Na guerra travada entre o Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar (GPA) no mercado brasileiro, o grupo francês, apesar de ser o maior em receita no País, se acostumou a perder as batalhas em uma trincheira: o digital.
Enquanto os esforços do Carrefour nessa área foram marcados por lançamentos e fechamentos de seu canal de e-commerce, o GPA avançava e liderava as iniciativas do segmento em direção a uma estratégia multicanal.
Agora, no entanto, o grupo francês parece disposto a recuperar o tempo perdido. E a Covid-19 tem dado um bom impulso nessa reviravolta.
“Nós aceleramos três anos da nossa estratégia em um único trimestre”, disse Nöel Prioux, em teleconferência com analistas no fim desta manhã, sobre os resultados do segundo trimestre. “Nosso e-commerce está voando. Hoje, podemos dizer que já somos digitais.”
Entre abril e junho, o Carrefour apurou números acima das expectativas do mercado. O lucro líquido foi de R$ 713 milhões, um salto de 74,9% na comparação com igual período de 2019. A receita líquida cresceu 14,7%, para R$ 15,9 bilhões.
Entre os indicadores, o digital foi um dos destaques. No e-commerce, o volume bruto de mercadorias (GMV) cresceu 94,1%, para R$ 918 milhões. Já o GMV de alimentos avançou 377%, enquanto o de não-alimentos teve alta de 65%. Os canais online tiveram uma participação de 39% nas vendas de eletrodomésticos e de 7,7% nas vendas totais de alimentos do varejo.
Em relatório, o Credit Suisse destacou o crescimento do comércio eletrônico do Carrefour tanto em alimentos como em não-alimentos. E frisou que a operação nesse canal já se aproxima de um ponto de equilíbrio em termos financeiros. Já Luiz Guanais e Gabriel Savi, analistas do BTG Pactual, ressaltaram que 60% das vendas no e-commerce do grupo vieram de novos clientes.
O mercado também reagiu bem ao balanço. Por volta das 13h, as ações do grupo estavam sendo negociadas a R$ 22,75 na B3, com alta de 6,6%. No ano, até o fechamento do pregão da segunda-feira, os papéis do Carrefour acumulavam uma queda de 8,49%.
Sob esse cenário, o Carrefour já planeja seus próximos passos nessa arena. E eles vão além de sua bandeira de e-commerce do varejo. Um dos principais focos reside em seu braço financeiro, o Banco Carrefour, que recebeu, em junho, autorização do Banco Central para atuar como um banco múltiplo. E que, no segundo trimestre, reportou um crescimento de 85% nas vendas digitais de novos cartões.
“Isso abre muitas agendas que vão nos permitir escalar a oferta digital dentro do ecossistema do grupo”, afirmou Carlos Mauad, CEO do Banco Carrefour. “Vamos poder oferecer mais serviços para a nossa carteira digital, que já está em teste e tem cerca de 85 mil contas abertas.”
Outros componentes estão incluídos nesse pacote. A autorização permitirá que o banco reduza custos ao internalizar seus processos de cobrança. Hoje, em média, a instituição emite de cinco a seis milhões de boletos por mês.
Mauad também destacou que o banco é uma das instituições que já está fazendo testes e integrações no PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, que entrará em operação no início de outubro. “O fato de estarmos integrados a todas as câmaras de liquidação do BC nos permite largar na frente na forma como vamos usar esse ecossistema dentro do grupo”, disse.
Ele acrescentou que o banco planeja, “em algum momento”, começar a testar um projeto piloto de crédito digital para pessoa jurídica. “E a porta de entrada acaba sendo a subadquirência de cauda longa, que já está sendo testada em algumas lojas do Atacadão”, completou.
Em setembro de 2019, o NeoFeed adiantou, com exclusividade, a entrada do Banco Carrefour na chamada guerra das maquininhas, por meio da bandeira Atacadão, que atua no segmento de atacarejo, mais voltada ao B2B e dona de uma receita de R$ 10,6 bilhões no segundo trimestre.
Com 700 lojas no País e mais de 20 milhões de clientes cadastrados, boa parte deles pequenos comerciantes, a ideia era usar essa base para ganhar escala nessa disputa. “O comerciante que vender R$ 1 mil no restaurante dele usando a nossa maquininha terá R$ 1 mil para comprar no Atacadão”, disse Mauad, na época, ao NeoFeed.
Na entrevista, ele também antecipou que a instituição estava prestes a comprar uma plataforma de tecnologia para a sua carteira digital, uma oferta que incluiria a venda de produtos financeiros e de transações como pagamento de contas, empréstimos e recarregamento de serviços de transporte e de celular, além de recursos como o pagamento via QR Code nas lojas das bandeiras de varejo do grupo.
O Atacadão também está no centro de outra iniciativa digital recente do Carrefour. No terceiro trimestre, a bandeira lançou sua operação de comércio eletrônico, por meio de um marketplace
O Atacadão também está no centro de outra iniciativa digital recente do Carrefour. No terceiro trimestre, a bandeira lançou sua operação de comércio eletrônico, por meio de um marketplace. No formato, que está sendo testado inicialmente na cidade de São Paulo e em alguns municípios do interior e litoral do estado, os clientes têm acesso a ofertas de indústrias e atacadistas.
Ao mesmo tempo, o Atacadão também está tocando um projeto-piloto com a Uber, por meio do aplicativo de entregas de supermercados Cornershop, comprado pela companhia americana em outubro do ano passado.
O acordo se estende à bandeira do Carrefour, que já mantém uma parceria nessa esfera, há mais tempo, com a Rappi. Já no GPA, a escolha é por um serviço próprio, por meio da James Delivery, startup comprada pelo grupo no fim de 2018.
“Ainda estamos em fase de testes em São Paulo, com os dois serviços”, disse José Roberto Müsnich, CEO do Atacadão. “O digital é um novo caminho e uma fronteira espetacular de relacionamento tanto no B2B como no B2C para o Atacadão.”
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