Na tese de investimento da GK Ventures, gestora de venture capital fundada por Eduardo Mufarej, os aportes seriam direcionados para três áreas: saúde, educação e mudança climática. Depois de injeções de capital em startups como Zenklub e Rehagro, agora chegou a vez do ex-sócio da Tarpon, ex-CEO da Somos Educação e fundador do RenovaBR atacar a terceira vertente.

Nesta terça-feira, 14 de junho, GK Ventures anunciou um aporte de R$ 30 milhões na operação da Negócios Verdes, holding criada neste ano que incorpora as empresas Rolth do Brasil e Sulminas. Ambas são especializadas em processos de reaproveitamento de resíduos das indústrias de siderurgia e mineração.

O investimento foi feito por meio de um consórcio que engloba ainda os investidores Daniel Goldberg, ex-presidente do Morgan Stanley no Brasil, e Marco Kheirallah, ex-BTG Pactual e sócio-diretor da SIP Capital. O trio passa a controlar 36,69% da holding.

O restante das ações pertence à família Atalla, do empresário Jorge Rudney Atalla, que morreu em 2018, e era conhecido por ter fundado a cimenteira Ciplan – que teve 65% da operação vendida para o grupo francês Vicat no mesmo ano por 290 milhões de euros.

Em seu primeiro investimento de olho na questão climática, a GK Ventures quer começar pela indústria siderúrgica que, em 2019, gerou 75 milhões de toneladas de gases de efeito estufa no Brasil com a produção de metais e minerais, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima. Isso é o equivalente a 3,4% das 2,2 bilhões de toneladas de gases emitidas naquele ano.

A expectativa agora é conseguir reduzir esses números com o uso de tecnologia. “O foco está na descarbonização dos processos produtivos”, diz Thomaz Pacheco, sócio da GK Ventures, em entrevista para o NeoFeed. O dinheiro do aporte será utilizado para o reaproveitamento de resíduos minerais através de técnicas diferentes que são administradas pelas duas empresas da holding.

A Rolth trata de escória de aciaria, resíduo obtido a partir da produção do aço e que é armazenado em pilhas nas unidades de produção das grandes empresas. “O fato é que, em escala global, não existe destinação adequada para este rejeito”, diz Pacheco. Pelo menos até agora.

Thomaz Pacheco, sócio da GK Ventures

A Rolth do Brasil patenteou uma técnica em que transforma o resíduo em subprodutos revendidos para a indústria siderúrgica ou para sucateiros. Tratados, os resíduos podem ser utilizados para produzir concreto. Outro destino é a produção de fertilizantes, já que os resíduos contam com óxido de cálcio e magnésio.

Ainda em estágio pré-operacional, a companhia já firmou um contrato para atender a operação da unidade de Resende, no Rio de Janeiro, da ArcelorMittal. A companhia com sede em Luxemburgo é uma das gigantes do setor siderúrgico e tem valor de mercado superior a US$ 25 bilhões.

Já o negócio da Sulminas, por sua vez, é voltado para as rochas ornamentais. Explica-se: a produção de pedras como granito e quartzito, por exemplo, acaba gerando resíduos dessas rochas. A empresa tritura esses resíduos e os transforma em areia de sílica, material que é utilizado na produção de vidro e na construção civil.

Neste caso, além de impedir que os resíduos não sejam aproveitados, o processo também permite diminuir a exploração da própria areia de sílica, que é obtida através da extração em rios. “Ao mesmo tempo em que resolve um problema, isso também cria uma alternativa para uma indústria super poluente”, diz Pacheco.

Comandada pelo CEO Jorge Attalla Neto, a Negócios Verdes representa a primeira aposta da GK Ventures com seu fundo de R$ 400 milhões numa empresa que atua diretamente no controle das mudanças climáticas.

No total, a GK Ventures já alocou 15% do fundo nos investimentos. Segundo Pacheco, a expectativa é alocar entre 40% e 50% do capital comprometido do fundo neste ano. Numa conta rápida, isso resultaria em investir mais entre R$ 100 milhões e R$ 140 milhões. Alguns negócios já estão no radar, nas três áreas de atuação da gestora.

Por ora, nomes ainda são mantidos em sigilo. O que se que se sabe caso sejam investimentos nas áreas de saúde e educação, a tendência é de que os cheques variem entre R$ 50 milhões e R$ 75 milhões. Para startups que atuam com mudanças climáticas, o valor tende a ser menor: entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões.

Assista entrevista de Eduardo Mufarej, da GK Ventures, ao Café com Investidor: