A não ser que o executivo seja um jabuti colocado em cima de uma árvore, ele começou a vida corporativa por baixo. Foi aprendiz, estagiário, analista, não importa o nome do cargo, olhava para cima com admiração, desejo e confiança.

Além de carregar os ingredientes que fazem uma carreira alavancar, tinha a fome de cada dia, nada de conformismo. E sonhava. Óbvio que, sem sonhos, nenhuma carreira acontece. Baseava-se em Victor Hugo. “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”.

Adorava aprender, uma criança na vida empresarial, sempre perguntando, sempre com dúvidas, curiosidade infinita. Tinha a ambição de aprender com seus próprios erros e melhor ainda, com os acertos dos outros.

Esforçava-se acima das expectativas, era obstinado em seus objetivos. E fazia do caminho a sua gratificação, alimentando assim a sua força de vontade. Não tinha tempo ruim.

Cultivava as relações, as pessoas como a mais importante coisa da vida. Entendia que amigos não são feitos, são reconhecidos, como já dizia Vinicius de Morais.

Tinha a humildade como uma crença, um mantra, sabia que era mortal, ou seja, era uma pessoa normal e simples. E, fundamental, valores sustentavam tudo, o cérebro, o coração, o fígado e o bolso.

Daí, virou um alto executivo, pois uma trajetória pautada nos pontos acima nunca dá errado.

Mas, ao chegar no topo outros riscos se aproximam. O maior deles é o Alzheimer corporativo. É aquela doença que afeta muita gente de sucesso, especialmente executivos, que perdem a memória dos primeiros dias.

Passam a tratar os subordinados e os iniciantes com desdém, menosprezo. Passam a ter medo de errar e de sonhar, não precisam aprender mais nada, abusam das relações, se transformam nos donos da razão e viram o João sem braço da empresa. Arrogantes e idiotas!

“Passam a tratar os subordinados e os iniciantes com desdém, menosprezo”

Se você conhece alguém assim, que teve sucesso e ficou arrogante, aproveite para observá-lo bem, pois pessoas assim estão em liquidação e vão cair rápido. Se você conhece alguém que já é arrogante no início da carreira, nem perca tempo, pois estes não vão cair, simplesmente porque nem vão subir.

Lembre que, por certas pessoas, perdemos a cabeça, por outras perdemos o coração e por algumas só perdemos tempo mesmo.

Tudo isso acima só para fazer um apelo a você. À medida que sua carreira está dando certo, que você está no caminho de virar um alto executivo, preste atenção.

Sua carteira deve mudar, seu patrimônio deve mudar, sua mentalidade de gestão e de negócios deve mudar e evoluir, mas nunca, nunca deixe que o Alzheimer corporativo te atinja.

Sua essência e seu coração não podem mudar. Lembre todo dia, nas suas meditações, nas suas preces, nos seus sonhos, de ser na essência a mesma pessoa que você era no início da carreira.

“Sua essência e seu coração não podem mudar. Lembre todo dia de ser, na essência, a mesma pessoa que você era no início da carreira”

Se você está fazendo uma carreira de sucesso, parabéns! Mas ela só é sustentável se você tiver a total consciência de que não está se tornando melhor do que ninguém, você está apenas se tornando melhor do que você mesmo, todos os dias.

Tendo isso em mente e parafraseando J. D. Salinger, você vai ser um paranoico ao contrário, vai ver que o mundo inteiro está conspirando a seu favor.

*Leonel Andrade foi CEO da Smiles, Credicard e Losango Financeira. Atualmente, é membro do Conselho de Administração da BR Distribuidora e da Lojas Marisa. Também faz palestras sobre gestão de pessoas e negócios.

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