A crise da Meta tem nome e sobrenome –TikTok, da chinesa Bytedance. A rede compartilhamento de vídeos curtos quebrou a hegemonia de Mark Zuckerberg. Até 2014, a gigante de Menlo Park reinava absoluta no mundo das mídias sociais.

Mas, naquele momento, pela primeira vez, em 18 anos de Facebook, Zuckerberg se viu diante de um rival de peso, o único capaz de ameaçar seu poderio. E, desde então, ele vem sentindo na pele a força dos chineses.

Atualmente, a ByteDance está avaliada em US$ 300 bilhões no mercado privado. E a Meta, em US$ 240 bilhões  na Nasdaq – uma ninharia para uma organização que chegou a valer US$ 1 trilhão. Uma rede social mais poderosa do que o Facebook? Pois é, o que parecia inimaginável até bem pouco tempo atrás, agora, é realidade.

Antes, era tudo muito fácil para Zuckerberg. Em 2012, ao primeiro sinal de que o Instagram pudesse fazer frente ao Facebook, ele não titubeou. Desembolsou US$ 1 bilhão, comprou a empresa de Kevin Systrom e Mike Krieger e, assim, se manteve isolado, na liderança.

O fundador da Meta também tentou comprar o Snap e não conseguiu. A solução foi copiar o recurso na qual as mensagens desapareciam depois de um certo tempo. Na época, deu certo. Agora, Zuckerberg tentou copiar os vídeos curtos do TikTok com o recurso Reels, do Instagram. Até agora, o efeito tem sido limitado.

“A concorrência com o TikTok foi mais complicada”, avalia Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Uma empresa chinesa, com muito capital, um grande volume de gente e o governo chinês dificultando a situação das grandes empresas americanas no país. Isso ajudou o TikTok a criar uma massa crítica.”

Aos poucos, o Facebook foi perdendo tração. O primeiro baque foi registrado em fevereiro deste ano. Naquele mês, o Facebook reportou a primeira queda no número de usuários ativos diários, desde a sua fundação, em 2004. Nos últimos três meses de 2021, os usuários somaram 1,929 bilhão, contra os 1,930 bilhão do trimestre anterior.

A popularidade da empresa fundada por Zuckerberg caía conforme crescia a predileção do público, especialmente o mais jovem, pelo TikTok.

Erros estratégicos

A demissão de 11 mil funcionários da Meta, anunciada nesta quarta-feira, 9 de novembro, por Zuckerberg, não foi provocada única e exclusivamente pela ascensão do TikTok. Mas a rede chinesa teve um impacto decisivo para a fragilidade financeira da companhia americana.

Dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, a Meta vem amargando quedas significativas nos resultados de suas operações tradicionais e investindo alto no futuro (incerto) do metaverso. Desde o início de 2022, as ações da Meta despencaram 71%, culminando, em outubro passado, com a saída da gigante de Menlo Park da lista das vinte maiores empresas do mundo.

Outro golpe duro para a Meta aconteceu em abril do ano passado, com o lançamento do iOS 14.5, a atualização dos sistemas operacionais dos iPhones. Ao alterar suas políticas de privacidade e compartilhamento de dados, a Apple determinou que todos os aplicativos só poderiam fazer o rastreamento de dados e atividades dos usuários com a autorização deles.

A decisão afetou diretamente as empresas cujos negócios estão baseados na coleta de informações das pessoas para anúncios personalizados. “O Facebook perdeu valuation de mercado”, lembra Coutinho.

A saúde financeira da companhia de Zuckerberg tornou-se ainda mais frágil com o aumento do custo do dinheiro. “Um ano atrás, era de 0,25%, 0,5% e agora está chegando a 4%”, afirma Coutinho. “Em uma empresa muito alavancada, isso vai comendo receita.”

Soma-se a isso a perspectiva de uma recessão em 2023, não muito intensa, mas prolongada. “Isso detona a receita publicitária não só da Meta, mas de todas as empresas”, afirma o professor da FGV. “Ou se melhora a receita ou se corta custo. Só que para melhorar a receita, geralmente, é preciso investir. Mas como investir em um momento em que o custo de capital é 4% ao ano? Sobra cortar custos.”

Ao anunciar a demissão em massa, em comunicado interno, Zuckerberg faz o mea culpa. “Eu entendi errado e assumo a responsabilidade por isso”, reconheceu. Entusiasmado com o aumento nas receitas durante a crise sanitária deflagrada pelo novo coronavírus, ele foi incapaz de prever os riscos.

“Muitas pessoas diziam que essa aceleração seria permanente, mesmo com o fim da pandemia. Eu também; então tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, não aconteceu do jeito que eu esperava”, disse.

A realidade se impôs e a Meta foi atingida pela desaceleração da economia, aumento da concorrência e perdas de receita publicitária.

Enquanto o executivo atribui às turbulências macroeconômicas a principal responsável pela crise da Meta, investidores e analistas de mercado citam ainda a obsessão de Zuckerberg pelo metaverso. Desde outubro de 2021, quando o Facebook passou a se chamar Meta, a companhia vinha apostando muito alto no universo de realidade virtual.

“O futuro da empresa vinha sendo pautado pelo metaverso e eles não conseguiram atingir os índices prometidos”, diz Carolina Terra, pesquisadora e consultora nas áreas de mídis sociais e RP digitais. “A meta inicial era atingir 600 mil usuários e, mais tarde, baixou para 280 mil. Isso traz um mal-estar junto aos acionistas.”

Em carta aberta, divulgada em 24 de outubro passado, Brad Gerstner, CEO da Altimer Capital, uma das grandes investidoras da Meta, avaliou: “Um investimento de mais de US$ 100 bilhões em um futuro incerto é assustador até para o padrão do Vale do Silício”.

Como pondera Coutinho, se o custo do dinheiro estivesse a 0,5% ao ano, tudo bem. A 4%, a realidade bateu à porta da Meta –e a companhia se viu obrigada a cortar 13% de seu quadro de pessoal.