Guilherme Benchimol, o CEO e fundador do grupo XP Investimentos, pisou no palco da plenária Expert Sessions, recebido como um popstar.
Ali no centro de convenções Transamérica Expo Center, na Zona Sul de São Paulo, onde acontece o Expert XP, maior evento de investimentos do planeta, mais de 10 mil pessoas escutaram atentamente o que Benchimol e seus sócios tinham a dizer sobre investimentos e os caminhos que a empresa pretende trilhar nos próximos anos.
Depois de falar ao público, de assistir a palestra do ministro da Economia Paulo Guedes e de acompanhar a apresentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a um seleto grupo de clientes e investidores, Benchimol recebeu o NeoFeed para uma entrevista exclusiva.
Na conversa, Benchimol discorreu sobre inovação, criptomoedas e startups, avaliou a atuação da equipe econômica, falou sobre o lançamento do Banco XP e também sobre a possível abertura de capital da empresa nos Estados Unidos.
Self-made man que criou um colosso financeiro a partir do zero, com R$ 275 bilhões sob custódia, ele afirmou que deve alcançar o primeiro R$ 1 trilhão até o fim do ano que vem. “Devemos terminar 2019 com R$ 420 bilhões sob custódia”, diz ele. Benchimol também deu dicas para quem está começando. Acompanhe:
A XP vai investir R$ 1 bilhão em incentivo para a rede de assessores. Qual é o impacto disso para o negócio?
É o de conseguir trazer cada vez mais novos assessores. E, quando trazemos esses assessores, o desafio é fazer com que eles tenham uma renda mínima até eles atingirem um tamanho razoável. Boa parte desse dinheiro tem a função de fazer essa ponte. Você é gerente do banco, sai do banco, monta a sua empresa e a gente ajuda a montar o seu escritório e vamos pagando um valor por cada conta aberta, independentemente do tamanho que ela tenha. Isso te ajuda a gerar uma renda que vai te fazer linkar os pontos até que, em um belo momento, você vai conseguir andar sozinho. Grande parte do dinheiro é usada nessa direção.
Vocês já faziam esse tipo de investimento?
A gente já fazia, mas se intensificou bastante. A gente começou o ano com 4 mil assessores. Estamos agora com 5,5 mil assessores e vamos terminar o ano com 7,5 mil. O nosso desafio é formar novos assessores e novos escritórios, e esse é um processo caro.
Quanto a XP tem hoje sob custódia?
São R$ 275 bilhões atualmente.
Quanto tem entrado por mês?
No mês de junho, entraram R$ 9 bilhões. Teve mês que entraram R$ 13 bilhões.
"Ativamos uma média de 100 mil contas por mês"
A que se deve esse crescimento exponencial?
Ativamos uma média de 100 mil contas por mês. Desse total, 70% das pessoas entram no site, se habilitam e se auto-atendem. Os 30% restantes vêm pelas mãos dos assessores. Só que eles trazem 50% do dinheiro que entra. Ou seja, abrem menos contas, mas trazem um tíquete médio muito maior. Então, quanto mais assessor você tem, quanto mais credibilidade você tem, quanto mais a economia ajuda, quanto mais os juros vão baixando e quanto mais o sentimento de confiança aumenta – o Ibovespa é um índice de confiança – aí você gera nas pessoas uma necessidade maior de sair do banco.
Também não se ganha com renda fixa como se ganhava antigamente...
Quanto menor os juros – e como o banco não reduz preço – pior fica para o cliente. Devemos acabar o ano com a taxa de juros em 5,5% ao ano e o banco cobra 2% ao ano. Com isso, o banco fica com 40% do ganho do cliente. Isso força o cliente a buscar algo mais eficiente. Se ele quiser ganhar o que ganhava antes, vai ter de aprender a assumir risco, a se diversificar, a pensar no logo prazo e o banco não é esse lugar.
Falando em novos investimentos, além de renda variável, vocês pensam em investir em fundos de venture capital?
Não temos fundos de venture capital próprios na nossa asset, mas vendemos fundos de terceiros. Não colocamos capital próprio nosso, mas é um produto que temos na prateleira. Não é que nem pão quente na padaria porque ainda não tem muito conhecimento, mas tem um público específico.
Fazem a alocação em quais fundos de venture capital?
Tivemos fundo da Redpoint eventures, da Bozano, fundos de longo prazo e fazemos a alocação para determinados clientes. Mas o convencional são os fundos de ações, os fundos multimercado, são as debêntures, os FIPs (Fundo de Investimentos em Participações) de infraestrutura. Isso tem mais tração.
E o mercado de criptomoedas. Depois da entrada do Facebook com a Libra, como você enxerga esse tipo de investimento?
O mercado de criptomoedas, de Bitcoin e companhia, não é uma moeda, é uma mercadoria, uma commodity. O Banco Central tem um problema para resolver. Mas diria que as criptomoedas têm 50% de chance de ser um sucesso muito grande. O que não fez elas serem tão expressivas é que o mercado ainda não conseguiu ter a mesma tração de um cartão da Visa, da Mastercard. O blockchain não processa na velocidade que essas bandeiras processam. Demora 10 minutos até mandar o Bitcoin e você sentir que te paguei. Isso gera desconfiança, isso dificulta um pouco. Mas a tecnologia está evoluindo e tem uma tendência no longo prazo.
"Demora 10 minutos até mandar o Bitcoin e você sentir que te paguei. Isso gera desconfiança, isso dificulta um pouco"
O Banco XP está para sair. Você pretende entrar no mercado de bancos digitais?
Não acreditamos que esse seja um bom negócio. Estamos focados em atender bem o cliente investidor. Queremos oferecer cada vez mais serviços para concentrar tudo com a gente. Para que possa cortar o cordão umbilical com os outros bancos.
Na sua apresentação, você disse que o Banco XP vai oferecer empréstimo colateralizado (empréstimo com garantia) a uma taxa de 0,68% mais o CDI. Isso já está definido?
Sim, isso já está desenhado.
Isso vai ter um impacto muito grande no mercado bancário. Você tem ideia do impacto?
Acho que o impacto no mercado será maior do que o que fizemos com investimentos. O spread médio de crédito no Brasil é 6% ao mês. Vamos emprestar a no máximo 1,2%. Dependendo do que você tiver de garantia, vai ser menor. E, quanto maior escala tivermos, menor vai ser esse spread.
"Acho que o impacto (dos empréstimos que o Banco XP fará) no mercado será maior do que o que fizemos com investimentos"
A abertura de capital está nos planos?
Está na esfera de pensamento ainda. O que fez a gente chegar até aqui é que fomos montando uma governança inteligente ao longo dos anos. Fomos jogando xadrez. Primeiro entrou a Actis (empresa de investimentos inglesa), no estágio inicial. Depois entrou a General Atlantic (empresa americana de private equity), depois veio o Itaú.
Então agora é a hora de abrir o capital?
Essa transformação de investimentos mundo afora já aconteceu. Sentimos que acessar esses investidores de longo prazo lá de fora pode ser um caminho para deixar a gente mais forte, mais inteligente.
Vai abrir o capital nos Estados Unidos?
Ainda não está no plano, mas, se acontecer, é algo que a gente pensa sim.
Como você avalia esse universo de startups?
Estamos de cabeça aberta para as startups. Mas construímos um modelo na empresa onde convivemos com mais de 50 startups, que são as squads. Então, em algumas vezes, é mais fácil criar uma startup dentro de casa do que fazer a integração com alguém de fora.
"Construímos um modelo na empresa onde convivemos com mais de 50 startups, que são as squads"
A empresa já se aclimatou a esse sistema de squads?
Já está implementado. Você entra na empresa, são dois andares e 50 startups. A gente já entendeu que não adianta ter aquele espírito de empresa grande com uma tecnologia única que suporta a empresa inteira. É melhor quebrar em pequenos silos, faz a pessoa ter mais sentimento de dono. Cada silo tem uma missão específica e funciona como startup, mas ela está dentro de casa.
Quando a XP vai atingir o primeiro R$ 1 trilhão sob custódia?
Vamos terminar esse ano com R$ 420 bilhões. Se o mercado ajudar, os juros baixarem e a Bolsa subir, eu acho que é possível alcançar R$ 1 trilhão até o fim do ano que vem.
Qual é a sua avaliação sobre a economia brasileira?
Vamos voltar a crescer, os juros vão cair, estou confiante com as reformas. Nunca vimos na história, o Brasil com juros de 5,5% ao ano. Isso estimula o empreendedorismo. Ainda mais com um governo com agenda liberal, tentando diminuir impostos, eliminar a burocracia. Estou muito otimista.
Você está otimista com as reformas?
Elas são necessárias. Se o Brasil não fizer a reformas, as contas públicas não fecham, os juros sobem, o dólar dispara e aí não saímos do lugar. Confio muito no Congresso e estou confiante que a reforma (da Previdência) será aprovada ainda em julho.
Como enxerga o trabalho do ministro Paulo Guedes?
Ele é uma pessoa com uma visão extraordinária, uma pessoa prática e com uma capacidade única de explicar as coisas. Muitas vezes, você pode ser um superintelectual e, se não tem a didática para explicar as coisas, você não chega a lugar nenhum. Ele tem a visão, é liberal e, no estágio atual do Brasil, ter alguém liberal, que possa destravar a economia e construir outros pilares, é extremamente importante. Não é à toa que a gente vai para os Estados Unidos e adoramos. Os Estados Unidos são sinônimo de país liberal e temos a chance de copiar um país que deu certo. Nos últimos anos, acabávamos nos inspirando em países que não davam certo, como a Argentina e a Venezuela.
"O Estados Unidos são sinônimo de país liberal e temos a chance de copiar um país que deu certo"
O ministro Paulo Guedes disse que vai trabalhar pela aprovação da autonomia do Banco Central. Qual é a sua avaliação sobre o tema?
Não existe outro caminho. O Banco Central tem que ser responsável por cuidar da inflação, conduzir a política monetária de forma que tenhamos a menor inflação possível. Usar o BC para fins políticos não tem o menor sentido. Se quisermos um país mais próspero, o caminho é esse.
Desde o início do governo Bolsonaro, os poderes legislativo e executivo têm trocado farpas. Isso não pode atrapalhar o andamento das reformas e mexer com a economia?
Isso faz parte do processo da democracia. Temos um Congresso com 513 deputados e cada um representa uma parte da sociedade. E, para aprovar as coisas, tem de ter negociação. Isso nunca vai mudar. Esse debate faz com que as ideias se aperfeiçoem.
A XP nasceu, em 2001, e você diz muito sobre sonhar grande, a exemplo do Jorge Paulo Lemann. Você sonhou que a sua empresa chegaria no patamar em que se encontra?
Nos sonhos a gente imagina tudo. Mas eu diria que esse sonho me surpreendeu. Para a gente, não sentimos tanto o impacto porque isso aqui é como um filho. Fomos vivendo um dia por vez. Minha filosofia é foco e melhorar um pouquinho a cada dia. Se você tem foco, melhora um pouquinho a cada dia e dá longo prazo, daqui a alguns anos está enorme. Chega uma hora e você tem uma curva exponencial para cima. O que fizemos foi isso. Estamos há quase 20 anos fazendo a mesma coisa, só que um pouquinho melhor.
"Nos sonhos a gente imagina tudo. Mas eu diria que esse sonho me surpreendeu"
Até por tudo o que construiu, você virou uma referência para os empreendedores brasileiros. Quais dicas daria para quem está começando?
Não pode ter medo de errar, mas tem que aprender a começar as coisas devagar. O que quebra o empreendedor é ele tomar mais risco do que consegue aguentar. Começar devagar, sentindo, te permite ficar mais maleável no começo, mudar de opinião. Empreendedor tem que mudar de opinião, empreendedor que é convicto demais quebra a cara. Ele tem que intensificar o projeto, tomar mais risco, botar mais dinheiro, e investir mais naquela direção se aquela direção estiver clara. Vejo muito empreendedor começando seu projeto grande demais. E, quando você começa grande demais, é caro interromper, é caro mudar de opinião e aí acaba tendo de ficar convicto por mais tempo, e aquilo te quebra. Então, é ter foco no longo prazo, não ficar ansioso no curto prazo, fazer essa curvinha de um pouquinho melhor a cada dia, mudando sempre de opinião, porque a cada dia você fica mais inteligente, e, se mantiver essa cultura, você chega longe.
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