Perto de encerrar o quarto trimestre, aquele que, tradicionalmente, é o melhor período do ano para o setor, o varejo vive a expectativa de obter um alívio depois de um 2022 marcado por fatores que pesaram fortemente em suas operações e no bolso dos consumidores.

Na visão do BB Investimentos, porém, o saldo do fim do ano será pouco positivo, assim como as perspectivas para o início de 2023. Ao menos para as chamadas lojas de departamento e os grandes nomes do chamado varejo cíclico, afetado diretamente pelo cenário macroeconômico.

Em relatório divulgado nesta sexta-feira, 16 de dezembro, o banco de investimentos rebaixou os preços-alvos do trio formado por Americanas, Via e Magazine Luiza. As atualizações foram feitas a partir da incorporação dos resultados do trio no terceiro trimestre e das premissas macroeconômicas.

Nessa prateleira, o corte mais profundo envolveu a Americanas, cujo preço-alvo caiu de R$ 23,70 para R$ 8,10. Já a Via, dona da Casas Bahia e do Ponto, teve seu preço rebaixado de R$ 4,70 para R$ 3,30. Enquanto o Magazine Luiza foi de R$ 5,60 para R$ 3,50.

“Nossa companhia preferida é o Magazine Luiza, que vem se mostrando mais resiliente diante dos percalços macroeconômicos, com melhor execução do seu plano estratégico”, escreva a analista Georgia Jorge.

A analista destaca a maior cautela com a Via e a Americanas. “A primeira, por conta das dúvidas que pairam sobre o equilíbrio dos canais de vendas e o impacto disso na rentabilidade da companhia”, observa Georgia. “A segunda, por conta da divulgação de resultados negativos no terceiro trimestre, bastante inferior às expectativas.”

Além das questões específicas de cada empresa, a analista ressalta que uma combinação de elementos concorreu para que as perspectivas, a princípio, um pouco mais favoráveis no início do segundo semestre não se materializassem em um cenário mais animador nesse fim de ano.

Ela cita que, mesmo com um terceiro trimestre menos aquecido do que o esperado, a visão ainda era positiva. Especialmente diante da expectativa de vendas relacionadas à Copa do Mundo e da perspectiva de início do ciclo de “afrouxamento monetário” em meados de 2023.

“Contudo, as revisões das estimativas do mercado aumentando a permanência da taxa de juros brasileira em patamar elevado para contrabalancear as discussões fiscais prejudicam o valuation das companhias ora em análise”, observa.

Georgia destaca que, do lado das vendas, a taxa de juros elevada reduz o ímpeto de compra dos consumidores. No campo rentabilidade das operações, ela ressalta a perspectiva de elevação, o que implica na redução do lucro líquido, já impactado pela menor perspectiva de alavancagem operacional, em função das vendas em ritmo mais lento.

Diante desse panorama, o BB Investimentos manteve a recomendação de venda para o papel da Americanas. Entre os indicadores reportados pelo grupo no terceiro trimestre, um dos principais pontos por trás do corte do preço-alvo da ação foi o “expressivo consumo de caixa operacional no período”.

De acordo com o relatório, a atualização contempla ainda fatores como a redução das estimativas de crescimento em todos os canais de vendas e também das projeções para a margem Ebitda, diante da menor alavancagem operacional estimada em função da revisão das vendas para baixo. As ações da empresa, avaliada em R$ 6,8 bilhões, acumulam baixa de 76% em 2022.

O banco também manteve a recomendação neutra para a Via. O BB Investimentos apontou que a incorporação dos resultados do grupo no terceiro trimestre implicou na redução das estimativas de vendas para 2022 e 2023, bem como das estimativas de margem Ebtida nesses períodos. Avaliada em R$ 3,09 bilhões, a Via registra uma desvalorização superior a 62% em suas ações no acumulado do ano.

O Magazine Luiza, por sua vez, teve sua recomendação rebaixada de compra para neutra, sob uma análise similar às premissas estabelecidas para a Via. A empresa está avaliada em R$ 16,3 bilhões e suas ações acumulam uma desvalorização de 66% no ano.