O livro "Nação Empreendedora", de Dan Senor e Saul Singer, conta a história de como as startups de Israel desde o dia zero começam a pensar em sua internacionalização. Fundadas em um país pequeno, para elas não há alternativa para crescer a não ser o mercado externo.
No Brasil, a realidade é diferente. O gigantesco mercado interno faz com que a imensa maioria das startups pense quase que exclusivamente em atender o consumidor local. Há exceções, é claro. Mas elas ainda são a minoria.
Mas para a investidora nascida na Rússia e radicada nos EUA Olga Maslikhova, as startups brasileiras que quiserem captar investimentos mais altos com gestoras de venture capital daqui para a frente terão de colocar em seus business plan projetos de internacionalização.
“Acredito que as startups brasileiras vão se tornar globais por necessidade”, diz Olga. “Quando você não tem dinheiro em seu mercado local, precisa construir um negócio que possa ser financiado de forma global.”
Para ela, a expectativa é de que este movimento de expansão internacional seja feito principalmente por negócios que atuam com o fornecimento de ferramentas tecnológicas para outras empresas. “É muito difícil você construir uma solução hiperlocalizada de tecnologia. Então, você constrói algo escalável e aplicável”, afirma.
Olga, que é também apresentadora do podcast J Curve, que entrevistou os principais empreendedores da América Latina, tem em seu portfólio empresas como ClassPass e Vitalk.
Entre os dias 29 e 31 de março, ela estará no Brasil, onde será uma das palestrantes do South Summit Brazil, em Porto Alegre, evento no qual o NeoFeed é parceiro de mídia. “Já tenho diversas reuniões agendadas com fundadores que querem levantar capital”, diz Olga.
Em sua tese de investimento, Olga privilegia fundadores que tenham uma mentalidade focada em crescimento e habilidades de storytelling. “Se você não sabe como contar uma história, você também pode não saber como construir seus produtos”, afirma.
A capacidade de montagem de times também é analisada pela investidora, que gosta de investir em soluções de infraestrutura tecnológica. “São serviços de automação que podem ajudar as companhias a se concentrarem em seus negócios principais”, diz Olga.
Olga conta com um portfólio composto por 30 startups, a maior parte nos Estados Unidos e no sudeste asiático. Ela já realizou cinco saídas. As mais recentes envolveram as aquisições da americana ClassPass pela compatriota Mindbody e da healthtech brasileira Vitalk pela Gympass.
No Brasil, além do aporte na Vitalk, Olga já realizou outros quatro investimentos, sendo dois deles mantidos em sigilo. Os outros envolveram aportes na CloudHumans, que conecta empresas e profissionais autônomos de atendimento e vendas, e na Estoca, de soluções de fullfillment, que levantou US$ 6,1 milhões em fevereiro.
O interesse de Olga pelo mercado brasileiro deve-se a dois fatores. O primeiro está na similaridade aos Estados Unidos em relação ao hábito de consumo. “Estamos falando de uma população que é digitalmente ativa e que é um dos maiores mercados de redes sociais e de plataformas de vídeo”, afirma.
A outra questão diz respeito aos empreendedores. “Uma vez ouvi que cada empreendedor nos Estados Unidos em média enfrenta uma grande crise. No Brasil, eles enfrentam todas”, afirma. “Essa resiliência de continuar construindo algo mesmo em um ambiente turbulento impressiona.”
Por falar em crise, Olga acredita que o colapso financeiro do Silicon Valley Bank, que teve a falência decretada em 10 de março, foi um evento que ninguém poderia prever. “Acredito que este é um daqueles eventos que chamamos de “cisne negro”, diz ela.