Um levantamento do Instituto Ethos, que consultou 117 das 500 maiores empresas do Brasil, mostrou que, apesar de serem maioria em cargos de estágio (57,5%) e trainee (58,2%), a presença de pessoas negras é muito menor e mais distante de refletir a realidade da população brasileira nos cargos de gerência (6,3%) e nos quadros executivos das companhias (4,7%).

Para as mulheres negras os números são ainda mais críticos, apenas 10,3% ocupam cargos funcionais, 8,2% nos cargos de supervisão e apenas 1,6% de gerência. Dentre as 117 companhias entrevistadas, apenas duas mulheres ocupavam cadeiras executivas. Uma pesquisa da Indique Uma Preta também apontou que 72% das mulheres negras não foram lideradas por outras mulheres negras nos últimos cinco anos de trabalho, o que reforça o cenário mostrado pelo Instituto Ethos.

Caso esse ritmo se mantenha, a igualdade racial no ambiente de trabalho só será alcançada em 150 anos. Decidi fundar o ID_BR porque sei que não temos tempo a perder e que a igualdade racial no mercado de trabalho é uma pauta que precisamos resolver o mais rápido possível.

Após o caso George Floyd, o número de empresas que buscam o ID_BR em busca da nossa jornada do selo Sim à Igualdade Racial aumentou 400%. Sim, é um número impressionante e que reflete a pressão e o questionamento da sociedade com relação à diversidade no meio corporativo.

Porém, como os números acima indicam, ainda temos um longo caminho a percorrer até alcançarmos a igualdade racial em todos os níveis hierárquicos. Também queremos mulheres negras e indígenas em cargos de gerência e ocupando cadeiras executivas.

Também sou muito perguntada sobre a autenticidade desses programas, sobre não serem “naturais”, mas sim para atender a essa demanda crescente. Veja bem, acredito que para termos mudanças efetivas nós precisamos ser intencionais em nossas ações.

Além disso, também precisamos de programas de retenção desses talentos. De acordo com dados obtidos em uma pesquisa realizada pelo Indeed em parceria com o Instituto Guetto com 245 profissionais negros, 47,8% dos entrevistados não têm um senso de pertencimento nas empresas em que trabalham ou trabalharam, 47% já presenciaram cenas de discriminação e 60% dos profissionais entrevistados já sofreram discriminação racial no ambiente de trabalho.

O que esses números nos mostram é que precisamos de práticas contínuas para mudar esse quadro. É necessário entender que diversidade e inclusão vai muito além de abrir vagas para ações afirmativas. Programas de ações afirmativas são passos importantíssimos para avançarmos na luta pela igualdade racial, mas precisamos, também, fornecer ferramentas para que esses profissionais consigam progredir dentro da empresa.

Recentemente escrevi sobre as 7 lições que aprendi com Stacey Abrams no seu livro "Você pode fazer a diferença" e a quarta lição se refere diretamente ao fato de nossas experiências de raça e gênero moldarem as experiências e impressões que temos de nós mesmos e do outro.

Logo, é preciso ter empatia para com as pessoas que não tiveram as mesmas experiências/oportunidades e entender que cotas no meio corporativo são um meio para que grupos vulnerabilizados possam acessar espaços que lhe foram negados, e sim, elas precisam de atualizações constantes para suprir as necessidades dessas populações e garantir um processo de inclusão permanente.

Aproveito essas últimas linhas para reforçar uma mensagem: sejam intencionais, tenham um propósito e metas para mudarmos esse cenário. Cobrem das empresas em que atuam esse tipo de posicionamento, não importa se você não é mulher e/ou negra, todos temos lugar nessa luta e precisamos de aliados para conseguirmos avançar mais rapidamente. E por último, mas nunca menos importante: diga Sim à Igualdade Racial.

*Luana Génot, fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR)