No grand monde internacional, um velho ditado assevera que “quando um Rothschild começa uma coleção, ela sempre acaba se tornando um museu”.

A qualidade museológica do acervo particular da família Rothschild vai ser posta à prova entre os dias 11 e 13 de outubro, quando a filial novaiorquina da casa Christie’s realiza um megaleilão presencial de obras de arte, joias e mobiliários pertencentes ao ramo francês da dinastia bancária, adquiridos em boa parte pelo Barão James de Rothschild (1792-1868), por sua mulher, Betty (1805-1886), e pelo filho deles, o Barão Alphonse (1868-1949).

Segundo a Christie’s, a receita total das vendas deve bater a casa dos US$ 30 milhões. Os itens de maior valor são uma pintura de dimensões tímidas (37,8 X 53,2cm) – “A young woman holding a hare with a boy at a window” (jovem mulher segurando uma lebre ao lado de um garoto, à janela), do pintor holandês Gerrit Dou (1613-1675), um pupilo de Rembrandt – que a casa estima ser arrematada por US$ 3 milhões a US$ 5 milhões; e um par de poltronas Luís 15, com lances que devem variar de US$ 600 mil a US$ 1 milhão.

Uma das peças mais raras é um camafeu do fim do século 16 que retrata o imperador romano Cláudio, com lance final estimado entre US$ 200 mil e US$ 300 mil. Por coincidência, a peça já havia ido a leilão na Christie's, em 1875, em Londres.

Outra preciosidade é uma medalha francesa da Ordem de São Miguel, da primeira metade do século 16, com lances que devem variar de US$ 80 mil a US$ 120 mil. Esmaltado, o emblema tem diamantes, o que indicaria uma procedência nobre, e era provavelmente usado em chapéus. A Christie’s acredita que existam somente seis medalhas do gênero em todo o mundo.

Em entrevista ao NeoFeed, Jonathan Rendell, vice-presidente da Christie’s Americas, afirma que a maior parte dos itens que serão leiloados foram adquiridos na segunda metade do século 19 e estavam abrigados no Château de Ferrières, nos arredores de Paris, ou no Hôtel St Florentin, uma antiga mansão da família na capital francesa.

Segundo Rendell, a coleção reflete o gosto dos Rothschild naquela época, quando o ramo francês competia em seu acervo contra outros membros da família ou contra colecionadores de peso, como o banqueiro americano J.P. Morgan (1837-1913).

"A coleção reflete o gosto dos Rothschild naquela época, quando o ramo francês competia em seu acervo contra outros membros da família ou contra colecionadores de peso, como o banqueiro americano J.P. Morgan"

“O gosto muda com o tempo”, no entanto, afirma Rendell. Para ele, a decisão da família de colocar os itens à venda reflete uma mudança geracional, e sugere que nem mesmo os Rothschild querem viver como os Rothschild do século 19. Ainda assim, segundo ele, “como uma coleção do gênero raramente chega ao mercado hoje em dia, os colecionadores estão muito interessados no leilão”.

Quanto à decisão de realizar as vendas na Christie’s novaiorquina, e não na Europa – esta é a primeira vez que um certame com itens de acervo dos Rothschild acontece nos EUA –, Rendell justifica que a cidade é o “coração do mercado internacional de arte” e lembra que o ramo francês da família viveu no país durante a Segundo Guerra Mundial.

As peças do séc. 19: nem mesmo os Rothschild querem viver como o Rothschild daquela época
As peças do séc. 19: nem mesmo os Rothschild querem viver como o Rothschild daquela época

Nascido em 1744, em Frankfurt, na Alemanha, Mayer Amschel Rothschild foi responsável pela internacionalização das finanças da família, ao instalar seus filhos em grandes centros europeus como Londres, Paris, Viena e Nápoles.

Ao longo dos anos os negócios se vascularizaram, passando a incluir mineração, energia, agricultura, vinicultura, entre outros.

Ordem de São Miguel, da primeira metade do século 16: só seis no mundo

Em paralelo ao leilão presencial a Christie’s realiza, até 17/10, um certame online, de itens com lances iniciais de US$ 100 para móveis e objetos da coleção dos Rothschild. Entre eles está um par de porta-cardápios de prata vitorianos, estimados entre US$ 800 e US$ 1.200.

Também elas ajudam a entender melhor o gosto ímpar dos Rothschild, explicitado, afirma Jonathan Rendell, neste conjunto de obras de arte, móveis, joias e outros tipos de objetos que criam um “ambiente confortável, mas opulento”. Peças que, ainda em suas palavras, criam “um museu onde você pode morar”.