Não é de hoje que a americana BlackRock vem hasteando a bandeira do capitalismo consciente e defendendo os princípios do ESG. Nos últimos meses, porém, a maior gestora do mundo, com US$ 9 trilhões em ativos, está dando ainda mais peso a essa cruzada para aliar o discurso à prática.
Mais disposta a usar toda a sua influência, a companhia liderada pelo CEO Larry Fink tem ampliado o apoio a propostas realizadas por acionistas que pedem por mudanças de governança ambiental, social e corporativa nas empresas em que investem.
A BlackRock vota, por procuração, em nome dos investidores de seus diversos fundos. E, entre julho e dezembro de 2020, apoiou 91% das propostas feitas na área ambiental, 23% na área social e 26% das propostas de governança corporativa, de acordo com dados do jornal americano The Wall Street Journal (WSJ).
Para efeito de comparação, nas mais de mil propostas que votou no ano que se encerrou em junho de 2020, a BlackRock apoiou apenas 6% das propostas ambientais, 7% das sociais e 17% das de governança.
Segundo a consultoria S&P Global Market Intelligence, a BlackRock está entre as três maiores acionistas de mais de 80% das companhias que compõem o índice S&P 500. Portanto, sua influência nas reuniões e votações dessas operações é grande.
Esse maior apoio às propostas dos acionistas mostra uma tendência que ganhou corpo com a chegada da nova head de gestão de investimento, Sandy Boss, em abril do ano passado.
"Estamos passando por um período de mudança para alinhar nossas convicções de investimento com a mensagem da empresa", afirmou ela ao WSJ. A BlackRock já havia sido criticada por falar muito sobre a pauta ESG, mas agir pouco.
Outras questões recentes reforçam que essas mudanças também precisam acontecer dentro de casa. Em março, uma reportagem do jornal britânico Financial Times ouviu ex-funcionários da gestora, que denunciaram práticas de discriminação e assédio sexual.
"Sei que nossa cultura não é perfeita", afirmou o CEO Larry Fink, na ocasião. "Ela depende da contribuição de 16,5 mil indivíduos. E, em alguns casos, certos funcionários não mantiveram o padrão da BlackRock."
A companhia se comprometeu a reduzir o preconceito na contratação de novos funcionários, oferecer oportunidades de desenvolvimento pessoal e ampliar as campanhas internas de conscientização sobre questões de diversidade, igualdade e inclusão, entre outras medidas.
Já no fim de 2020, um grupo de senadores democratas criticou a gestora, alegando que seu histórico de votações não dialogava com as suas constantes promessas de pressionar as empresas nas questões relacionadas ao ESG.
Coincidência ou não, a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais americano, informou recentemente que, a partir deste ano, vai monitorar com mais atenção para garantir que os gestores de fundos estão realmente votando como sinalizam.
Fink vem defendendo o capitalismo consciente e cravando que “risco climático é risco de investimento” há algum tempo. Desde 2012, ele escreve uma carta anual em que compartilha sua visão sobre o futuro dos investimentos.
Na carta que enviou em janeiro deste ano, ele reforçou a expectativa de que as empresas se comprometam de forma mais eficaz com a redução das emissões de carbono. O objetivo é manter o aumento da temperatura global abaixo de 2ºC e zerar as emissões de gases que provocam o efeito estufa até 2050.
"Estamos pedindo que as companhias revelem um plano mostrando como seu modelo de negócios será compatível com a proposta de zerar as emissões de carbono", escreveu.
E acrescentou: "Pedimos que revelem como esse plano será integrado à estratégia de longo prazo da companhia. E ele será revisado por nosso conselho administrativo."