Se o TikTok terminou o último ano na mira de autoridades nos Estados Unidos, em 2023 essa história parece que não será diferente. Comandada pela chinesa Bytedance, a companhia está sendo acusada de ser uma ferramenta de espionagem e agora flerta com uma proibição de seu uso nos Estados Unidos.
O episódio mais recente dessa história apareceu já na segunda-feira, 2 de janeiro, quando Brendan Carr, comissário da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), afirmou que o serviço “opera como uma ferramenta sofisticada de vigilância” e que a Índia abriu um “precedente incrivelmente importante” ao banir o serviço no país ainda em 2020.
Em entrevista ao jornal indiano Economic Times, Carr afirmou ainda que o banimento da rede social nos EUA é um passo natural nos esforços do governo americano para garantir uma rede de comunicação segura. “Precisamos seguir o exemplo da Índia de forma mais ampla para eliminar também outros aplicativos nefastos”, disse.
A preocupação de Carr se dá pelas relações do governo chinês com as empresas do país. De acordo com comissário, há receio de que a Bytedance possa ceder dados confidenciais dos usuários americanos para o governo chinês.
Em dezembro, uma reportagem da Forbes afirmou que a companhia vinha espionando os jornalistas da empresa. Dias depois, um e-mail interno enviado por funcionários do TikTok confirmou que o serviço era utilizado para vigiar jornalistas e repassar as informações para a Bytedance.
Ainda que um processo de proibição do aplicativo nos EUA pudesse levar algum tempo para ser colocado em prática, não é improvável que isso aconteça. Em novembro, a FCC determinou a proibição da venda de novos smartphones das empresas Huawei e ZTE no país "por risco de segurança nacional".
As ameaças do governo de Washington vêm desde o período de Donald Trump na Casa Branca. À medida que o TikTok ganhava usuários e incomodava Facebook, Instagram e YouTube, Trump ajustava sua ofensiva na guerra comercial contra a China para as empresas de tecnologia.
Na época, para evitar o banimento da plataforma chinesa de vídeos curtos os fundos de private equity Sequoia Capital e General Atlantic cogitaram assumir o controle da Bytedance em solo americano - algo que não foi aceito pela companhia investida.
Enquanto isso não acontece, algumas decisões vão restringindo o serviço nos EUA. Em dezembro, o senado americano aprovou uma lei que proíbe o uso da plataforma em máquinas oficiais, como computadores de prédios públicos ou smartphones que são usados profissionalmente por funcionários públicos.
Para a Bytedance, o banimento completo do serviço nos EUA seria um golpe duro nos negócios da companhia. Uma estimativa da Wallaroo Media, empresa americana de publicidade e redes sociais, aponta que o TikTok tinha pelo menos 1 bilhão de usuários no mundo ao fim do ano passado - cerca de 100 milhões estão na terra do Tio Sam.
Caso isso aconteça, o TikTok dificilmente vai repetir o bom ano que teve em 2022. Ainda que a receita global de publicidade no mundo tenha aumentado apenas 4% em 2022 – contra 36% em 2021 –, o serviço da Bytedance mais do que dobrou suas receitas com anúncios e faturou US$ 13 bilhões. Os dados são das consultorias Magna e Omdia.
Quem está de olhos abertos na movimentação envolvendo o TikTok é a Meta. O Facebook tem ficado para trás na preferência dos jovens, que escolheram a rede social de compartilhamento de vídeos curtos como a nova preferida. Foi a primeira vez em 18 anos que a rede social de Mark Zuckerberg se deparou com um rival de peso.
No Brasil, o serviço começa a explorar outras fontes de dinheiro. Em novembro, o NeoFeed informou que a companhia estava montando uma operação de comércio eletrônico no país com previsão de estreia já no primeiro trimestre. Nesta iniciativa, a companhia vai competir contra empresas como Amazon, Aliexpress, Mercado Livre, Americanas, Magalu e Via.