Ao conquistar o olhar do ator e músico norte-americano Harry Styles, símbolo fashion e atual vencedor do Grammy de álbum do ano, cuja voz se tornou onipresente onde quer que se vá, a marca brasileira de óculos Lapima ganhou mais vitrines no mundo.
A atriz Anne Hathaway, símbolo fashion desde o filme “O Diabo Veste Prada”, foi a primeira e comprou numa loja. Depois Jessica Biel, Elle Fanning, Rebecca Hall e Olivia Palermo adotaram os modelos coloridos e diferentões, feitos em acetato orgânico italiano (sem petroquímicos). Harry Styles, quando usou a primeira vez, por exemplo, pegou emprestado de Olivia Wilde.
Este mês, a Lapima marcou mais um ponto em sua internacionalização ao ser a primeira marca de luxo do setor no país a participar da Mido, a feira mais importante da indústria ótica, em Milão.
Com isso, a marca criada em 2016 por um casal em Campinas, que já vende 90% de sua produção em óticas especializadas no exterior, acaba de abrir mercados em Dubai, Japão e Egito, além de reforçar a presença nas suas principais praças da Europa, Canadá e EUA, seu principal mercado. No total, está presente em 33 países.
Para tanto, estão dobrando a produção e chegando a 25 mil pares por ano. “Esse predomínio no exterior deve continuar”, diz ao NeoFeed Gisela Assis, que se ocupa mais de finanças enquanto o marido, Gustavo, se dedica à parte criativa. Mas com um reforço no mercado nacional. Os planos para 2023 incluem a abertura de mais duas lojas no Brasil. Entre as cidades estudadas despontam Curitiba e Goiânia.
Atualmente, um par de óculos da Lapima custa U$ 510 dólares no exterior. No Brasil, o valor é de cerca de R$ 3 mil, na loja própria que há no Shops Jardins, em São Paulo, ou nas cinco multimarcas que revendem o produto.
“As marcas que existem no exterior e possuem as mesmas características do que a nossa vendem para 650 a 700 lojas. Nós estamos em 280 pontos de venda e temos muito espaço para crescer.”
No nicho que a Lapima atua concorrem grifes como Jacques Marie Mage, de Los Angeles, e a alemã Mykita. No Brasil, explica Gisela, “o crescimento no varejo demanda um investimento muito maior ou uma construção de estoque. Atacado e varejo são dois business bem diferentes.”
Por outro lado, no Brasil, a Lapima fala com o consumidor final, o que não acontece no exterior. “Isso traz um retorno, um conhecimento de mercado que é uma preciosidade enorme para a gente. Então, vamos tentar continuar nessa linha, crescendo nos dois lados”.
Por trás da Lapima está um casal que nunca havia desenhado nem comercializado um par de óculos na vida. Gisela tinha trabalhado em marketing institucional na indústria farmacêutica.
Gustavo possuía uma experiência de varejo: era proprietário de lojas multimarcas que vendiam produtos de luxo – roupas, sapatos, bolsas, assessórios – nos shoppings de Campinas e Ribeirão Preto no interior de São Paulo.
Dois anos antes de vender o comércio, os dois se associaram e perceberam que dava certo trabalhar junto. Gustavo, formado em administração por pressão de uma família tradicional, tinha a arquitetura como paixão e sempre teve vontade de usar a criatividade para alguma coisa, que não fosse roupa.
Começou a desenhar os primeiros óculos sem qualquer experiência anterior. Foram dois anos estudando o mercado, quando nasceram os seis primeiros modelos de óculos de sol. O desafio, então, foi produzi-los.
“Foi uma saga, porque as fábricas de óculos que a gente rodou no Brasil são super tradicionais”, lembra Gisela. “Eles olhavam pro Gustavo muito jovem, na época, e falavam: ninguém vai usar um óculos desses.”
O estranhamento era porque Gustavo trouxe "uma questão de curvatura no desenho em 3D", com um jogo de luz que rebatia na superfície dos óculos e que não abria mão. “As fábricas diziam: isso é muito louco, não vai dar para fazer, vai ficar caríssimo”.
Caríssimo, de fato, ficou. Em especial, para manter um design autoral produzido de forma artesanal e com matéria-prima de excelência e importada e o desenvolvimento de cores exclusivas.
“Mas a gente entendia que por ser um design caríssimo e uma matéria-prima de super qualidade existia um nicho de mercado. E que tinha marcas da Alemanha, Inglaterra, marcas francesas e americanas que atuavam nesse nicho”, diz Gisela.
No mercado externo, eles perceberam que havia uma gama de óticas que vendem marcas independentes e foi assim que começaram, no mundo alternativo e fashion. “É onde vendemos mais e eles entendem muito disso, basta pegarem o produto na mão.”
Além desse caminho, a Lapima foi para endereços de luxo como Bergdorf Goodman, em Nova York, By Marie, em Paris, e A’maree’s, em Los Angeles. Também está em um dos maiores e-commerces de grifes, a Farfetch.
A chave para chegarem aí e conseguirem produzir o que queriam foi a expertise do engenheiro mecânico Ricardo Aparecido dos Santos e do artesão Ademir Ildefonso, que veio da indústria ótica em Campinas, que foram contratado por eles.
No início, a produção era terceirizada e dividida em três ateliers. O resultado foi cerca de 50 óculos vendidos para amigos e conhecidos. A maioria apresentou problemas e assim, com os erros, aprenderam a fazer.
“Para você ter um ideia, os 116 óculos que eu vendi em 2016, troquei todos. Todo mundo vinha com alguma reclamação. E tudo que a gente queria era esse feedback para melhorar o produto”.
Rapidamente, fazendo contatos internacionais, eles receberam uma proposta de um showroom inglês para apresentar a coleção na Fashion Week de Paris em fevereiro de 2017. E foi aí que o engenheiro propôs que eles montassem uma fábrica.
Naquele momento, também parecia loucura. E foi com R$ 20 mil e máquinas compradas em ferros velhos de óticas de Campinas, e consertadas, que a pequena fábrica começou. “Eram máquinas de 1970, 1980”.
Há dois anos, já com máquinas novas, importadas e nacionais, a Lapima passou a produzir também óculos de grau, ampliando ainda mais seu público e ocasiões de consumo. O que chega este mês às lojas, contudo, é a nova coleção de modelos solares Vela, lançada na feira Mido, em Milão.