A Hypera Pharma anunciou hoje um acordo para a compra de uma carteira de 18 medicamentos isentos de prescrição da japonesa Takeda na América Latina. Pelos ativos, que incluem marcas como Neosaldina, Dramin e Nesina, a farmacêutica brasileira vai desembolsar US$ 825 milhões.
O portfólio em questão inclui produtos em áreas como cardiologia, diabetes, endocrinologia, gastrenterologia e clínica geral. E foi responsável por uma receita líquida de cerca de R$ 900 milhões em 2019, sendo que 83% desse montante veio do Brasil e 15% do México.
“Quando concluída, a transação com a Takeda será a maior aquisição da história da Hypera Pharma”, afirmou Breno Oliveira, CEO da empresa, em teleconferência com analistas sobre a aquisição. “Estamos acelerando o crescimento da companhia e criando uma plataforma única e irreplicável, com sólida posição em segmentos estratégicos do mercado.”
Em dezembro, a Hypera já havia fechado a aquisição das marcas Buscopan e Buscofem, pelas quais pagou R$ 1,3 bilhão à Boehringer Ingelheim. Com os dois acordos, num intervalo de menos de três meses, a brasileira salta da quarta para a primeira posição do setor no País, com uma participação de mercado de 9%.
Levando-se em conta dados compilados pela consultoria IQVIA, a empresa alcança um volume de vendas ao consumidor de R$ 5,8 bilhões, contra R$ 5,7 bilhões da até então líder EMS.
Os acordos com a Takeda e a Boehringer Ingelheim trazem uma receita adicional combinada de R$ 1,15 bilhão à operação. No acumulado de janeiro a setembro de 2019, a Hypera apurou uma receita líquida de R$ 2,36 bilhões.
O apetite demonstrado pela farmacêutica brasileira, avaliada em R$ 23,8 bilhões, ecoou de forma positiva no mercado. As ações da empresa subiam 14,2% às 13h30 na B3, cotadas a R$ 39,20.
Em fato relevante, a companhia destacou que o acordo está em linha com o seu foco estratégico de expansão de participação de mercado e investimento em marcas líderes com alto potencial de crescimento.
Pelos termos da transação, a Hypera e a Takeda assinarão ainda um acordo de fabricação e fornecimento, por meio do qual a companhia japonesa seguirá fornecendo produtos à farmacêutica brasileira. Além das novas marcas em seu portfólio, a Hypera vai incorporar uma equipe de cerca de 300 profissionais.
Sinergias
Na teleconferência, a Hypera Pharma destacou que espera capturar sinergias anuais entre R$ 250 milhões e R$ 280 milhões após a aprovação do acordo pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa é de que isso aconteça até o fim do ano. Já a previsão para que a transação com a Boehringer Ingelheim seja concluída é o terceiro trimestre.
“A maior parte das sinergias virá da integração das operações”, afirmou Oliveira. “Tanto os portfólios da Takeda como da Buscopan são enxutos e enxergamos uma integração bastante fácil após as aprovações.”
Uma das frentes nas quais o executivo enxerga benefícios está a área de mídia, pelo fato de a Hypera contar com uma agência interna, responsável por todas as campanhas da companhia. “Nós negociamos diretamente com os veículos e temos um poder de barganha maior do que qualquer concorrente.”
Em outro plano, a ideia é capturar sinergias a partir da transição gradual das operações de manufatura da Takeda para a fábrica da Hypera em Anápolis (GO), onde a empresa tem uma série de incentivos fiscais.
As oportunidades de alavancar os ativos adquiridos também foram destacados. Nesse contexto, Oliveira ressaltou que os dois portfólios já não vinham recebendo a devida atenção de suas antigas controladoras, que estão focadas em outras áreas estratégicas.
“Com o tratamento devido tanto em marketing como em P&D, já enxergamos várias oportunidades de extensão de linhas”, afirmou. “Temos condições de trabalhar com projetos que estavam parados e lançá-los com bastante rapidez no mercado.”
Ao mesmo tempo, ele observou que essas marcas passam a ser trabalhadas por uma equipe de vendas com cerca de mil profissionais em campo. “Já temos uma cobertura de mais de 80%”, disse. “E, com certeza, iremos ampliar a distribuição desses produtos, especialmente no pequeno e médio varejo.”
As operações também marcam a entrada da empresa no segmento de medicamentos patenteados, com a incorporação do Nesina, voltado a diabetes, e do histamínico Alektos. As patentes das duas linhas vencem, respectivamente, em dez e sete anos. “O mercado de diabetes é um dos que mais cresce no Brasil, com um índice de quase 20% ao ano”, afirmou Oliveira.
Apesar de ressaltar que o foco segue sendo o mercado brasileiro e que os ativos da Takeda no México representam menos de 3% do faturamento da Hypera, o executivo destacou que essa operação abre oportunidade para a distribuição de outros produtos do portfólio da companhia no país. Ele observou, no entanto, que essa frente ainda está em avaliação.
A Hypera destacou ainda a posição financeira confortável para investir nas duas aquisições. Além de um caixa de R$ 1,6 bilhão, a empresa estruturou uma linha de financiamento no valor de R$ 3,5 bilhões, com vencimento em seis anos.
“Temos os recursos necessários para pagar pelas duas aquisições sem considerar geração de caixa adicional”, afirmou Adalmario Couto, diretor financeiro da Hypera Pharma. “E isso sem comprometer investimentos em expansão da capacidade fabril e inovação.”
(Atualizada às 14h50 com informações de teleconferência com investidores)
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