Nos últimos tempos, o noticiário financeiro tem sido tomado pelos lançamentos de uma enorme quantidade de empresas digitais que surgem para explorar oportunidades e brechas que os grandes bancos deixam abertas. Ou, como dizem os empreendedores do setor, para “acabar com as dores existentes no segmento”

O fenômeno é, de fato, impressionante. Varejistas que criam suas companhias de meios de pagamento; empresas de mídia que se tornam adquirentes e instituições financeiras; companhias de tecnologia que se tornam “fin”. E é nesse ambiente que acaba de ser lançado o tão aguardado C6 Bank.

Na segunda-feira, 5 de agosto, o banco digital, anunciado em março de 2018, começou a operar oficialmente. O lançamento contou com a presença de um dos sócios-fundadores e dos principais executivos do banco. “Existe uma demanda para os serviços que queremos prestar”, diz Luiz Marcelo Calicchio, sócio-fundador do C6 Bank.

O banco já inicia suas atividades com 200 mil clientes que se cadastraram desde o início do período de teste e pretende dobrar até o fim do ano. Mas, diferente da maioria das empresas financeiras que têm surgido, ele foi inaugurado como um banco completo, oferecendo uma gama maior de serviços financeiros.

E vale também dizer que, diferente da grande maioria das fintechs e instituições financeiras digitais que começam pequenas e vão crescendo aos poucos, o C6 Bank já nasce robusto. Tem um capital de R$ 500 milhões, uma vistosa sede de 8 mil metros quadrados nos Jardins e até uma corretora em Nova York.

Sede do C6 Bank, na avenida Nove de Julho, em São Paulo

Seus executivos dizem que estão mirando clientes entre 25 anos e 50 anos. “Mas a ideia é ter todos os públicos”, diz Alexandra Pain, head de marketing do C6 Bank. “Mais do que uma marca financeira, criamos uma marca de lifestyle.”

As peças publicitárias foram clicadas pelo celebrado fotógrafo Bob Wolfenson e parecem ter sido feitas sob medida para um catálogo de moda. O banco também encomendou uma música “It’s Your Life”, inspirada nos valores da instituição, ao cantor e compositor Zeeba, parceiro do DJ Alok em Hear me Now.

A música já teve 1 milhão de visualizações no YouTube e no Spotify. E só agora foi revelado que a canção representa o banco. Indagado pelo NeoFeed sobre a sofisticação da campanha e para qual público se destina, Calicchio diz que é “para todos, que o objetivo é ser aspiracional.”

É difícil ver um cliente desbancarizado olhando para uma campanha como essa e ser fisgado pelo C6. É difícil ver um microempreendedor individual se sentindo atraído por algo tão sofisticado. Não pode repelir o cliente? “Vamos saber agora”, afirma Calicchio.

Uma das imagens da campanha clicada por Bob Wolfenson

Ao analisar a comunicação do banco, por mais que o executivo não confirme, a imagem que passa é a de que estão mirando um cliente com maior poder aquisitivo, na linha de um cliente prime, personnalité ou van gogh.

Um banqueiro que atua no mercado disse ao NeoFeed que esse não é o tipo de cliente que vai para um banco digital. “O público de alta renda já é bem servido nos grandes bancos e paga taxas menores”, diz ele. “Quem procura um banco digital é quem é mal atendido e paga muitas taxas.”

Outro banqueiro que conversou com o NeoFeed acompanha com bons olhos a entrada de mais um competidor. “Sozinhos, os bancos digitais que estão no mercado não conseguem mudar o mercado. É bom que venham mais. Vejo mais como um aliado do que como um concorrente”, diz.

Retardatário?

O C6 terá o desafio de se diferenciar em um mercado no qual alguns players já estão estabelecidos. Entre eles, BTG Digital, Neon, Inter, Original e o Nubank, que ainda não é banco completo, mas conta com 12 milhões de clientes e já fisgou muitos dos consumidores que olham para a marca como um sinônimo de lifestyle – algo que o C6 Bank pretende buscar.

Para se diferenciar, o C6 diz que os clientes terão conta corrente sem cobrança de taxa de manutenção, transferências ilimitadas e gratuitas, saques ilimitados e gratuitos, cartão de débito e crédito sem taxas, portabilidade de salário, depósito por boleto, CDB e o Taggy, para pagamentos de pedágio sem cobrança de tarifa ou mensalidade.

De olho nos clientes pessoa jurídica, o banco criou também um programa de consultores chamado Conexão C6. São 150 profissionais que captarão clientes com faturamento entre R$ 500 mil e R$ 50 milhões por ano. A meta é oferecer crédito para esses empreendedores e chegar a 1 mil consultores até o fim do ano.

Para o chamado microempresário individual, os MEI, o banco vai fornecer a maquininha da sua marca PayGo gratuitamente para aqueles que faturam acima de R$ 5 mil por mês. Os que não atingem esse valor pagarão uma mensalidade de R$ 60.

O programa de fidelidade, batizado de Átomos, também chama a atenção. O cartão C6 Carbon, equivalente ao Mastercard Black, dá 2,5 pontos para cada US$ 1 gasto e os pontos podem ser trocados nos principais programas existentes como Multiplus, Smiles, entre outros.

No campo tecnológico, o C6 Bank chega com o serviço chamado Kick. Ele permite fazer transferências bancárias via SMS e WhatsApp. Basta mandar um link para um número de celular e o destinatário clica nele, preenche os dados e recebe o dinheiro na conta.

Gustavo Torres, head de inovação do C6 Bank, disse que viajou para vários países onde esse tipo de tecnologia é mais comum, como a China, por exemplo, e pesquisou muito até chegar no produto ideal.

Um banqueiro com experiência no setor vê com desconfiança esse tipo de ferramenta. “Às vezes, é melhor piorar a UX (user experience) para melhorar a segurança”, diz ele. “Quando é muito fácil de fazer uma transferência, é muito fácil de fraudar.”

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