Primeiro foram as pessoas físicas. Na sequência, vieram os microempreendedores individuais. Agora, as contas das pequenas e médias empresas surgem como a próximo front de batalha dos bancos digitais do País.
Lançado oficialmente em agosto de 2019, com um foco inicial nos correntistas de maior poder aquisitivo dos bancos tradicionais, o C6 Bank superou, neste ano, a marca de 6 milhões de contas de pessoas físicas. E agora é mais um nome disposto a embolar essa disputa pelos CNPJs das PMEs.
“Esse é um dos nossos principais focos. E não por termos descoberto as PMEs agora. Isso estava nos planos desde o início”, diz Marcos Massukado, sócio do C6, ao NeoFeed. E acrescenta: “Nós queremos o cliente que não é atendido pela Faria Lima.”
O olhar além do famoso corredor financeiro do País vai se concentrar nas PMEs com faturamento anual de até R$ 24 milhões. Na área, que começou a ser trabalhada em 2020, primeiro com microempreendedores individuais, o banco tem 230 mil contas, das quais, 30 mil foram abertas em março.
Para atrair esse público, a iniciativa mais recente é a nova geração da C6 Pay, a maquininha do banco. Fruto de um trabalho de 18 meses da PayGo, empresa de pagamentos do C6, os terminais começaram a ser testados com uma pequena base em setembro de 2020 e chegam agora oficialmente ao mercado.
Uma das grandes apostas do terminal é a opção de o estabelecimento escolher o adquirente com as taxas mais atrativas no processamento dos pagamentos, incluindo nesse pacote os concorrentes do próprio C6.
Na prática, essa nova geração permite que o comerciante ou usuário em questão programe a aceitação de acordo com as melhores condições. Isso segundo variáveis como a bandeira envolvida, o adquirente e a modalidade do pagamento das transações - débito, crédito e parcelado.
“É possível rotear e jogar cada pagamento seguindo as condições e taxas mais atrativas”, diz Massukado. “E nós vamos conciliar todas essas transações para esse cliente no nosso portal de informações.”
As novas C6 Pay trazem uma tecnologia batizada de TEF (Transferência Eletrônica de Fundos). Com esses recursos, a ideia é estender a lógica da multiadquirência, antes restrita aos grandes varejistas, às PMEs. Com os apelos adicionais de os terminais serem móveis e integrados ao software de gestão dos clientes.
Além da guerra das maquininhas
Além de se distanciar da guerra de preços da chamada guerra das maquininhas, o C6 enxerga no lançamento e nessa integração com os clientes uma porta de entrada para as demais ofertas da sua conta digital voltada às pessoas jurídicas.
Esse portfólio inclui, por exemplo, cartão sem anuidade, 100 TEDs gratuitas por mês, pagamento de boletos ilimitados, saques e PIX grátis, além de linhas de crédito. É nessa última área que o C6 vai depositar boa parte dos seus esforços para captar clientes no segmento.
E, na visão do banco, um fator abre boas perspectivas nesse cenário. Trata-se da resolução 4734, do Banco Central, prevista para entrar em vigor em junho. Entre outras mudanças, uma, em particular, é destacada por Massukado.
Hoje, ao tomar crédito com garantia em uma parcela dos seus recebíveis, as empresas ficavam, na prática, impedidas de negociar o restante dos recebíveis com outras instituições. Com a nova resolução, essa trava será eliminada.
Ao mesmo tempo, a resolução prevê que as empresas poderão autorizar as instituições a visualizarem o pacote de recebíveis que têm a negociar. Com esse sinal verde, elas darão acesso a dados mais detalhados de suas operações e, por consequência, a ofertas mais adequadas às suas necessidades.
“Hoje, na prática, a antecipação dos recebíveis está restrita a dois players: o dono da maquininha e o banco onde as empresas recebem por essas transações”, diz Massukado. “Agora, quem tiver o aceite do cliente e funding, vai poder fazer sua oferta de crédito.”
O C6 está com o caixa reforçado para financiar essas operações. Em dezembro, o banco captou R$ 1,3 bilhão junto a um grupo de mais de 40 investidores privados e foi avaliado em R$ 11,3 bilhões.
O portfólio do C6 em crédito destinado ao público PJ inclui modalidades que passam pelo próprio cartão de crédito, além de crédito rotativo e, para aqueles clientes com os quais o banco já tiver um histórico maior de relacionamento, ofertas de capital de giro. As taxas variam de acordo com o perfil do risco.
Além da oferta, outro foco do C6 é a distribuição. Nessa ponta, o banco tem dois modelos, que se assemelham ao que está sendo praticado pela concorrência. O primeiro deles é uma base de 825 consultores distribuídos pelo País, entre ex-gerentes de banco e corretores de seguros.
Para encurtar esse caminho rumo a um mercado extremamente fragmentado e disperso, a outra aposta são as integrações que a PayGo mantém com 1,2 mil empresas de software de gestão que, por sua vez, estão conectadas com diversos segmentos de PMEs. Hoje, o C6 já converteu 30 companhias dessa base.
Em dezembro, o C6 captou R$ 11,3 bilhões junto a um grupo de mais de 40 investidores privados e foi avaliado em R$ 11,3 bilhões
Assim como o C6, outros nomes estão buscando atrair esses CNPJs. A concorrência inclui desde nomes com ofertas mais amplas, como BTG Pactual, Inter, Original, Nubank, Neon e BS2, até bancos criados e voltados especificamente a contas pessoas jurídicas e as PMEs.
Esse último pacote envolve empresas como Linker, Conta Simples e Cora, banco especializado em contas para PMEs que levantou, no início do mês, um aporte de R$ 150 milhões liderado pela gestora americana Ribbit Capital, com a participação de fundos como Kaszek e QED Investors.
“Ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas na oferta de conta digital para essas empresas”, afirma Bruno Diniz, sócio-fundador da consultoria Spiralem. “E o timing do foco do C6 é bom. Ainda vai levar um tempo para termos um player que domine esse espaço.”