No ano passado, a Iguá Saneamento, empresa com atuação em 37 municípios em cinco estados, fez alguns movimentos ousados, mas todos bateram na trave. Participou de três leilões, Cariacica (ES), Casal (AL) e Sanesul (MS). Chegou perto, porém, não levou nenhum.
A Iguá também se preparava para abrir seu capital. Quando estava para listar suas ações, desistiu porque a empresa não conseguiria atingir o valuation desejado. Mais uma vez, na trave. Agora, a companhia deverá dar alguns dos passos mais ambiciosos de sua história.
Em dezembro, a Iguá retomou o processo de abertura de capital e, nos próximos dias, decidirá se vai, de fato, fazer um IPO, optará por um sócio privado ou caminhará com as próprias pernas. São decisões cruciais para a onda de licitações que virá pela frente. Em especial a da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).
“O nosso plano é triplicar ou quadruplicar a nossa empresa nos próximos dois a quatro anos”, diz Carlos Brandão, CEO da Iguá Saneamento, ao NeoFeed. E isso passa, obviamente, pelo crescimento inorgânico. “A Cedae vai ser a estrela deste ano de 2021. Mas haverá outros processos como em Porto Alegre, Orlândia, Petrolina. Tem Acre e Amapá que ainda não sabemos quando vai ser. E a segunda parte de Alagoas”, afirma Brandão.
Apesar das várias opções na mesa, a companhia tem focado sua energia no certame da Cedae, que acontecerá no fim de abril e movimentará R$ 10,6 bilhões em outorgas. Quem levar a Cedae para casa, terá uma concessão para serviços de água e esgoto em 35 municípios do estado do Rio de Janeiro e atenderá 12 milhões de pessoas.
A Iguá, que atualmente atende 6 milhões de pessoas, triplicaria de tamanho com essa operação. “No caso da Cedae, estamos muito engajados. Temos assessores trabalhando conosco. No lado financeiro, estamos com BTG Pactual e Bradesco BBI; no lado técnico, a Worley; no jurídico, com o Mattos Filho. Desde novembro, estamos trabalhando no processo”, diz Brandão.
Para ir para cima da companhia, contudo, a Iguá, cujos dados preliminares apontam para uma receita estimada de R$ 700 milhões e Ebitda de R$ 300 milhões em 2020, terá de buscar capital. “A questão do IPO está diretamente associada ao nosso plano de expansão por meio de crescimento inorgânico”, diz Brandão. Até 19 de janeiro, a empresa decidirá se caminhará rumo a abertura de capital.
Nas contas do executivo, o valuation da Iguá está entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,5 bilhões. Se não estiver nesse patamar, a empresa pode recuar novamente. Mas não é algo que deva acontecer. “Vai depender de como o mercado está precificando a empresa e, se a gente convergir, acaba sendo uma etapa natural”, diz Brandão.
O NeoFeed conversou com profissionais do mercado de capitais que revelaram o grande interesse pela companhia. “O saneamento é um dos temas mais sedutores da bolsa. Faltam boas empresas de infraestrutura e o mercado tem interesse na Iguá”, diz o executivo de um banco de investimentos. “A tese da Iguá é que ela será uma das grandes vencedoras do setor.”
Caso o IPO não aconteça, a empresa pode optar por outros caminhos. “Ela teria uma longa estrada de M&As pela frente”, diz um banqueiro que conhece a operação. “Mas, para estar pronta para quantidade de licitações que vêm pela frente, o melhor caminho seria a bolsa.”
Brandão, da Iguá, confirma que existem outras cartas na manga. “Em paralelo, temos outros processos que correm, com fontes alternativas de investimento para viabilizar o crescimento”, diz ele. Novos sócios ou parcerias fazem parte da agenda.
Em novembro do ano passado, o jornal Valor Econômico publicou que o fundo de pensão canadense CPPIB (Canada Pension Plan Investment Board) estaria negociando a compra de uma participação bilionária na companhia. Entre os vendedores estariam o Bradesco e o fundo Cyan, donos de cerca de 30% da Iguá.
Como é o controlador da Iguá, o private equity IG4 Capital, do empresário Paulo Mattos, tem o poder de vetar ou aprovar qualquer operação. Indagado sobre a proposta, Brandão, que também é sócio do IG4 Capital, não comentou. Disse apenas que busca “bons perfis de acionistas alinhados com a indústria, com a nossa mentalidade e que apoiam o nosso estilo de gestão.”
Pioneira
A companhia foi a primeira do setor a fazer uma emissão de debêntures de infraestrutura sustentáveis. Em agosto do ano passado, ela captou R$ 880 milhões. Esse dinheiro será usado para investir nas operações da empresa em Paranaguá (PR) e em Cuiabá (MT), que demandarão um total de R$ 1 bilhão nos próximos quatro anos. Caso necessite de mais capital, a Iguá poderia emitir outras debêntures.
Parcerias com outras companhias do setor também são cogitadas. A Iguá já tem algumas operações em conjunto com a Sabesp. No leilão da Casal, por exemplo, ela fez a proposta em conjunto com a companhia paulista. No fim, as duas acabaram perdendo para a BRK Ambiental, que pagou R$ 2 bilhões pela operação.
A preparação da Iguá para as novas licitações vem a reboque do novo Marco Legal do Saneamento Básico, aprovado em junho e sancionado em julho do ano passado. Isso abre uma grande avenida para investimentos em infraestrutura, com mais segurança jurídica.
Cerca de 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água potável e metade da população não tem esgoto tratado. Para mitigar esses números vergonhosos, o plano é universalizar os serviços até 2033.
Até lá, 99% da população deverá ter água tratada e 90% terá coleta e tratamento de esgoto. “É uma meta muito ambiciosa, difícil de ser cumprida”, diz Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec Rio de Janeiro.
Mas que será turbinada com a entrada das empresas privadas. “Hoje, somente 6% do sistema é administrado por companhias privadas”, diz Braga. Com a entrada mais forte delas, espera-se uma enxurrada de investimentos.
De acordo com um novo estudo elaborado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados, para que os serviços sejam universalizados, precisarão ser investidos R$ 520 bilhões até 2033. Analistas apontam que mais de 700 mil empregos sejam gerados nesse processo.
Foi por conta dessa mudança de patamar e de perspectiva para o setor que Brandão assumiu a companhia, em julho do ano passado, substituindo a Gustavo Guimarães. “Mudou de uma gestão voltada para o turnaround, restruturação de dívida, para uma gestão focada em crescimento”, afirma Brandão.
O executivo tem focado em quatro pilares: crescimento via novos negócios, uma nova estrutura unificada para a área regulatória, alocação de capital e inovação e sustentabilidade.
Na parte de inovação, aliás, a companhia tem passado por uma revolução. “A inovação entra em uma série de camadas. Aplicativos, ferramentas para gerenciamento, contestações de conta, cortes e ligações. Implementamos o NPS”, diz Brandão, referindo-se também ao índice de reputação junto aos clientes.
Além disso, por meio do Iguá Lab, uma incubadora de startups, a companhia tem acesso às tecnologias que são desenvolvidas por essas empresas. “Você apoia trinta empresas e cinco delas podem inventar algo que pode revolucionar o seu negócio”, afirma.
Por enquanto, a Iguá não investe nelas, mas a criação de uma espécie de corporate venture está em análise. Já na questão da sustentabilidade, a empresa está trabalhando em um novo plano estratégico que deverá ser apresentado ao longo de janeiro. Até lá, diante de tantas decisões que Brandão e os acionistas precisam tomar, muita água vai passar debaixo da ponte.
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