Durante os últimos anos, a Techtools ganhou fama no mercado com seu braço de venture capital que apostava com força nas healthtechs. Sob esta tese de investimento, a frente de capital de risco investiu em startups como a Revo, que produz próteses ortopédicas inovadores com materiais recicláveis, e a Terve, que faz gestão de saúde populacional.

A novidade agora, no entanto, diz respeito a outra frente do negócio: a techtools health. Nesta terça-feira, 23 de agosto, a companhia que atua com soluções digitais voltadas para empresas de saúde firmou uma joint venture com a empresa israelense IL Health. Fundada em 2020, a companhia conecta empresas brasileiras e estrangeiras, principalmente israelenses, em projetos e parcerias comerciais.

Comandada por Tamires Poleti, executiva que também vai ocupar o cargo de CEO da Eizik, a IL Health tem três parcerias firmadas com empresas. Todas com sede em Israel: Nonagon, Cnoga Medical e Orcam Technologies.

As duas primeiras empresas vão fornecer dispositivos para Eizik operar no Brasil. O destaque é o N9, fabricado pela Nonagon. O dispositivo, que se parece com uma lanterna, permite realizar diferentes exames físicos de forma remota e que são feitos com sensores como estetoscópio, otoscópio, oxímetro e termômetro. O aparelho também se conecta ao celular e permite utilizar a câmera do telefone para que o médico possa realizar exames visuais à distância.

O segundo dispositivo portátil chama-se Cnoga e é fabricado pela também israelense Cnoga Medical. Este serve para realizar até 16 tipos diferentes de exames de sangue de forma não-invasiva (com um dispositivo acoplado a um monitor que é encaixado no dedo). É possível, por exemplo, analisar as taxas de hemoglobina, a porcentagem de células vermelhas, o nível de oxigênio do sangue, além da pressão sanguínea e arterial.

Enquanto o Cnoga já foi homologado pela Anvisa, o N9 está em fase de validação pelo órgão de saúde. A previsão é de que isso seja feito ainda em setembro deste ano. A expectativa da Eizik é terminar o ano com mais de 15 mil equipamentos em uso, contabilizando a receita gerada pelos dois dispositivos. A previsão de que a cifra para este ano fique em torno de R$ 10 milhões.

“Era preciso trazer a digitalização para os parâmetros de saúde. Buscamos uma forma de humanizar o atendimento”, afirma Jeff Plentz, fundador da techtools health em entrevista ao NeoFeed.

O modelo de negócios é focado no mercado B2B, em que a Eizik firma acordos e cobra mensalidades de hospitais, clínicas, operadoras de saúde, seguradoras e farmacêuticas e prestadores de serviços de telemedicina. Em relação aos hospitais, vale lembrar que a techtools health opera com uma plataforma digital presente em 200 hospitais. A previsão é aumentar este número para 500 até o fim deste ano.

Além disso, a Techtools tem também acordo com 2 mil hospitais, que atuam sem fins lucrativos. Estes são responsáveis por 60% da demanda de pacientes do SUS e da metade dos pacientes de planos de saúde. O plano é de que, no longo prazo, esses hospitais também contem com os dispositivos.

Na prática, os agentes de saúde poderão se deslocar até a casa de pacientes para realizar os exames. O médico, alocado nos hospitais, poderá obter os resultados de forma remota. Desta forma, o atendimento em uma consulta de telemedicina poderá ser mais adequado.

Dispositivo N9, fabricado pela empresa israelense Nonagon

“Não adianta fazer um atendimento por telemedicina, mandar o paciente para o hospital e ele ter que refazer a consulta e fazer todos os exames”, afirma Plentz. “São tecnologias que podem ajudar a acelerar o setor filantrópico de saúde. É a telemedicina da nova geração.”

Para o futuro, a companhia também pretende comercializar os produtos para consumidores finais em um modelo B2C. Assim, seria possível ter os dispositivos em casa para realizar os exames por conta própria. Os equipamentos devem começar a ser comercializados no site da Eizik nos próximos meses. No ano que vem, a projeção de receita fica em torno de R$ 25 milhões.

O que também está nos planos é uma expansão internacional para o fornecimento dos dispositivos em outros mercados. O primeiro alvo fora do Brasil é Portugal. A operação em terras lusitanas deve ser iniciada já em setembro. Depois disso, mas apenas no ano que vem, a expansão internacional deve incluir seis mercados da América Latina, mas os destinos ainda estão sendo mantidos em sigilo.

Dispositivos que facilitam o atendimento por medicina à distância estão ganhando espaço. Uma das empresas que já possui produtos deste tipo no Brasil é a TytoCare. Com sede em Nova York, a companhia foi fundada em 2012 e já levantou mais de US$ 156 milhões em aportes para desenvolver seus produtos. Entre os investidores estão Insight Partners, Qualcomm Ventures e Tiger Global.

Essas empresas estão cada vez mais atentas ao crescimento do mercado de telemedicina no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e de Saúde Digital, 30 milhões de brasileiros devem buscar consultas via telemedicina no Brasil em 2022. Entre 2020 e 2021, foram 7,5 milhões de atendimentos realizados desta forma, segundo a entidade.