Quando foi convidado para representar o Brasil na 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza, o arquiteto croata naturalizado brasileiro Marko Brajovic ficou maravilhado com a chance de mostrar para o mundo uma visão positiva e construtiva da Amazônia.

Marko foi procurado pelo assistente do próprio libanês Hashim Sarkis, arquiteto, acadêmico e curador do evento, que lhe pedia para propor soluções arquitetônicas junto à questão “Como Viveremos Juntos?”, um chamado global para resolver problemas atuais como desigualdade econômica e desequilíbrio ambiental.

E, assim, o arquiteto materializou, por meio da exposição tecnológica "Amphibious - vivendo entre a água e a terra na Amazônia”, à mostra até 21 de novembro no Pavilhão Central (Giardini), seus nove projetos em andamento na região brasileira, apresentados com pesquisas e maquetes como joias da natureza. Entre eles, o Mirante do Madadá, um hotel espetacular em construção em meio à selva.

Ninguém melhor do que Marko para tratar do tema. Nascido em Montenegro, se formou na Universidade de Veneza (IUAV), fez mestrados em Barcelona e dedicou-se a um trabalho minucioso de traduzir a natureza para a linguagem da arquitetura.

“Comecei a me expressar e a entender a natureza através do processo criativo nas minhas viagens de pesquisa do bambu no Japão e na Costa Rica”, lembra. Desembarcou pela primeira vez no Brasil em 2005. Mais precisamente na Amazônia, para ministrar um workshop de arquitetura. “Me senti no líquido amniótico do universo.”

Logo foi convidado para se fixar por dois anos no País como diretor do departamento de Design do Istituto Europeo di Design (IED) no Brasil. “Dois anos aqui podem virar 15 facilmente”, brinca o arquiteto. Abriu escritório em São Paulo, casou-se com uma brasileira, teve filhos e fez do Brasil o seu lar. Trabalhos icônicos de seu ateliê incluem a Casa ARCA e a Casa Macaco, ambas em Paraty, em meio à Mata Atlântica.

Com a Amazônia, travou uma ligação de alma e passou a desenvolver desde projetos comissionados de escolas comunitárias até uma biblioteca flutuante e um museu - todos centrados na conexão do ser humano e do ecossistema natural e cultural através do design.

O hotel ficará em frente ao Parque Nacional de Anavilhanas.

“A Amazônia é o meu templo, o lugar onde me inspiro, um imenso laboratório de design. Lugar do futuro, de grandes conhecimentos e comunidades ancestrais, em constante mutação, uma metáfora do mundo atual.”

A proposta para projetar o primeiro hotel de sua carreira, o Mirante do Madadá, veio por obra do destino. Há cerca de três anos, enquanto navegava pelo Rio Negro com a família, próximo ao município de Novo Airão (AM), Marko avistou uma construção curva que achou interessante. “Parei o barco e saí de lá caminhando com as crianças praticamente invadindo o lugar.”

Era o hotel Mirante do Gavião, que integra o núcleo de ecoturismo da Expedição Katerre, comandado e idealizado pelo empresário paulistano Rui Carlos Tone. “Passamos a tarde juntos, ele me levou para conhecer a Fundação Almerinda Malaquias (ONG que promove educação ambiental junto à comunidade) e os artesãos. A partir daí nasceu uma amizade intelectual”, lembra.

Pouco tempo depois, veio o convite para criar o novo lodge de Rui na selva. Previsto para inaugurar no Réveillon de 2022/2023 e com investimentos estimados em R$ 10 milhões, o hotel ficará em frente ao Parque Nacional de Anavilhanas.

“A inspiração para este projeto nasceu do próprio local. Na primeira visita, dormimos em redes, com o coração aberto e puro para sentir o lugar. Estando lá, tive as primeiras intuições, comecei a observar as plantas e a catar as sementes, flores e folhas. Em um segundo momento fomos encontrar cada lugar de cada arquitetura caminhando juntos, buscando uma identidade e conexão com cada um dos ambientes”, descreve.

O arquiteto Marko Brajovic - Foto: Victor Affaro

O resultado são vários módulos e estruturas leves que brotam como casulos e sementes na floresta. “Nasceram aí as tipologias horizontais, que olham para o horizonte, as verticais, que olham a floresta, e as interconexões entre elas.” A entrada para o complexo será feita pela Casa Coletiva, aberta de um lado para o rio, de onde é possível apreciar o nascer do sol, e do outro para a mata.

Reunirá recepção, bar, restaurante, lounge, espaços expositivos e a piscina de borda infinita. Serão 12 acomodações, além da Casa de Cura, dedicada a práticas de ioga, encontros com representantes indígenas da região ou, simplesmente, para receber uma massagem.

“Esse espaço de cura é inspirado no formato da flor vitória-régia, que muda de cor durante a noite. É o luxo máximo de experiência e de você se conectar com o seu círculo (as pessoas com quem você vai viajar) e também com todos os outros seres nessa floresta.”