Se, nos últimos meses, Pierre Schurmann decidiu guiar a Nuvini com mais cautela em meio à agitação do mercado, agora, o empresário, que é o filho mais velho de Vilfredo e Heloisa, da família brasileira de navegadores que ficou famosa por suas aventuras oceânicas, está novamente içando as velas da companhia.
Nesse cenário, em seu horizonte, a holding brasileira que concentra uma série de empresas de software as a service (SaaS) enxerga uma eventual abertura de capital na Nasdaq, a partir de uma fusão que pode ser firmada nos próximos meses.
Nesta terça-feira, 10 de janeiro, a Mercato Partners Acquisition Corporation, uma Special Purpose Acquisition Company (SPAC) da gestora americana de private equity Mercado Partners, anuncia a assinatura de uma carta de intenção não vinculativa para a combinação dos negócios com a holding.
Caso o processo seja concluído, o que pode levar entre quatro e seis meses, a Nuvini terá suas ações listadas na bolsa de valores americana. “Essa listagem na Nasdaq dá acesso a uma série de ferramentas do mercado de capitais”, afirma Schurmann, fundador e CEO da Nuvini, em entrevista ao NeoFeed.
Essas ferramentas são úteis para que a companhia consiga continuar buscando dinheiro no mercado. “A gente passou boa parte do ano passado buscando investidores para continuar crescendo”, diz Schurmann. “Quanto mais capital conseguimos trazer, mais rápido conseguiremos crescer, ainda que de uma forma mais conservadora.”
No longo prazo, o plano da companhia é financiar o negócio para trazer cada vez mais empresas para dentro do que o executivo chama de "ecossistema". "Queremos ter um volume grande de founders de negócios de diferentes segmentos trocando as melhores práticas e buscando oportunidades conjuntas", diz ele.
A escolha da Nuvini de avançar no acordo rumo à Nasdaq se dá por dois motivos. O primeiro, a praticidade de usar uma SPAC para fazer esse movimento. A segunda razão diz respeito às ambições de expansão geográfica da operação. “O olhar sempre foi para a América Latina. Parece fazer mais sentido olhar para a Nasdaq por causa disso”, afirma Schurmann.
A ideia de se aliar com a Mercato Partners surgiu nos últimos meses. Em comum com a Nuvini, a empresa americana também aposta em negócios que estão fora dos grandes centros, como Vale do Silício e Nova York. Em vez disso, o olhar está centrado em negócios no sul da Califórnia e em estados como Utah e Idaho.
Com sede em Salt Lake City e comandada por Greg Warnock, a gestora tem quatro fundos em operação: Traverse Growth, Savory Restaurant, Prelude Venture e Alpha Secondary, cada um com um foco em empresas de diferentes características e segmentos.
A abertura de capital da Mercato Partners Acquisition Corporation, a SPAC da operação, foi realizada na Nasdaq em dezembro de 2021. Desde então, as ações da companhia de "cheque em branco", avaliada atualmente em US$ 294,4 milhões, acumularam uma valorização de pouco mais de 4,5%.
O curioso deste movimento é que ele ocorre em um momento em que as SPACs estão em baixa no mercado. Em dezembro, aproximadamente 70 "empresas de cheque em branco" foram liquidadas e devolveram o dinheiro aos investidores, conforme dados da SPAC Research, consultoria especializada no tema.
No Brasil, o principal caso envolvendo uma SPAC foi a fusão da Eve Holding com a Zanite Acquisition, companhia que levou a subsidiária da fabricante brasileira de aeronaves Embraer para a Bolsa de Nova York (Nyse) num processo concluído em maio do ano passado.
Mar agitado
A estratégia atual da Nuvini é uma mescla entre o que a companhia viveu até a metade de 2021 e o período que se sucedeu até aqui. “Os múltiplos das startups estavam caindo a cada mês e a gente viu que não era uma marola, mas sim, ondas sequenciais”, diz Schurmann.
Antes de jogar uma âncora e segurar os investimentos, a Nuvini havia, ainda em abril de 2021, conseguido acesso a R$ 400 milhões para financiar novas aquisições. Naquela época, em entrevista ao NeoFeed, a Nuvini havia registrado sua quarta compra, adquirindo a operação da Dataminer, de big data.
Até aquele momento, a meta era realizar entre 15 e 20 compras por ano até 2025, quando a holding projetava uma receita de R$ 4 bilhões. No alvo estavam companhias com faturamento entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões, rentáveis, com produtos testados e com taxas de crescimento variando entre 20% e 25% ao ano.
A realidade ficou distante. Foram feitos apenas mais dois acordos de M&A, além de outros dois negócios que foram realizados por empresas que já faziam parte do ecossistema da companhia. Atualmente, a holding conta com seis empresas ativas debaixo do seu guarda-chuva: Leadlovers, Ipê Digital, Effecti, Datahub, Onclick e Mercos.
No lugar do crescimento agressivo, Schurmann optou por arrumar a casa. De acordo com com o executivo, foram feitos esforços para melhorar as margens dos negócios que contemplam a operação. "Decidimos focar em processos e pessoas para melhorar a empresa", diz Schurmann. "É um plano de longo prazo."
Questionado sobre o que foi feito na prática, o executivo citou como exemplo a chegada de novos executivos para a operação. Um deles foi Walter Leandro Marques, o fundador de Tray Commerce que assumiu o cargo de vice-presidente de M&A da Nuvini.