A casa própria é um sonho cada vez mais distante da classe média americana – sobretudo entre os jovens. Nos Estados Unidos, apenas 35,4% dos donos de imóveis no país têm menos de 35 anos, fato que pode ser explicado pelo alto custo das propriedades e, principalmente, pela burocracia que envolve este tipo de transação.

Ciente de que as relações (e realidades) trabalhistas mudaram, uma startup no Vale do Silício desenvolveu um modelo de negócio que pretende solucionar parte desta equação, ajudando quem mais precisa a ter um teto para chamar de seu.

Fundada em 2017 por Adena Hefets, Alex Klarfeld, Brian Ma e Nicholas Clark, a Divvy Homes trabalha com um modelo de negócios que eles definem como "alugue para comprar".

Considerada uma das startups mais disruptivas pela empresa de venture capital Andreessen Horowitz, um de seus principais investidores, a Divvy também caiu nas graças da Lennar Corporation e de Max Levchin, o cofundador do PayPal. Ao todo, a empresa levantou US$ 180 milhões – sendo US$ 43 milhões deles em uma série B, que aconteceu em setembro deste ano.

O procedimento da Divvy é, relativamente, simples: os interessados têm de preencher um formulário online e compartilhar detalhes de sua vida financeira – e aqui entra em consideração até formas "alternativas" de monetização. "Aqueles ganhos obtidos por trabalhos em aplicativos, por exemplo, entram para a conta", diz ao NeoFeed, Alex Klarfeld, o cofundador que também atua como engenheiro de dados na empresa.

Depois de avaliar o perfil do interessado, usando um sistema de inteligência e análise de dados próprio, a Divvy concede um limite máximo para a aquisição da propriedade – que flutua, obviamente, de acordo com os rendimentos e hábitos financeiros de cada um. 

Na sequência, o cliente escolhe a casa que melhor atende às suas necessidades e ambições – e a Divvy Homes entra em cena para comprar o imóvel, que fica no nome da startup. Pelos próximos três anos a empresa aluga essa mesma propriedade de volta ao usuário, mas por um valor um pouco mais "salgado", porque uma parcela do aluguel mensal (geralmente 25%) é destinada para a aquisição da casa.

Empresa permite que, por três anos, usuários consigam se preparar para comprar a casa que alugam

Passado esses três primeiros anos, o usuário pode optar por desistir da compra, recebendo aquele montante extra do aluguel de volta, ou escolher por uma hipoteca comum, junto a qualquer banco, para adquirir a casa da Divvy. Neste segundo caso, ele já teria cerca de 10% do valor do imóvel pago.

Vale lembrar ainda que, a qualquer momento ao longo desses três anos, os clientes que alcançarem a maturidade financeira necessária para uma hipoteca podem transacionar de inquilinos para proprietários. O prazo de 36 meses não é, portanto, obrigatório. 

Embora esse modelo não seja exatamente inédito em território americano, é a primeira vez que empreendedores se propõem a atuar nesta área, digitalizando um processo historicamente analógico e arcaico. "Conseguimos a aprovação de um usuário entre duas e quatro semanas", diz Klarfeld, que não compartilhou os números de desempenho da startup. 

Ponderando a estabilidade e os valores praticados pelo mercado imobiliário americano, a Divvy Homes começou suas atividades em seis áreas de seis estados americanos diferentes (Georgia, Ohio, Tennessee, Missouri, Texas e Flórida). A partir de agora, porém "expansão" é sua palavra de ordem – mas com cautela.

"Acredito que esse modelo de negócio, com esses números, não faça sentido em todos os lugares. Em São Francisco, por exemplo, onde casas podem facilmente ultrapassar o valor de US$ 1 milhão, me parece inviável pagar três anos da fração de um aluguel para ter 10% da propriedade", afirma.

Klarfeld concorda ainda que A proposta de sua startup é ideal para aqueles que precisam ou querem comprar um imóvel com alguma urgência, mas não dispõem de um valor de entrada, ou para os indivíduos que tiveram o histórico de crédito comprometido por uma falência ou algo parecido.

Para se beneficiar das possibilidades ofertadas pela Divvy, basta provar um fluxo de caixa constante de aproximadamente US$ 2,3 mil/mês, e contar com cerca de US$ 1,3 mil de entrada – números bastante condizentes com a realidade da classe média americana. As casas negociadas pela empresa têm valor de mercado entre US$ 50 mil e US$ 300 mil.

A fim de garantir que esse modelo de negócio seja sempre certeiro, Klarfeld se dedica pessoalmente ao aprimoramento dos dados e cálculos da empresa. "Aqui não cabe margem de erro de nenhum tipo: o valor acordado precisa ser exato, levando em conta preço de mercado de aluguel, custo de manutenção e outras variáveis. Tudo isso impacta diretamente no sucesso financeiro dos nossos clientes", diz.

Neste pouco tempo de atividade, a Divvy Homes já conseguiu ajudar mais de 120 pessoas a passarem da condição de inquilino para proprietário. Todos os meses a companhia recebe cerca de dois mil formulários.

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