tomar risco”, diz Lombardo.
A meta é atingir 2 milhões de CNPJs até o fim do ano. E Lombardo diz que o desafio é crescer na velocidade de uma fintech monetizando como uma plataforma de SasS (Software as a Service). Ou seja, com recorrência. “Identificamos que tinha um potencial de efeito de rede gigantesco”, diz ele. A estimativa da companhia é ter 1 milhão de clientes recorrentes até 2025.
Ritmo acelerado
Em junho, a Omie, empresa de ERP voltada para PMEs, celebrou um marco em sua trajetória. A empresa atingiu 100 mil clientes, que gastam, em média, R$ 350,00 por mês. “Estamos conquistando uma média de 6 mil novos clientes por mês”, diz Lombardo. “Tem muito espaço para crescer. É um mercado que estimamos em 4 milhões de CNPJs.”
Apesar de Lombardo frisar que o mercado é, praticamente, um oceano azul, cada vez mais players entram nesse segmento voltado para as PMEs. A Totvs, gigante da área de ERP, tem uma área focada nesse universo. A Stone, depois de comprar a Linx, mergulhou ainda mais na estratégia de oferecer ferramentas de gestão para as pequenas e médias empresas.
Bancos digitais também estão focando nesse tipo de serviço. O BS2, por exemplo, mudou toda a sua atuação, saindo de pessoas físicas, para atuar apenas no mercado PJ. E players como BTG Pactual, Original, Inter e Itaú estão fortalecendo esses braços. O Itaú, aliás, lançou uma plataforma chamada Itaú Meu Negócio na qual a Omie é uma das parceiras.
Recentemente, em uma apresentação para algumas assets em um banco de investimentos, Lombardo recebeu a seguinte pergunta de um gestor. “Em função da crise, vocês sentiram uma diminuição da demanda nos últimos três meses?”. No que Lombardo respondeu. “Que demanda? Eu não tenho demanda, eu cavo as minhas oportunidades.”
O modelo de negócio da Omie é baseado, sobretudo, nas parcerias com os contadores que indicam seus clientes. “Quando ligamos falando que o contador informou que eles necessitam de um software de gestão, muitos deles dizem que não precisam”, diz Lombardo. “Ter pessoas para fazer planilha de estoque, de contas a receber, fazer nota na mão, isso não é normal. A nossa luta é mostrar que tem solução e é acessível.”