Há um ano, o martelo foi batido na sede da B3, em São Paulo, colocando um ponto final no leilão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). E dando início a um calendário de projetos que promete atrair aportes bilionários em concessões de saneamento nos próximos anos.
Ao arrematar um dos quatro blocos, por R$ 7,2 bilhões, a Iguá Saneamento foi uma das vencedoras do certame. E se consolidou como um dos nomes no pelotão de frente do setor, ao duplicar seu tamanho, para 18 operações, em 40 cidades de 6 estados, com uma base de 7,2 milhões de usuários.
Uma volta à B3, dessa vez, para um IPO que ajude a financiar sua expansão, não está descartada pela no médio prazo. Mas enquanto espera uma janela favorável, a Iguá segue com bastante apetite para alcançar a meta de quadruplicar sua operação até 2023. Agora, porém, com um olhar mais seletivo.
“Nós já batemos metade dessa meta em 2021. Mas depois que vencemos o bloco 2 no Rio e agregamos mais de 1 milhão de usuários, estamos fazendo um filtro maior”, diz Carlos Brandão, CEO da Iguá, ao NeoFeed. “Para nós, faz mais sentido agora olhar para operações de maior porte.”
Na nova equação da Iguá, a prioridade serão as concessões e parcerias público-privadas em cidades com população a partir de 100 mil a 150 mil habitantes. Mais abrangente, o espectro anterior envolvia projetos em municípios a partir de 20 mil a 30 mil moradores.
“Qualquer concessão, grande ou pequena, demanda o mesmo nível de preparação”, explica Brandão. “Mas as grandes concessões têm um potencial de equilíbrio econômico-financeiro muito maior.”
A partir dessa régua, o executivo destaca alguns dos leilões e PPPs no radar da Iguá. A lista contempla a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), e os serviços de água e esgoto em Porto Alegre (RS) e Porto Velho (RO).“Só esses projetos envolvem investimentos entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões em investimentos”, diz Brandão.
Essa conta não inclui outro projeto no qual a Iguá também está de olho: a Companhia Riograndense de Saneamento, estatal gaúcha que estuda uma abertura de capital. Ele ressalta que os dois requisitos para participar de qualquer projeto são segurança jurídica e a modelagem econômica. “Caso eles sejam atendidos, podemos participar de PPPs de água, de esgoto, com ou sem operação comercial e concessões plenas e parciais”, observa.
A partir do Marco Legal do Saneamento, em vigor desde julho de 2020, o horizonte de projetos do setor é ainda mais extenso. Um estudo da KPMG e da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), estima que as novas concessões irão demandar um aporte de R$ 700 bilhões até 2033.
Nesse mesmo intervalo, a GO Associados e o Instituto Trata Brasil projetam uma injeção de R$ 520 bilhões, montante que também está atraindo players como a Aegea, que arrematou dois blocos da Cedae; a Águas do Brasil, que ficou com o bloco restante; e a BRK Ambiental.
Para seguir nessa disputa, a Iguá tem uma série de opções na mesa. A começar pelos sócios da operação, um time que, além da controladora IG4 Capital, inclui a Alberta Investment Management Corporation, o Canada Pension Plan Investment Board e o BNDESPar.
“Todos os nossos sócios confirmam, reiteradamente, o interesse em seguir alocando recursos na operação”, diz Brandão. “E o mercado de capitais, incluindo um IPO, é sempre uma outra opção para captar.”
Outro formato que começa a ganhar força como alternativa são os green bonds. Há três meses, a Iguá obteve a certificação do Climate Bonds Standard para o primeiro título verde de infraestrutura hídrica na América Latina, emitido em 2020 pela companhia. Os R$ 880 milhões captados irão financiar os aportes nas concessões de Cuiabá (MT) e Paranaguá (PR).
Ainda em fevereiro, a empresa anunciou o encerramento da fase de operação assistida e o início da operação plena do bloco da Cedae. A concessão engloba os bairros da Barra da Tijuca, de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e os municípios de Miguel Pereira e Paty do Alferes. “Já temos o funding necessário para todas as nossas operações atuais, incluindo o Rio”, conta Brandão.
Última milha
Se além dos seus limites a Iguá restringiu seu olhar, internamente, a empresa busca ampliar seu horizonte. Em janeiro de 2022, a companhia abriu um canal para que todos os funcionários sugerissem projetos, de iniciativas incrementais a ações de maior fôlego.
O saldo da estratégia, batizada de Move Iguá, foram mais de mil inscrições, das quais cerca de 230 projetos foram selecionados. A partir desta semana, eles passarão a ser implementados e a perspectiva de ganharem tração nos próximos dois anos.
“Estamos dando mais autonomia para a turma da ponta e temos iniciativas de todos os tipos, que afetam receita, custos, investimentos e capital de giro”, diz Brandão. “Estamos construindo um botton up a partir da base da pirâmide, que deve adicionar centenas de milhões de reais à nossa operação.”
Um dos primeiros projetos já “na rua” envolve medidores inteligentes nas casas de consumidores. Os equipamentos, que permitem a leitura e o monitoramento, em tempo real, dos dados de consumo individualizados de água, já estão sendo instalados em toda a área de cobertura da Iguá.
Além de proporcionar maior visibilidade e controle sobre perdas nesses sistemas, a tecnologia abre espaço para a oferta de serviços atrelados ao negócio principal da Iguá e novas receitas, um indicador no qual a empresa reportou alta de 41,6% em 2021, para R$ 1,05 bilhão.
“Vamos trabalhar mais a última milha dentro da casa do cliente oferecendo, por exemplo, serviços de limpeza de caixa d'água ou de caça vazamentos”, explica Brandão. Esses serviços e outros recursos serão incluídos, gradativamente, no aplicativo que vem sendo testado pela Iguá.
Lançado como um minimum viable product (MVP), o aplicativo já está sendo usado por 20% da base de usuários da empresa. Além da venda de serviços, ele vai permitir os consumidores tenham interação com a companhia, incluindo segundas vias de contas e contestações de faturas.
Entre outros projetos em andamento, a Iguá também está reforçando o foco na agenda de ESG, com iniciativas como a busca da obtenção do certificado de Empresa B. E está revisando seu modelo de atuação em inovação, o que inclui possíveis novos formatos de aproximação com as startups.
“Estamos discutindo a criação de um espaço nosso, semelhante ao Cubo, do Itaú Unibanco”, diz Brandão. “E outra possibilidade é a criação de um corporate venture capital.”