Não foram poucas as vezes em que Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management, foi comparado a Warren Buffett.
Sua admiração confessa pelo magnata e megainvestidor americano de 89 anos lhe rendeu, inclusive, o apelido de “Baby Buffett”, na capa de uma edição da revista americana Forbes, em 2015.
Apesar dessa reverência, Ackman parece estar se distanciando de seu “mentor”. Em uma teleconferência com investidores nesta quarta-feira, 27 de maio, ele revelou que vendeu sua participação na Berkshire Hathaway, gestora de Buffett.
“Podemos ser muito mais ágeis”, disse Ackman, ressaltando que seu fundo de hedge tem mais capacidade e velocidade que a Berkshire Hathaway para aproveitar as oportunidades de mercado geradas pela Covid-19.
Comprada há pouco menos de um ano, a fatia de Ackman na gestora havia sido ampliada recentemente e estava avaliada em US$ 1 bilhão no fim de março, uma parcela representativa dos cerca de US$ 10 bilhões sob gestão de seu fundo.
O aumento da participação veio justamente sob a perspectiva de que Buffett aproveitaria a pandemia para mostrar seu apetite no mercado, em linha com o que havia feito na crise de 2008.
Até o momento, porém, isso não aconteceu. A Berkshire Hathaway não fez grandes aquisições e fechou o primeiro trimestre com US$ 137,3 bilhões em caixa, um volume recorde para a gestora. No período, a companhia reportou um prejuízo, também recorde, de US$ 49,7 bilhões.
Na teleconferência para a divulgação do resultado, realizada no início de maio, Buffett declarou que o caixa não havia sido usado porque ele não via “nada interessante no momento.” E revelou que ele tinha vendido todas as suas posições nas quatro principais companhias aéreas americanas: American Airlines, United Airlines, Delta e Southwest.
Em um contraponto, Ackman vêm engordando a conta bancária desde o início da crise. Com hedges feitos em janeiro para proteger seus ativos dos efeitos da pandemia, no valor de US$ 27 milhões, a Pershing Square obteve um ganho de US$ 2,6 bilhões com a queda de 30% no mercado de capitais, em março.
Em março, Ackman e a Pershing Square ganharam US$ 2,6 bilhões com hedges feitos no início do ano para proteger sua carteira contra os efeitos da Covid-19
O lucro veio acompanhado de polêmicas. Ackman foi acusado de disseminar o pânico nos mercados e inflar seus ganhos ao declarar, em uma participação no canal CNBC, em 18 de março, que o “inferno” estava chegando.
Em outro movimento que destoa do comportamento de Buffet diante dessa crise, Ackman voltou a investir no mercado de capitais. Ele ampliou, por exemplo, as participações no grupo de hotelaria Hilton e na Restaurant Brands, dona do Burger King e do Popeye’s e que tem entre seus acionistas a 3G Capital, do brasileiro Jorge Paulo Lemann. E voltou a investir na Starbucks, depois de se desfazer das ações da empresa em fevereiro.
Sucesso e polêmicas
As estratégias recentes de Ackman são um retrato de sua trajetória. Ao mesmo tempo em que ganhou destaque no mercado, o investidor de 54 anos, dono de uma fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão, colecionou polêmicas.
Depois de se formar em história, na Universidade de Harvard, em 1992, ele fundou a gestora Gothan Partners, com um ex-colega de classe. A empresa fechou as portas em 2012, após uma série de ações judiciais e de uma investigação da Procuradoria Geral do Estado de Nova York, que, posteriormente, foi arquivada.
Em 2004, Ackman fundou a Pershing Square. E, nos anos seguintes, ganhou a fama de obter a maior parte de seus lucros ao comprar participações em grandes empresas, pressionar por mudanças para impulsionar o preço das ações e, na sequência, se desfazer desses papéis, com alto rendimento.
Aos 54 anos, Bill Ackman tem uma fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão
Essa trajetória, porém, não é feita apenas de tacadas bem-sucedidas. Entre outros ativos, Ackman teve prejuízos em investimentos realizados em empresas como a rede de livrarias Borders Group, a varejista Target e a farmacêutica Valent, investigada por comprar medicamentos e por revendê-los a preços inflacionados.
Os passos em falso também incluíram um imbróglio de cinco anos com a Herbalife e um longo histórico de desavenças com o investidor ativista Carl Icahn, outro conhecido nome do mercado, que gerou, inclusive, um bate-boca ao vivo no canal CNBC, em 2013.
Polêmicas à parte, Ackman parece disposto a seguir fiel ao estilo expresso em uma entrevista concedida, em 2014, à agência Bloomberg. Na conversa, ele ressaltou que, além da ousadia, sua regra é fazer sempre o oposto do que todo mundo está fazendo.
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