A partir desta quarta-feira, o grupo SBF, dono da rede varejista de artigos esportivos Centauro, passa a negociar suas ações na B3 sob o ticker SBFG3, em substituição ao código CNTO3. Longe de ser um mero detalhe, a mudança simboliza uma transformação ampla no contexto estratégico da operação.
“Quando fizemos nosso IPO, há dois anos, usamos a Centauro, nosso nome mais conhecido”, disse Pedro Zemel, CEO do grupo, em conferência com analistas na manhã desta quarta-feira, 31 de março. “Mas agora decidimos renomear a holding, porque temos, de fato, outras unidades de negócio no grupo.”
Há cerca de um ano, o guarda-chuva do grupo começou a incorporar novos braços de negócio. Primeiro, a empresa fechou um acordo estratégico com a Nike no Brasil. Pela parceria, o grupo passou a ser distribuidor exclusivo dos produtos da marca e assumiu a operação dos seus canais digitais no País.
Divulgado em fevereiro de 2020, o anúncio veio à tona alguns meses depois de o grupo SBF sair derrotado na disputa travada com o Magazine Luiza pela Netshoes.
O segundo movimento aconteceu em dezembro do ano passado, com a compra do Grupo NWB, detentor dos canais Desimpedidos, Acelerados, Fatality e Falcão 12, além de 80 afiliados. Na transação, o SBF desembolsou R$ 60 milhões.
“Demos passos concretos para nos consolidar como um ecossistema do esporte.”, disse Zemel. “Sabemos que esse é um desafio grande e que, como no esporte, exige um trabalho de equipe. Esperamos que essas unidades gerem valor umas para as outras.”
Os papéis que cada uma das divisões desempenhará nesse enredo já estão definidos. A Centauro será o pilar de distribuição. A Nike, de oferta de produtos e marcas, e, a NWB, de geração de conteúdo e engajamento.
“Temos dois focos iniciais. Um deles é a redução no custo de aquisição de clientes, com a NWB”, afirmou o executivo. “E o outro, o aumento da recorrência e no gasto médio nesse ecossistema, por meio de uma iniciativa de membership, que ofereça vantagens cruzadas nessas unidades.”
Rebatizada de Fisia, a operação local da Nike teve uma receita total de R$ 2,4 bilhões em 2020. Em linha com o seu histórico, 70% das vendas vieram do atacado e 30% do modelo direct-to-consumer, que inclui outlets e o site nike.com.br. O grupo SBF incorporou, em seu resultado do ano, um faturamento de R$ 240,3 milhões da Fisia, relativo a dezembro.
“Nosso foco para Fisia é impulsionar o crescimento do digital, que tem rentabilidade duas vezes maior do que outros canais”, disse Zemel. Ele ressaltou outras prioridades dessa agenda, como expandir a operação em marketplaces e a criação de uma plataforma omnichannel para a marca.
Nesse caso, um dos recursos será a maior integração com a Centauro. “Levando-se em conta, especialmente, que podemos usar as lojas da Centauro como hubs físicos para a Fisia”, observou Zemel. O pacote inclui ainda frentes como mais investimentos em marketing digital.
Já no contexto da NWB, cujos canais somam mais de 60 milhões de inscritos no YouTube e mais de 80 milhões de seguidores no Instagram, uma das prioridades será ampliar as fontes de receitas. Nessa direção, estão iniciativas como criação de novos canais, de peças e campanhas para marcas e de ações de social commerce.
Zemel fez questão de frisar, no entanto, que a operação seguirá independente. “Eles sabem qual é o caldo para engajar audiência e desenvolver conteúdo. Não vamos interferir nesses processos”, disse. “O que vamos fazer é apoiar com tecnologia e investimento para que esses canais ampliem seu alcance.”
O executivo acrescentou que a busca por novas aquisições e ativos segue no radar do grupo SBF. Entretanto, esse processo, em 2021, estará restrito a investimentos de menor porte, possivelmente, em startups.
“Não imaginamos fazer nenhum grande movimento de M&A em 2021. Nesse ano, o foco é conectar essas unidades e provar que a tese do ecossistema gera valor”, afirmou Zemel. Ele observou, porém, que cheques maiores podem voltar a ser assinados no médio prazo.
“Temos que estar presentes em todas as etapas da jornada esportiva”, destacou. “E para chegar ao nível de profundidade que precisamos, entendemos que é necessário conectar com clientes por diversos ângulos. E para isso, podemos fazer novas aquisições.”
Resultado
No quarto trimestre, o lucro líquido do grupo SBF caiu 91,1%, para R$ 15 milhões. No resultado do consolidado de 2020, o grupo SBF registrou um prejuízo de R$ 113 milhões, contra um lucro líquido de R$ 310 milhões, um ano antes.
A receita líquida avançou 28,3% entre outubro e dezembro, para R$ 1,09 bilhão. Entretanto, no ano, houve uma queda de 5,4%, para R$ 2,4 bilhões.
No caso da operação da Centauro, a receita líquida cresceu 8,5% no quarto trimestre, para R$ 924 milhões. Em 2020, o indicador recuou 12,1%, para R$ 2,23 bilhões. O GVM da operação digital saltou de uma participação nas vendas totais de 18,3%, em 2019, para 35,6%, no ano passado.
Em relatório, o Credit Suisse classificou os números reportados como um resultado “decente”. “Apesar de estarmos um tanto preocupados com o cenário geral de consumo para este ano, acreditamos que a tese de investimento da empresa ainda tem aspectos sólidos, sustentados por sua execução bem azeitada e oportunidades abundantes”, escreveram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.
Avaliada em R$ 6,79 bilhões, a companhia acumula uma queda de 5,1% na cotação de seus papéis em 2021, levando-se em conta o preço do fechamento do pregão da terça-feira. Nesta quarta-feira, as ações da companhia, já sob o novo código, operavam em alta de pouco mais de 1%, por volta do meio-dia.