Enquanto o crédito bancário desacelera e a inadimplência aumenta, a NPL Brasil decidiu oferecer uma "pimentinha" para os investidores. E a oferta agradou o paladar.
Gestora independente de créditos corporativos inadimplidos, a NPL (do inglês non perfoming loans) fez um spin-off do seu negócio e criou a Capsicum Assets, que assumirá a frente na recuperação de créditos inadimplentes single names. O primeiro ativo criado pela nova marca (cuja inspiração é uma espécie de pimentões picantes) foi uma debênture de R$ 250 milhões.
“O cenário de juros altos, desaceleração do crédito e crise no agro tem aumentado as oportunidades de compra de créditos estressados. Estamos realmente em um momento de excesso de oferta de ativos interessantes para serem analisados”, afirma Christian Ramos, sócio e CEO da NPL Brasil.
A captação, que teve assessoria da HMC Capital, foi estruturada por meio da emissão de debêntures que combinam uma série sênior e outra subordinada. A subordinada, que representou 40% da estrutura, busca retornos de até 30% para investidores com maior apetite de risco. Já a cota sênior, com 60% da estrutura e alto nível de subordinação, possui remuneração alvo de CDI+6%.
A oferta foi direcionada exclusivamente a investidores profissionais — principalmente single, multi family offices brasileiros e gestoras de recursos.
“Os investidores institucionais têm buscado soluções que combinem segurança e retorno elevado. Por isso, tivemos grande demanda para essa oferta de crédito estruturado de uma casa que tem grande expertise na seleção desses ativos”, afirma Pietro Reckman, especialista de strategy & research da HMC Capital.
Com os recursos captados, a Capsicum Assets deve ampliar a compra de créditos inadimplentes no segmento do agronegócio, mantendo a abordagem seletiva e juridicamente orientada. A primeira chamada de capital foi liquidada neste mês de junho.
Com raízes em um escritório de advocacia especializado em reestruturação e execução de garantias, a agente de securitização NPL decidiu converter sua expertise de aquisição de créditos com grande desconto e com alto índice de acordos extrajudiciais para criar a Capsicum. E a NPL, a partir de agora, concentrará suas atividades na gestão de carteiras.
Além do ambiente macroeconômico, há um fator regulatório que tem impulsionado esse mercado: a implementação de uma norma contábil internacional que exige provisionamento mais rigoroso para ativos problemáticos. Apesar do adiamento oficial para entrada em vigor, instituições financeiras como o Banco do Brasil já começaram a se adequar.
“Isso fez com que o banco aumentasse muito a venda de créditos inadimplidos, e tem sido uma alavanca relevante para a nossa estratégia”, diz Ramos.