Dionne Warwick tem orgulho do apelido que recebeu, “rainha do Twitter”, algo inusitado para uma octogenária. Desde que aprendeu a usar a voz na rede social, a artista com mais de 60 anos de carreira na música se reinventou, dando um show com tweets espirituosos.

“Faço com que notem a minha presença no Twitter”, disse a diva de hits como “What the World Needs Now” e “I Say A Little Prayer” que soma mais de 500 mil seguidores. Desde que abriu sua conta, no final do ano passado, sua popularidade só aumenta entre os jovens.

Com autenticidade e bom humor, ela assume fazer uma espécie de cruzada para limpar um pouco a maldade e a sordidez que circula virtualmente. “Quero que as crianças saibam que um adulto está no meio deles”, brincou a cantora, em painel online do Festival de Toronto, que teve cobertura do NeoFeed.

Dionne foi uma das atrações desta 46ª edição do evento canadense, encerrado ontem (sábado, dia 18), onde apresentou o documentário “Dionne Warwick: Don’t Make Me Over”. Ao recapitular sua vida, o filme lembra como ela transcendeu as barreiras raciais com sua música e ainda lutou pela conscientização da epidemia da Aids, em momento em que poucos artistas falavam publicamente da doença.

A cantora de pop e R&B aproveitou para promover o próprio filme no Twitter, onde consegue se impor com um estilo próprio, mais compatível com o de uma lady. “Você precisa aprender a dizer o que quer, mas com um sorriso. E não com uma carranca, que dá rugas”, afirmou ela.

Até o CEO do Twitter Jack Dorsey entrou em contato com a cantora, impressionado com a sua desenvoltura no meio dominado por jovens. “Jack ficou empolgado ao saber que encontrei o meu espaço nesse mundo digital. E eu também fiquei. Até já percebo a mudança de tom”, contou a cantora, que vê seus tweets muitas vezes abordados pelo programa humorístico “Saturday Night Live”.

Uma de suas publicações mais comentadas foi endereçada a Chance the Rapper, de 28 anos. “Se você é obviamente um rapper, por que colocou isso em seu nome artístico?”, perguntou a cantora na plataforma. Uma dúvida que deve ter passado pela cabeça de muitos, mas coube a Dionne questionar. “Desculpe, ainda estou surtando por você saber quem eu sou. Isso é incrível!”, respondeu ele.

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“Desde o início, deixei claro que faria muitas perguntas, por ser muito intrometida”, disse a cantora, rindo. “E queria que eles me perguntassem coisas também. Aprendo muito com eles e espero que eles também aprendam comigo, o que parece estar acontecendo”, completou Dionne, que passou a atingir um novo público com a plataforma.

Quem a ensinou a usar o Twitter foi Brittani Warwick, sua sobrinha. “Em uma noite na minha casa, meus filhos e meus sobrinhos riam muito na minha sala, enquanto seus polegares trabalhavam feito loucos no celular”, contou ela.

Quando Dionne perguntou o que estava acontecendo ali, Brittani mostrou a movimentação no Twitter. “Só que eu não gostei do que vi. Perguntei por que havia tanto xingamento e crítica. Quando ela disse que isso é o que as pessoas fazem, percebi que aquilo tinha de acabar”, afirmou a cantora, que prefere dizer as verdades “com elegância”.

Uma das cenas do documentário recorda o episódio em que Dionne confrontou os rappers Snoop Dogg, Tupac e Suge Knight. Nos anos 1990, ela marcou uma visita do trio, às 7h da manhã de um sábado, em sua casa, para reclamar da violência e da misoginia nas letras de suas músicas. E no final, eles concordaram com Dionne.

O documentário com direção de Dave Wooley e David Heilbroner traça um perfil da artista que começou a cantar música gospel no coro da igreja. Desde que lançou o seu primeiro single, com “Don’t Make Me Over’’, em 1962, ela foi abrindo caminho para o reconhecimento da black music – em uma época em que havia uma divisão entre música pop e black music.

A vencedora de cinco prêmios Grammy, que acabou vendendo mais de 100 milhões de discos, ainda usou a sua visibilidade em nome de causas humanitárias ao longo da carreira. Foi iniciativa dela gravar a canção “That’s What Friends Are For”, em 1985, com Elton John e Stevie Wonder, entre outros, para arrecadar fundos para a amfAR, a Fundação para a Pesquisa da Aids.

No documentário, ainda sem data para estrear no Brasil, Dionne chega a lembrar outro de seus feitos. Ela foi a pessoa que pressionou Ronald Reagan (então presidente dos EUA) a dizer a palavra “Aids” em voz alta pela primeira vez, em uma coletiva de imprensa.

“Agora o público terá acesso à história verdadeira”, disse a cantora, comentando a sua motivação para rodar o documentário sobre sua vida. “Não tenho nada a esconder e tenho orgulho de quem sou e de tudo que conquistei”, afirmou Dionne, com o ar de diva que lhe cai muito bem.