As NFTs ganharam um espaço considerável no mundo dos negócios nos últimos anos. Tanto que empresas como Nike, McDonalds e Spotify investiram no ativo digital. Até mesmo celebridades do esporte e da música entraram na onda.

Mas a euforia em torno dos tokens não-fungíveis parece ter diminuído. De acordo com dados da OpenSea, uma das principais plataformas utilizadas para a negociação de NFTs, e compilados pelo Dapp Radar, o volume diário de transações vem caindo.

Neste domingo, 11 de setembro, o volume transacionado na plataforma foi de US$ 8,6 milhões. A cifra está bem distante do pico registrado em 30 de abril deste ano, quando foram negociados US$ 405 milhões em NFTs.

No segundo semestre deste ano (até o dia 11 de setembro), a média diária de movimentação atingiu US$ 11,9 milhões. No mesmo período do ano passado, a média diária era de US$ 64,6 milhões.

O reflexo de menos negócios é que o valor de alguns ativos está também em queda. Um exemplo é o token da coleção Bored Ape Yacht Club. Em janeiro deste ano, o jogador de futebol Neymar pagou 159,99 ETH (Ether) em uma das figurinhas da coleção, de acordo com registros da OpenSea. Na época, isso era o equivalente a US$ 479 mil.

Caso alguém queira adquirir o ativo que pertence ao jogador, é possível fazer uma oferta dentro da plataforma da OpenSea. Atualmente, a maior oferta feita foi de 68,5 ETH (o equivalente a US$ 109 mil na cotação atual).

Para piorar a conta, é preciso considerar que as NFTs estão sujeitas a variação do mercado de criptomoedas. Na época em que realizou a compra do NFT, cada unidade de moeda ETH custava pouco mais de US$ 3 mil. Na cotação atual, cada ETH é vendida por cerca de US$ 1,6 mil.

Outro exemplo é a Nike lançou, no fim de abril deste ano, uma coleção de calçados em NFT composta por 20 mil tokens. Adquiridos rapidamente, os ativos já foram colocados para revenda em plataformas como a OpenSea no mesmo dia. Um dos sneakers virtuais chegou a ser ofertado por US$ 585 mil no mercado secundário.

Naquela época, o token mais barato na plataforma era vendido por 1,6 ETH, o equivalente a US$ 4,8 mil na época e US$ 2,5 mil na cotação atual. Atualmente, é possível encontrar tokens da coleção a venda por 0,5 ETH, algo em torno de US$ 801 na cotação atual.

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É difícil apontar um motivo específico para explicar o que está por trás da queda no volume e da desvalorização de alguns ativos NFTs. A principal razão, no entanto, parece ser de ordem macroeconômica.

“Enquanto a taxa de juros americana sobe, os ativos em geral, desde os commodities até o mercado de cripto, tendem a sentir o baque”, diz Robson Gonçalves, economista e professor de MBAs da FGV.

Para combater a inflação que atingiu patamares históricos nos Estados Unidos, o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) tem aumentado a taxa de juros no país. Em julho, elevou a alíquota para entre 2,25% e 2,50%. Até o fim do ano, o mercado financeiro aponta possibilidade de a taxa superar o patamar de 4%.

“Em um momento em que os bancos centrais aumentam juros para combater a inflação, há redução no apetite dos investidores por risco”, diz Alessandra Montini, que é diretora do LabData, da FIA Business School. “O mercado de NFTs entrou em colapso junto com as criptomoedas, que normalmente são usadas para pagar os tokens.”

O preço das principais moedas digitais registrou forte queda nos últimos meses. O valor do Bitcoin caiu de US$ 47 mil para US$ 20 mil desde o começo do ano. Já o Ether passou de US$ 3,7 mil para US$ 1,6 mil no mesmo período.

O curioso é que os três dos quatro dias com o maior volume diário de transações de Bitcoin neste ano foram registrados na semana passada. O recorde veio nesta terça-feira, quando mais de US$ 9,2 bilhões já foram movimentados até as 18 horas, segundo dados do CoinMarketCap.

O que explica a discrepância entre a volatilidade nos volumes transacionados diariamente de Bitcoin, que é a principal criptomoeda do mercado, e tokens não-fungíveis é a maturidade de cada ativo. “Mercados muito jovens, como NFTs, vão oscilar com uma intensidade maior”, diz Gonçalves.