A agfintech Nagro acaba de captar uma rodada séria A com a Kinea Ventures, gestora que gere o fundo de corporate venture capital (CVC) do Itaú Unibanco, e com o Revolution, de Marcelo Peano, Jader Rossetto e Marcia Mello, um fundo focado em fintechs que tem Jorge Paulo Lemann e Marcelo Lacerda, ex-Terra e fundador da Magnopus, como LPs (limited partners).
Os valores da operação não foram revelados, mas o NeoFeed apurou que a rodada gira em torno de R$ 40 milhões. A Nagro, no entanto, já soma R$ 245 milhões captados em 2023. Os recursos incluem, além do equity, um Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais).
“A ideia é que os recursos venham reforçar nossa esteira de soluções ponta a ponta e para escalar todas as nossas soluções”, diz Leonardo Rodovalho, cofundador e COO da Nagro, ao NeoFeed.
Fundada em 2017 por Rodovalho e Gustavo Alves, que sentiram na pele as agruras de conseguir crédito quando eram produtores rurais, e Vinicius Dutra, que trilhou carreira na indústria de telecomunicações, a Nagro chamou a atenção dos investidores por simplificar a concessão de crédito no campo e por facilitar a análise dos riscos dos produtores.
Com uma oferta totalmente digital e com uso intensivo de inteligência artificial e machine learning na análise dos pedidos de crédito, a Nagro diz que consegue reduzir para 15 minutos um processo que, em grandes bancos, pode levar até 120 dias. E, caso a solicitação seja aprovada, o dinheiro entra na conta do produtor em até 24 horas.
Esta foi uma das razões que chamaram a atenção da Kinea Ventures. Segundo Philippe Schlumpf, gestor do CVC da gestora, a Nagro foi uma das primeiras companhias a serem acompanhadas desde que a frente de venture capital surgiu, em 2020, com foco em investir em fintechs.
“Desde o início da nossa iniciativa, buscamos mapear as teses que tem muito potencial de crescimento e tentamos construir a ponte com essas oportunidades dentro do banco”, diz Schlumpf. “E agro é uma tese em que apostamos muito. Acreditamos muito nessa visão de ecossistema promovida pela Nagro.”
Antes da Kinea Ventures e da Revolution, a Nagro já havia levantado R$ 6 milhões em 2021 com investidores-anjos, como Ariel Lambrecht, cofundador da 99, e com a gestora Kardinal.
Com os R$ 245 milhões levantados agora, a Nagro pretende expandir sua atuação na concessão de crédito para o agronegócio, de olho num público com faturamento de R$ 300 mil a R$ 50 milhões por ano. A palavra de ordem é escalar as duas frentes de atuação com os recursos.
Na parte de análise e monitoramento de risco de crédito, o plano é expandir o alcance e a capacidade da plataforma AgRisk. Ela é utilizada por 650 empresas, especialmente por aquelas que financiam suas próprias cadeias de produtores, como Mosaic e Fertilizantes Heringer.
Atualmente, mais de 500 mil produtores rurais já foram analisados pela plataforma AgRisk, cerca de 10% do mercado nacional. “Para o fim do ano, a gente tem mais 200 empresas que devem adotar a plataforma e estamos mirando, para 2024, chegar a 1,7 mil empresas utilizando a nossa tecnologia”, diz Rodovalho.
O segundo braço de atuação da Nagro é o crédito, em que realiza concessão de recursos através de dois Fiagros já levantados. A agfintech informa que já desembolsou mais de R$ 300 milhões em crédito para mais de 5 mil produtores rurais.
Com cerca de 500 solicitações por dia, a Nagro conta com linhas para atender todos os momentos da jornada do produtor, de capital de giro rápido a investimento em maquinário, com o tíquete médio variando de R$ 150 mil a R$ 5 milhões, com prazos de cerca de 11 meses.
Segundo Rodovalho, os recursos levantados na série A permitirão passar dos 5 mil produtores atendidos para 16 mil até o fim de 2024. “Temos a pretensão de triplicar o capital concedido de 2023 para 2024”, afirma Rodovalho.
Ao mesmo tempo em que se prepara para crescer, a Nagro espera uma melhora do cenário do agronegócio para reduzir a inadimplência do Nagro Ghia, seu principal fundo, com patrimônio líquido de R$ 117,5 milhões e foco em crédito pessoal aos produtores, sem exigência de garantias.
O relatório gerencial de julho mostra que a taxa de inadimplência alcançou 8,26% em julho, depois de fechar 2022 em 3,7%. Segundo Rodovalho, o aumento da inadimplência foi fruto de uma “tempestade perfeita”. Os efeitos do aumento da taxa básica de juros, a Selic, sobre o custo de capital, que acabaram repassados, se uniram à forte queda nas cotações das commodities, prejudicando o desempenho do fundo.
“A gente sentiu um ajuste muito forte, mas quando olhamos para a carteira da Nagro, pulverizada, com diversas culturas, vemos que foi uma questão pontual”, diz Rodovalho. “Quando olhamos para as nossas cotas, elas estão todas positivas, e hoje vemos a inadimplência num platô, com tendência de queda.”