No fim de maio deste ano, dois meses depois de desembarcar oficialmente no Brasil, a fintech colombiana Addi anunciou uma captação de R$ 350 milhões (US$ 65 milhões), liderada pela Union Square Ventures. Com o aporte, a fintech chegava a um total de R$ 516,9 milhões levantados desde a sua fundação, em 2018.
Passados pouco mais de três meses, a startup volta a ampliar essa soma. A Addi está mais do que dobrando a cifra que atraiu em sua última injeção de recursos com uma nova rodada, de mais de R$ 390 milhões (US$ 75 milhões), liderada pelo fundo americano Greycroft.
Diferentemente do montante captado em maio, que combinava equity e dívida, o novo aporte envolve somente equity e marca a entrada de mais fundos na operação, além do Greycroft. São eles: GGV Capital, Citius Capital e Intersection Growth Partners.
Outros fundos que já investiam na operação estão seguindo a nova rodada. A relação inclui Union Square, Andreessen Horowitz, Citius VC, Endeavor Catalyst, Foundation Capital, Monashees e Quona Capital.
“Esse novo aporte vem na esteira dos dados dos nossos últimos três meses de operação e do tamanho da oportunidade que temos pela frente, que é gigante”, diz Daniel Vallejo, cofundador da Addi, ao NeoFeed. “Por isso, aceleramos a rodada. Agora, vamos ser ainda mais rápidos e agressivos.”
Ele também destacou a entrada dos novos investidores, em particular, o Greycroft, que tem 26 fintechs no portfólio, entre elas a AZA, do Quênia, e a Flutterwave, da Nigéria. No Brasil, seu portfólio inclui a Rocket.Chat, dona de uma plataforma de comunicação, e a Daki, startup de delivery de produtos.
“O Greycroft já tem histórias de sucesso e é especialista em ajudar fintechs e companhias de tecnologia escalarem em mercados emergentes”, observa. “Eles trazem conhecimento operacional e vão nos ajudar a tomar decisões mais apuradas e a escolher quais caminhos seguir.”
O modelo que atraiu mais de R$ 740 milhões em um intervalo de pouco mais de três meses encontra referências em fintechs como a americana Affirm, que vale US$ 24,6 bilhões na Nasdaq, e a sueca Klarna, que já captou US$ 3,7 bilhões junto a investidores como o Softbank e é avaliada em US$ 45,6 bilhões.
A Addi oferece crédito aos consumidores em lojas físicas ou em sites de e-commerce, sem a exigência de garantias. A análise de risco envolve o cruzamento de fontes como birôs de crédito e os empréstimos são contratados em poucos minutos. A receita da fintech vem de taxas cobradas dos parceiros.
Com a proposta de ser uma alternativa aos juros altos dos cartões de crédito, esse formato vem ganhando popularidade no exterior, onde é conhecido como “buy now, pay later”. Segundo a consultoria Insider Inteligence, essa vertente deve movimentar US$ 995 bilhões globalmente até 2026.
Já no Brasil, o modelo em questão é uma espécie de versão digital do velho crediário da Casas Bahia. Essa familiaridade com o conceito, aliada ao tamanho do mercado local, colocam o País no topo da lista de prioridades da Addi e também do novo aporte.
Alguns dados dão um termômetro da recepção do mercado brasileiro à proposta da empresa. Dos cerca de 40 parceiros varejistas que mantinha em maio no País, a fintech saltou para uma base de mais de 100 redes integradas à sua plataforma.
Nesse intervalo, a startup contabiliza mais de 20 mil transações. Segundo Vallejo, em média, a Addi responde por mais de 40% das vendas registradas desses parceiros. “Em alguns casos, chegamos a uma fatia de 60%”, diz ele, reafirmando a meta de superar R$ 1 bilhão em crédito no País em 2022.
Para concretizar essa projeção, um dos focos da Addi é justamente ampliar essa base de parceiros. Nessa ponta, depois do foco inicial nos pequenos e médios varejistas, a fintech começa a dar mais peso também às grandes redes do setor.
Com um quadro de 270 funcionários no País e na Colômbia, a startup vai reservar parte dos recursos para ampliar essa equipe, especialmente no Brasil. Dos 50 profissionais que compõe esse time atualmente, o plano é chegar até o fim de 2021 com uma equipe local de mais de 100 pessoas.
Esse crescimento passa pela contratação de nomes como Niki Sri-Kumar, executiva com passagens por empresas como a Affirm. Ela atuará como vice-presidente e general manager, e ficará alocada justamente no Brasil, em mais um sinal da relevância do País no mapa da Addi.
O pacote de anúncios passa ainda pela adoção de uma nova marca, desenvolvida pela agência Mackey Saturday. Além do lançamento do aplicativo da fintech, programado também para essa quarta-feira, dia 8 de setembro.
Entre outros recursos, os usuários poderão visualizar os empréstimos contratados com a Addi. Ao mesmo tempo, a ideia é conhecer o perfil de cada cliente e sugerir ofertas personalizadas, acompanhadas de descontos negociados com os parceiros do varejo.
Outra aplicação da nova rodada é a estruturação da entrada da Addi no mercado mexicano. A inauguração dessa operação está prevista para o primeiro trimestre de 2022. “Isso não tira o nosso foco no Brasil”, diz Vallejo. “O País seguirá sendo a nossa geografia mais importante.”
No mercado brasileiro, a Addi disputa espaço com outras ofertas de crédito sem garantia. A concorrência inclui desde nomes tradicionais nesse espaço, como a própria Via, dona da Casas Bahia, que vem investindo na transição de seu crediário para os canais digitais.
O segmento tem atraído mais companhias, algumas também gigantes, como o Magazine Luiza, com seus braços Magalu Pay e Magalu Pagamentos. E outras que estão ganhando corpo, como a Open Co, fruto da fusão entre as fintechs Rebel e Geru, e que atraiu um aporte de R$ 150 milhões, liderado pelo International Finance Corporation (IFC), braço de investimento do Banco Mundial.