O Brasil está com a faca e o queijo na mão para se tornar um dos grandes protagonistas mundiais da indústria plant-based. Depois dos hambúrgueres vegetais da Fazenda Futuro desembarcarem em mais de 20 países, agora são os laticínios NoMoo que vão testar o apetite dos consumidores fora do país.
A foodtech carioca está levando seus produtos que substituem o leite animal por ingredientes como castanha de caju, amido de batata e óleo de coco para o mercado asiático. A ideia é dar continuidade ao plano de internacionalização do negócio que já está em países da América Latina, da Europa e nos Estados Unidos.
“O mercado asiático concentra uma grande quantidade de consumidores que são intolerantes à lactose”, diz Marcelo Doin, CEO e cofundador da companhia com Nathália Pires, em entrevista ao NeoFeed. O executivo afirma que o desembarque vai ocorrer no segundo semestre deste ano.
Fundada em 2015, a NoMoo trabalha com uma linha de alimentos plant-based sem leite. A produção engloba queijos em fatias de tipos como muçarela, prato, parmesão até produtos como creme de leite, requeijão, cheddar cremoso, manteiga e maionese. “Queremos ser a Nestlé do plant-based”, diz Doin.
A sacada do negócio, com o perdão do trocadilho, chamou a atenção de Bernardo Rezende, o Bernardinho, duas vezes medalhista de ouro olímpico pela seleção brasileira masculina e medalhista de bronze e prata pela seleção feminina.
Um dos nomes mais vitoriosos do voleibol brasileiro, o técnico é também um investidor de startups. Entre alguns seus investimentos estão a edtech Eduk, a empresa de alimentação Haru’s, a de entretenimento Final Level, a rede de academias BodyTech e os restaurantes Delírio Tropical.
No caso da NoMoo, Bernardinho participou da injeção de R$ 10 milhões numa captação de série A feita em novembro do ano passado e teve a participação da gestora brasileira DXA Invest e do fundo americano Lever VC, focada na indústria de alimentos veganos e que já aportou recursos em unicórnios plant-based como Beyond Meat e Impossible Foods.
O dinheiro captado no último aporte acelerou o plano de internacionalização da NoMoo. Inicialmente, a startup chega para vender seus produtos na China e nos Emirados Árabes. A companhia vai enviá-los já fabricados daqui e eles serão distribuídos por uma parceira comercial na Ásia, em uma operação semelhante a que é praticada em outros mercados internacionais.
“Por questões de custo, neste primeiro momento, vamos usar todo o backoffice do distribuidor até a operação se estabilizar”, diz Doin. Com o tempo, a foodtech poderá abrir escritórios, mas isso não está na agenda no curto prazo.
Em um horizonte mais próximo está o plano de abrir uma nova fábrica que atenda a operação da companhia na Europa. Antes, a previsão é que a empresa realize uma segunda captação de investimento, de Série B, o que pode acontecer já no primeiro semestre do ano que vem.
Mesmo com a internacionalização, a NoMoo segue olhando de perto para o mercado nacional. Na época em que anunciou a captação da série A, a startup estimava que iria faturar algo em torno de R$ 25 milhões neste ano. A previsão é de que uma fatia de 10% da receita venha do mercado internacional.
Com formação em gastronomia e especializado em gastronomia molecular, Doin começou a fabricar queijos veganos para suprir uma carência que tinha por produtos que tivessem gosto e aroma de queijo, mas que não tivessem como base o leite animal. “Fiz vários testes em casa e consegui fazer a fermentação vegetal”, diz Doin.
O negócio escalou e, em 2018 a companhia foi uma das escolhidas para ser acelerada em um programa da Endeavor e que contou com a participação de gigantes como Nestlé, Ambev e Santander. A partir de então, a demanda cresceu até a inauguração de uma nova fábrica.
Inaugurada neste ano sob um investimento de US$ 1 milhão, a nova fábrica amplia a capacidade de produção da startup de 15 toneladas para 1.200 toneladas por mês. A unidade fica no barrio de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e deve dar conta da demanda para o mercado brasileiro e para as exportações.
Além de vender pela internet e em outros canais digitais, os produtos da NoMoo também estão em gôndolas de redes de supermercados como Pão de Açúcar, Big e Carrefour. Contando lojas físicas e plataformas digitais, a previsão é ter 5 mil pontos de vendas no Brasil.
As gôndolas físicas e virtuais devem contar com uma novidade nos próximos meses. A companhia está preparando o lançamento de dois novos produto, um iogurte vegetal sem açúcar e sem amido e um shake achocolatado com 18 gramas de proteína e que compete diretamente com produtos de fabricantes como Danone e Itambé.
Intolerantes, sim
Enquanto a maioria das empresas de alimentos plant-based foca em um público de veganos ou de consumidores que desejam reduzir o consumo de proteína animal, a NoMoo cresceu explorando outro nicho. “A gente não briga contra as empresas veganas. Nosso mercado está nos intolerantes à lactose”, diz Doin.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2016 apontou que o Brasil tinha 53 milhões de pessoas com algum nível de intolerância a lactose. No mundo, a estimativa é de que 68% das pessoas sintam algum desconforto com o consumo de laticínios, de acordo com um estudo publicado em 2017 na revista científica The Lancet por Christian Løvold Storhaug, Svein Kjetil Fosse e Lars Fadnes.
Com uma base crescente de consumidores, os laticínios alternativos já movimentam um mercado bilionário. Segundo a empresa americana de pesquisas ResearchAndMarkets, a cadeia de laticínios veganos movimentou US$ 11,4 bilhões em 2020. A expectativa é de que a cifra escale para US$ 17,6 bilhões em 2025.
A competição direta da NoMoo no Brasil se dá contra startups como Vida Veg e Nude. A primeira captou R$ 18 milhões junto a X8 Investimentos no ano passado e comercializa uma linha de laticínios e de hambúrgueres veganos. A segunda trabalha com uma linha de leite à base de aveia e em janeiro deste ano recebeu R$ 25 milhões da Vox Capital, sendo avaliada em R$ 125 milhões.
A concorrência ainda engloba empresas como a chilena NotCo, avaliada em US$ 1,5 bilhão após o último aporte recebido em julho do ano passado no valor de US$ 235 milhões e liderado pela Tiger Global. O Brasil é o principal mercado da startup que fabrica maionese, leite, achocolatado, sorvete, hambúrguer e frango à base de proteína vegetal.