Se o mercado de criptoativos vive uma fase de cautela, dentro do chamado "inverno cripto", expresso em indicadores como a perda de 57% do valor unitário do Bitcoin desde o início do ano, o mesmo não pode ser dito sobre os movimentos de algumas gigantes do setor no espaço do corporate venture capital.
No terceiro trimestre de 2022, gestoras de empresas como Coinbase e FTX foram algumas das que mais movimentaram o mercado de startups, segundo dados compilados pela empresa americana de pesquisas CB Insights.
De acordo com o levantamento, a Coinbase realizou 26 acordos para o financiamento de startups no período e alcançou a liderança global desse mercado. A FTX ficou em terceiro lugar, com 17 aportes realizados, dois a menos do que a gestora de corporate venture capital Mitsubishi.
Já Google Ventures, uma das gestoras de CVC mais relevantes do mercado, ficou apenas na sétima posição, com 13 deals realizados, o mesmo número da Salesforce Ventures. O top 10 do ranking inclui ainda outra empresa de cripto: a Binance, com 12 investimentos.
Ao todo, o estudo da CB Insights mostra que foram realizados 1.098 investimentos no terceiro trimestre desse ano, 14% a menos do que o volume registrado no mesmo período de 2021. O valor investido, por sua vez, é ainda menor: US$ 18,6 bilhões, queda anual de 34%.
A presença de três empresas de criptomoedas no top 10 chama a atenção pelo momento conturbado vivido pelo setor. O desempenho da Coinbase ajuda a ilustrar esse contexto. Desde o começo do ano, a empresa americana já perdeu 76% de seu valor de mercado.
No fim do primeiro semestre, a empresa, avaliada em US$ 15,3 bilhões, anunciou a redução de 18% do seu quadro de funcionários. Em outra medida, estrututurou um plano para evitar perder outros funcionários para outras empresas. A estratégia envolveu aumentar a concessão de stock grants, as ações que são cedidas aos profissionais após eles cumprirem um determinado tempo de casa.
Nos resultados financeiros da empresa do terceiro trimestre, que serão anunciados nesta quinta-feira após o fechamento do mercado, a expectativa de analistas é de que a receita caia pela metade na comparação com igual período de 2021. A projeção é de um faturamento na casa de US$ 641,8 milhões, segundo a empresa de informações do mercado financeiro Seeking Alpha.
Com capital fechado, FTX e Binance também enfrentam dificuldades diante da fase pouco favorável para o setor de criptoativos em geral. Nada, no entanto, que reduzisse o apetite do trio por novos negócios. Um exemplo foi um investimento feito em setembro e que contou com a participação dos veículos de CVC dessas empresas.
O aporte em questão foi a Série B da Mysten Labs, empresa americana que desenvolve infraestrutura dedicada à Web3. Na rodada, a companhia levantou US$ 300 milhões junto ao trio e a investidores como Dentsu Ventures e Circle Ventures.
Coinbase Ventures e FTX Ventures ainda trabalharam juntas em outro deal nos últimos três meses: o aporte de US$ 50 milhões captado pela startup americana Hidden Road, uma corretora com foco em investidores institucionais e que opera no mercado tradicional e com ativos digitais.
Enquanto essa tendência ganha corpo no exterior, no Brasil, ainda não existem players locais do setor com veículos estruturados de CVC. Embora existam alguns movimentos pontuais de investimentos em startups, feitos por nomes como Mercado Bitcoin e Foxbit.
Entretanto, as duas empresas estão pouco ativas nos últimos meses. O último passo veio com o investimento da 2TM, holding que controla a operação do Mercado Bitcoin, na fintech Wuzu, que opera num modelo de “exchange as a service". O aporte foi feito em março desse ano e o valor é mantido em sigilo.
Na Foxbit, a expectativa era de que novas aquisições fossem anunciadas nos últimos meses. Em fevereiro desse ano, quando captou US$ 21 milhões em uma rodada de série A liderada pela OKG Ventures, a companhia informou que uma parte do dinheiro iria para M&A. Desde então, nenhum acordo foi divulgado.