Em tempos de manifestações globais contra as mudanças climáticas e de queimadas na Amazônia no centro da atenção da opinião pública mundial, é bom entendermos o que os consumidores pensam sobre as questões ambientais.
Pesquisa lançada no dia 24 de setembro pela consultoria GlobeScan, realizada em 25 países, revela que as três maiores preocupações das pessoas no mundo são: terrorismo, poluição do meio ambiente e mudanças climáticas.
O levantamento também foi realizado no Brasil e, graças a parceria com o Instituto Akatu, tem um aprofundamento no pensamento do consumidor brasileiro. Os resultados da Pesquisa sobre Vida Saudável e Sustentável serão apresentados em um webinar, aberto ao público, no dia 9 de outubro, às 15 horas.
Os brasileiros são ainda mais sensíveis que a média mundial com relação aos temas ambientais. Para começar, o principal problema levantado pelo respondentes no país foi escassez de água, seguido da corrupção e da falta de alimentos. Entre os 10 temas mais sérios da atualidade, sete são ambientais, segundo os brasileiros.
E mais: 69% têm a consciência de que muitas vezes o que é bom para si não é bom para o meio ambiente. Ou seja, sabe que a forma como vive compromete os recursos naturais. E também 69% acreditam que pode fazer muito para salvar o meio ambiente. São níveis de resposta bem superiores à média mundial para estas questões.
Então, com tamanha consciência e crença de que pode fazer mais, por que os brasileiros parecem não agir tanto? Prova disso, foi a fraca adesão no Brasil à Greve pelo Clima, ocorrida no dia 20 de setembro, que mobilizou multidões no mundo inteiro e apenas grupos de ambientalistas e engajados por aqui.
A própria pesquisa aponta um bom caminho para essa resposta. O consumidor brasileiro acredita que não há suporte suficiente do governo (58%), nem das empresas (43%), mas entende também de que se trata de uma responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e pessoas (62%).
Entre os 10 temas mais sérios da atualidade, sete são ambientais, segundo os brasileiros
Hélio Mattar, fundador e presidente do Instituto Akatu, bem observou de que não se trata de uma mera terceirização da responsabilidade, como poderíamos entender à primeira vista, mas a percepção de que o consumo é uma prática social e não individual, influenciada pelas ofertas do mercado (as empresas) e as regras do jogo estabelecidas pelo governo, viabilizando, então, a tomada de decisão do consumidor.
O mesmo raciocínio vale para compreendermos a baixa adesão dos brasileiros à Greve pelo Clima, mesmo depois de todos se surpreenderem com, por exemplo, o céu de São Paulo ter escurecido em plena tarde, em agosto, por conta das cinzas das queimadas no Centro-Oeste brasileiro.
Sem estímulo das empresas com suficiente comunicação, adesão das empresas em liberar funcionários ou do próprio governo em suspender as aulas (como fez o prefeito de Nova York), a participação ficou restrita aos muito engajados, sem representar a real atenção dos brasileiros ao tema.
Soma-se a isso o fato de que há uma importante parcela de consumidores no Brasil (41%) que diz já hoje recompensar as empresas que proporcionarem caminhos para uma vida saudável e sustentável
Portanto, está mais do que na hora das empresas brasileiras (que por dever já trabalham para reduzir os impactos ambientais de suas operações) aliarem-se aos consumidores na defesa dos temas ambientais. Do contrário, os riscos para os negócios não estarão apenas nos mercados externos, mas dentro de casa.
* Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).