A disrupção no cenário de negócios já é um fato. O fenômeno da chamada Quarta Revolução Industrial faz com que toda a sociedade e, consequentemente, todas as indústrias estejam diante de oportunidades e ameaças. E esta transformação está acontecendo em ritmo exponencial. As ameaças são empresas ou setores de indústria simplesmente desaparecerem.

Diante das mudanças aceleradas que estão acontecendo, as empresas tradicionais, consolidadas em seus modelos de negócio construídos antes da revolução digital, buscam se defender lutando, muitas vezes apelando para regulação, contra os novos entrantes, que criam disrupção no seu mercado. A questão é que esses entrantes trazem soluções inovadoras, que tornam obsoletos muitos dos negócios que sustentam as empresas atuais. Uma Inovação disruptiva parte do princípio básico de questionar o “status quo”.

É um tema que desperta atenção e foi maioria em uma pesquisa informal que recentemente fiz na lista de livros de negócios mais vendidos na Amazon. Não estamos aqui associando inovação a P&D, mas abordando a inovação que possibilite às empresas fazerem as coisas de modo diferente, para criar novos produtos, serviços e, até mesmo, novos modelos de negócio.

Tenho levado o tema a vários debates e reuniões com C-levels e observei que, embora seja um assunto recorrente, muito tem sido falado, mas realmente, pouco tem sido feito. As empresas e obviamente a área de TI, vem constantemente concentrando seus esforços em aperfeiçoar e tornar mais eficientes seus processos e modelos de negócios consolidados. Muito dificilmente questionam o seu “status quo”. As vezes imagino se a motivação de um negócio hoje não seja apenas sustentar o problema ao qual ele é a solução.

TI, por exemplo, em muitas empresas, pelo seu viés operacional, se tornou uma máquina muito eficiente em garantir consistência, aderência a regras de compliance e disponibilidade. Por outro lado, mostra-se arredia às experimentações e disrupções. Quando o faz, é um setor isolado, muitas vezes chamado pomposamente de “lab de inovação”, mas com protótipos que apenas servem para gerar notícia de mídia.

Seu pensamento fundamental ainda é que os sistemas têm que dar certo e funcionar exatamente como planejado. Falhar não está em sua cartilha, e, portanto, conceitos como “fail fast, learn fast” lhe são estranhos.

Por outro lado, vivemos uma era de transformações e torna-se cada vez mais nítido a ligação direta entre inovação, crescimento e sobrevivência dos negócios. Foi emblemática a conversa recente que tive com um executivo de uma área que se denominava “IT & Innovation”. Ao saber que o projeto que eu propunha não tinha sido feito antes em nenhuma outra empresa e que ele seria o primeiro e, por isso, teria a vantagem de ser o disruptor, ele recuou.

Não é culpa dele, claro. Mas ele demonstrou ali a cultura da organização ao qual ele pertence, em que a tolerância à inovação e, consequentemente, à riscos é muito baixa. Inovação, na empresa dele, era basicamente incremental, ou seja, tornar o que é feito atualmente, sejam serviços e produtos, mais eficientes. Sem questionamentos se isso seria garantia de sucesso no futuro. O futuro, para essa organização (e para muitas outras), é plenamente linear e, portanto, controlável. Triste engano!

As inovações estarão cada vez mais sendo impulsionadas pelas tecnologias digitais e, em consequência, o CIO (Chief Information Officer) estará no epicentro do vértice destas mudanças. Assistentes virtuais, impressoras 3D, IoT, Machine Learning/Deep Learnig, veículos autônomos, drones, RA/RV, blockchain, 5G e outras, fazem uma lista quase interminável de potenciais tecnologias disruptivas à vista, provocando transformações significativas em quase todos os setores de negócio.

Mas, na maioria das empresas e em suas áreas de TI, elas são vistas ainda como curiosidades tecnológicas. “Ah, isto está distante de nossa realidade”, é uma frase bem comum, mas que embute um erro: a empresa não está em outro planeta. Provavelmente, se fosse dita no início do século passado, diante do surgimento de uma nova e revolucionária tecnologia, a eletricidade, ela não estaria operando hoje.

O fato é que os clientes estão cada vez mais digitais e empoderados, demandando inovações contínuas, e melhores e mais flexíveis serviços e acessos à empresa. Ninguém fica mais na chuva esperando um táxi. Chamam o Uber. A pandemia acelerou o processo. Trouxe o futuro para o presente. O que imaginávamos levar uns cinco anos para acontecer, aconteceu em semanas.

Modelos de negócios consolidados nas últimas décadas não são garantias de sucesso para os próximos anos

As empresas que não entenderem esses sinais correm risco de perda de relevância e, até mesmo, sobrevivência. Modelos de negócios consolidados nas últimas décadas não são garantias de sucesso para os próximos anos. Disruptores são geralmente startups que ignoram as “máximas” dos negócios atuais ao criar novos modelos de negócio que simplesmente derrubam empresas sólidas e bem gerenciadas. Vimos isso em indústrias dinâmicas, como a de celulares, em que as líderes Motorola, Nokia e BlackBerry perderam toda sua relevância nesse mercado.

Inovação não existe no vácuo. Isso implica que além de cartazes na parede incentivando a inovação, devem existir estratégias e ações que façam acontecer as boas ideias que surgem dentro e fora das empresas. Inovação não é algo pontual, tipo um “Innovation Day”, mas um processo contínuo que deve se inserir no DNA da empresa. Inovação não é uma estratégia por si mesmo, mas um meio para se manter competitivo.

O mercado não vai perdoar uma empresa lerda, por causa de seu tamanho. Disrupção não aceita desculpas

Um sinal que se fala muito em inovação, mas se faz pouco, é a análise de uma pesquisa que ajudei a elaborar e analisar. Nela, os CIOs de grandes empresas dizem enfaticamente que inovação é crucial, mas quando perguntados se havia budget reservado para inovar, a imensa maioria disse que não. Ou quando existia, era uma ínfima porção dos gastos do setor. Inovação sem investimento não é inovação, mas mágica.

Olhar para outros setores de indústria é salutar pois é provável que muitas práticas inovadoras surjam primeiro em outros negócios. Se você olhar apenas para seus competidores, talvez todos sofram a disrupção juntos. Repense a sua competição! A visão executiva deve ser: “se a disrupção é inevitável, é melhor que nós a façamos e não outros a façam em cima de nós”.

Os novos modelos de negócio proporcionados pela transformação digital exigem um pacto entre TI e negócios. Não dá mais para a TI avançar devagar neste processo. Não pode ser conduzida, mas deve conduzir. É necessário que um sentimento de urgência prevaleça não só na TI como na alta gestão. As mudanças, inevitáveis, já estão às portas. Torna-se crítico entender que a era digital provoca rompimento dos modelos atuais.

Nas conversas com CIOs e outros C-levels fica claro o desafio que eles enfrentam. Muitas empresas são reativas às inovações e em muitas organizações de grande porte, os processos e sistemas legados, e os silos organizacionais são âncoras que os impedem de se moverem com agilidade. Devem cortar essas âncoras.

O mercado não vai perdoar uma empresa lerda, por causa de seu tamanho. Disrupção não aceita desculpas. E não dá para negociar com disrupções! Infelizmente, para muitas grandes empresas.

Cezar Taurion é VP de Inovação da CiaTécnica Consulting, e Partner/Head de Digital Transformation da Kick Corporate Ventures. Membro do conselho de inovação de diversas empresas e mentor e investidor em startups de IA. É autor de nove livros que abordam assuntos como Transformação Digital, Inovação, Big Data e Tecnologias Emergentes. Professor convidado da Fundação Dom Cabral, PUC-RJ e PUC-RS.