Após comprar o banco digital Linker, em um negócio de R$ 120 milhões em dinheiro e ações, o maior de sua história, a Omie está colocando a sua máquina de M&A para funcionar mais uma vez.

A startup, que desenvolveu uma plataforma de gestão na nuvem para pequenas e médias empresas, está comprando a catarinense Conpass, dona de uma plataforma de customer experience, em um negócio que envolve dinheiro e troca de ações. O valor não foi revelado.

“Esse não é um M&A óbvio, pois não é um produto complementar, um concorrente ou uma fintech”, diz Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, com exclusividade ao NeoFeed. “Todo mundo no mercado fala que a experiência do cliente é importante. Vamos criar, com a Conpass, uma jornada bem organizada.”

Com a Conpass, a Omie ganha uma plataforma de experiência do cliente que permite criar ações sem a necessidade de um desenvolvedor, tais como tutorias, centrais de ajuda, pesquisa de satisfação, além de fazer toda a gestão e o onboarding do cliente.

“Com dois cliques, consigo mostrar os clientes que têm risco de cancelamento, além de gerar insights e dados que permitem aumentar as vendas”, diz Ivan Biava, CEO e fundador da Conpass, que agora vai ser diretor de ‘customer experience” da Omie.

Não só isso. De acordo com Lombardo, a plataforma da Conpass vai permitir criar processos de onboarding de clientes, bem como contar com um “data lake” que possibilita análise e insights sem a necessidade de passar pelo funil de desenvolvimento.

Essa é quinta aquisição da Omie, desde novembro de 2020, quando comprou a Mintegra, uma solução que integra marketplaces a sistemas de gestão.

A startup já adquiriu também a Devi, que tem sistema de computação em nuvem para frente de loja (PDVs), e a G-Click, que conta com uma ferramenta web feita para otimizar a gestão de tarefas de escritórios de contabilidade. Além da já citada Linker.

Os M&As da Omie se aceleraram depois de a startup receber um cheque de R$ 580 milhões em rodada série C liderada pelo Softbank, em agosto do ano passado – a chinesa Tencent fez um complemento da rodada de valor não revelado em setembro.

A Conpass foi fundada em 2016 por Biava em Florianópolis. Ao longo de sua trajetória, recebeu R$ 1,3 milhão de aporte de investidores-anjo, entre eles Patrick Sigrist, um dos fundadores do iFood, e da Bossa Nova Investimentos. Todos estão saindo do negócio.

A empresa tem cerca de 300 clientes que pagam uma assinatura para usar a plataforma. Entre eles, estão nomes de peso como Ambev, Locaweb, Linker e a Totvs, que concorre com a Omie.

Com a compra, a Conpass informou que vai manter os clientes nas assinaturas que têm atualmente, mas não vai renová-las ao final do contrato. A partir de então, passará a atuar exclusivamente com a Omie, sendo que os 20 funcionários da startup vão ser incorporados à Omie, que tem 1,7 mil empregados, incluído as franquias.

Questionado se a compra da Conpass não se trata de um “acqui-hiring”, quando uma empresa compra outra apenas para incorporar seus funcionários, algo que tem se tornado comum no Brasil em razão do apagão de mão de obra na área de tecnologia, Lombardo nega.

“Nesse negócio existe propriedade intelectual que talvez levaria anos para a Omie desenvolver e talvez nem conseguisse chegar perto do que a Conpass fez”, diz Lombardo.

Após cinco aquisições, Lombardo diz que a estratégia de M&A vai seguir, mas em uma velocidade menor. “Fomos preenchendo os espaços em branco para criar uma solução ominchannel, do PDV ao marketplace”, diz o fundador da Omie. “O cliente passa a ter uma visão financeira e do estoque.”

O alvo continua sendo empresas que complementem a solução da Omie e não startups que sejam concorrentes ou que tragam mais receita à empresa.  Com 87 mil clientes, a Omie tem como concorrentes empresas como Totvs e Linx, que foi comprada pela Stone por R$ 6,7 bilhões em novembro do ano passado.

O movimento da Omie, de compra de outras startups, é uma tendência que se consolidou ao longo de 2021, em razão de as principais empresas estarem com o caixa cheio com aportes milionários dos fundos de venture capital.

Em 2021, o número de fusões e aquisições foi recorde, com 247 startups sendo compradas ou unidas a outras empresas, segundo pesquisa do Distrito. A maior parte dessas transações foi realizada por outras startups. As mais procuradas foram as fintechs (44), martechs (27), retailtechs (26), edtechs (19) e healthtechs (19).