Mesmo tendo "engordado" sua fortuna em US$ 7,5 bilhões, o ano de 2020 não foi fácil para Bill Gates. O fundador da Microsoft relatou que no começo da pandemia, entre os meses de março e abril, teve dificuldades de ler por prazer. "Tudo o que eu queria fazer ao final do dia era desligar a minha cabeça enquanto assistia algo na TV", escreveu o executivo em sua newsletter.

Um dos primeiros a prever o surgimento de uma pandemia que colocaria o mundo de joelhos por uma vacina, Gates se empenhou, ao longo dos últimos meses, em debater soluções e financiar iniciativas para descobrir uma cura. E, ao mesmo tempo em que aparecia sob os holofotes, foi alvo de muita fake news sugerindo que "ele havia planejado a pandemia".

O apetite pela leitura voltou com o tempo e Gates, conhecido por ser um leitor voraz, confessa que sua "biblioteca" de 2020 é consideravelmente menor que a de outros anos, mas não menos interessante. O material foi mais do que suficiente para Gates criar uma bem-humorada lista com as cinco obras que mais gostou neste ano, num ranking que ele chama de "Cinco bons livros para um ano ruim".

Gates abre suas recomendações com o livro A Nova Segregação: Racismo e Encarceramento em Massa, escrito pela defensora dos direitos civis e professora visitante no Union Theological Seminary, Michelle Alexander. "Como muitos brancos, eu tentei aprofundar meu conhecimento sobre o racismo sistêmico", explica o empresário sobre sua escolha.

Segundo ele, a obra de Alexander é um "chamado à realidade" sobre as desigualdades do sistema criminal sofrida pela comunidade negra. Gates destaca a riqueza de dados com contextualização como ponto forte desta leitura. "Terminei o livro mais convencido do que nunca de que precisamos de uma abordagem mais justa para certas condenações e mais investimento nas comunidades negras", diz. 

Sem tradução para o português, a segunda leitura indicada por Gates é a obra Range: Why Generalists Triumph in a Specialized World, de David Epstein. O livro questiona a supervalorização de especialistas e mostra porque o mundo precisa agora de pessoas generalistas. "Acho que essa ideia explica parte do sucesso da Microsoft, porque contratamos pessoas que têm grande amplitude em seus campos de conhecimento", escreveu o fundador da Microsoft. 

Repórter investigativo, Epstein está no "radar" de Gates desde que subiu ao palco do TED, evento de discussão de ideias, em 2014. Na ocasião, o jornalista propôs uma nova análise do desempenho esportivo, colocando em xeque o senso comum de que somos mais rápidos, fortes e ágeis do que nunca.  

A lista de recomendações continua com a obra assinada por Erik Larson, The Splendid and the Vile: A Saga of Churchill, Family, and Defiance During the Blitz. O livro conta a história real de quando cidadãos ingleses passavam quase todas as noites amontoados em porões e estações de metrô para se proteger dos bombardeios da Alemanha, entre 1940 e 1941.

"O medo e a ansiedade que essas pessoas sentiram -– embora muito mais graves do que o que estamos experimentando com COVID-19 – soaram familiares", relatou Gates, que elogiou ainda o trabalho preciso do autor em perfilar os líderes ingleses durante essa crise. 

As narrativas de combate seguem firmes na lista do magnata, com a quarta posição indo para o livro The Spy and the Traitor: The Greatest Espionage Story of the Cold War, escrita pelo historiador Ben Macintyre. A obra conta a história de Oleg Gordievsky, o agente duplo da KGB que trabalhou secretamente para os britânicos, e de seu provável traidor, o americano Aldrich Ames. Embora seja uma obra de não-ficção, Gates afirma que se trata de um relato "tão emocionante quanto meus romances de espionagem favoritos".

Para fechar sua lista num tom otimista, Bill Gates indica a leitura de Breath from Salt: A Deadly Genetic Disease, a New Era in Science, and the Patients and Families Who Changed Medicine, do premiado jornalista Bijal P. Trivedi. A obra documenta a evolução no tratamento da fibrose cística e de como isso afetou pacientes e familiares.

"Esta história é especialmente significativa para mim porque conheço famílias que se beneficiaram com os novos medicamentos descritos neste livro", afirma Gates. Para o executivo, narrativas semelhantes devem ganhar as mais e mais páginas nos próximos anos, visto que os avanços da biomedicina são incontáveis. 

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