A turbulência no mercado de crédito corporativo não está restrita apenas ao Brasil. A Blackstone, uma gestora de investimentos alternativos com mais de US$ 1 trilhão sob gestão, contratou um escritório de advocacia conhecido por litígios de alto risco para tentar recuperar € 200 milhões de um empréstimo à concorrente Bain Capital.

Estimado em US$ 1,5 trilhão, o mercado de crédito corporativo tem o risco em sua essência. Mas para a Blackstone, faltou transparência na sua relação com a Bain, relata o Financial Times.

O caso que envolve a Blackstone remete a 2017, quando a Bain adquiriu a Fintyre, uma fabricante italiana de pneus que entrou em colapso três anos mais tarde. Para transformar a Fintyre no maior grupo de pneus da Europa, a Bain captou mais de € 200 milhões com a Blackstone em financiamento de dívida para o negócio.

Uma combinação de capital da Bain e dívida da Blackstone deveria turbinar o crescimento da Fintyre, ajudando a empresa a adquirir concorrentes em toda a Europa.

O plano funcionou no início. Em 2019, as aquisições da La Genovese Gomme, sediada na Sardenha, e da empresa alemã Reifen Krieg duplicaram as receitas para quase € 900 milhões, de acordo com documentos da empresa que afirmavam que Fintyre estava em boa saúde financeira.

O colapso da Fintyre, menos de um ano depois, foi uma surpresa para os credores, que normalmente têm a oportunidade de fornecer novos financiamento para resgatar uma companhia e evitar a falência.

O desaparecimento do grupo italiano de pneus acabou com o investimento da Bain, algo comum na indústria de private equity e crédito privado. No entanto, a Blackstone argumenta que o C-Level da Bain não foi totalmente transparente no período que antecedeu a insolvência.

Três anos depois da falência da empresa, a Blackstone ainda tenta recuperar o seu investimento. Para isso, contratou o escritório Pallas Partners para avaliar se pode apresentar ações contra a Bain Capital e outras partes sobre o colapso da fabricante italiana de pneus.

Fundada em 2022, a Pallas trabalha em disputas de alto nível e atualmente representa dois grupos de detentores de títulos do Credit Suisse que foram eliminados pela aquisição do banco pelo UBS em março.

O acordo para financiar a Pallas, fundada por um grupo de ex-advogados da Boies Schiller, faz parte de uma investigação mais ampla liderada pela unidade de reestruturação da empresa de consultoria Teneo, que foi nomeada pelos tribunais para lidar com a liquidação da Fintyre.

A Teneo, que está sendo assessorada por Pallas, está explorando se pode mover ações contra os diretores da Fintyre – que incluem executivos da Bain Capital – por suas ações antes da insolvência da empresa.

A Blackstone, Bain Capital, Pallas e Teneo não quiseram comentar o caso ao Financial Times.