As tensões comerciais entre Estados Unidos e China atingiram um novo patamar nesta segunda-feira, 5 de agosto. Depois de Trump anunciar um aumento de 10% nas tarifas a outros US$ 300 bilhões de bens chineses, Pequim respondeu com a desvalorização de 1,4% de seu câmbio. Agora, o dólar vale sete vez mais que o Yuan, patamar mais alto desde 2008.
A desvalorização da moeda da China acertou em cheio os mercados mundiais. A Down Jones Industrial Average caiu 900 pontos pela manhã e fechou numa baixa de 767 pontos, uma queda de 2,9%. Abrigo das empresas de tecnologia e internet, a Nasdaq também viu seus índices despencar, perdendo 278 pontos, uma baixa de 3,47%.
As ações da Apple e da IBM foram particularmente afetadas. Os papéis da Apple caíram mais de 5%, já que companhia, por fabricar os seus aparelhos em solo chinês, pode ser diretamente impactada pela guerra comercial entre os países. A IBM observou uma queda de mais de 4%.
Ações na Europa e na Ásia tampouco foram poupadas. A bolsa de valores japonesa caiu 1,74%, enquanto a de Paris e Londres anunciaram baixa de mais de 2%, Frankfurt, 1,8% e Madri e Milão, 1,3%. No Brasil, o Ibovespa caiu 2,51%, fechando em 100.098 pontos, menor patamar desde 25 de junho deste ano.
"Estamos vivendo um momento muito frágil da economia mundial, e tudo fica mais sensível com essa disputa entre Estados Unidos e China", afirmou ao NeoFeed o economista William Yu, professor da Universidade da Califórnia (UCLA), especialista em previsões econômicas.
Para ele, esse toma lá-dá-cá é só o começo de uma disputa sangrenta, que deve alterar para sempre a relação entre os países. "O crescimento da China, um dos mais impressionantes da história moderna, está profundamente ligado à abertura do mercado americano aos produtos daquele país. Era de se esperar que Pequim colaborasse de forma semelhante, o que não aconteceu", diz, reforçando ainda que a parceria entre as nações passou de estratégica para conflitante.
Toda essa agitação levou os investidores a considerarem opções mais seguras, como os títulos do Tesouro americano, que diante deste cenário viu seu rendimento cair de 1,85% para 1,73%.
Acompanhando atentamente cada movimentação, Yu considera as decisões de Pequim como um sinal de derrota. "A guerra ainda vai continuar, mas nesta batalha, pelo menos, a China está perdendo. Essa decisão de desvalorizar a própria moeda é devastadora", diz Pascualy.
Ainda de acordo com o especialista, o impacto dessa disputa não poupará o Brasil. "A desaceleração da economia chinesa afeta diretamente o Brasil, cuja exportação depende de Pequim. Vejo com bons olhos a tentativa brasileira de criar novos acordos comerciais com os Estados Unidos. Para mim, esse é o caminho", declara Pascualy.
"A que tudo indica, estamos longe de uma negociação, então estamos esperando mais volatilidades para os próximos dias", declarou ao NeoFeed a estrategista de crédito da PAAMCO, Putri Pascualy.
A guerra
Uma das plataformas de campanha do republicano Donald Trump, durante a corrida eleitoral em 2016, era equalizar relações comerciais que ele considerava injustas aos americanos.
Depois de eleito, o presidente dos EUA fez duras críticas ao governo de Xi Jinping, que não aceitou as investidas e apelos americanos. Em resposta, Donald Trump anunciou, em julho de 2018, um aumento de 25% das tarifas aplicadas em 818 produtos chineses, avaliados em US$ 34 bilhões.
Na sequência, foi a vez da China usar a mesma estratégia. Dias depois aplicou um aumento dos mesmos 25% das tarifas sobre 545 produtos americanos, também avaliados em US$ 34 bilhões.
Esse foi o primeiro round de novas tarifas de importação impostas entre os países, que tiveram algumas conversas ao longo desses anos, mas sem chegar a um resultado concreto.
Agora, pela primeira vez, fica claro que o controle do câmbio será usado como munição desta guerra comercial.