Nesta semana, por força do hábito – e da profissão –, o médico Sidney Klajner contou cada um dos 7,7 mil passos dados nas três vezes em que percorreu a passarela que parte do Hospital Israelita Albert Einstein, no bairro do Morumbi, em São Paulo, e atravessa a avenida Padre Lebret.

Não à toa, a estrutura leva o nome de Portal do Conhecimento. Na outra ponta do trajeto, está localizado o Centro de Pesquisa e Ensino (CEP), o mais novo projeto da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, mantenedora do hospital e presidida por Klajner.

Distribuída em uma área de 44 mil metros quadrados e com capacidade para receber 3 mil pessoas, a unidade é fruto de um investimento de R$ 700 milhões. E representa um grande passo na trajetória de 51 anos da instituição.

“Esse espaço será o centro nervoso que irá convergir todos os nossos pilares: a assistência, o ensino e a educação, e a pesquisa e a inovação”, diz Klajner, ao NeoFeed. “Hoje, essa interação já existe, mas o CEP vai facilitar ainda mais a conexão entre essas áreas.”

O centro começou a tomar forma há cerca de cinco anos, quando o Einstein escolheu o israelense Moshe Safdie para desenhar o projeto. Em seu portfólio, o arquiteto trazia a assinatura de instalações como o Museu do Holocausto, em Israel, e o Instituto da Paz, em Washington (EUA).

Financiado por doadores, entre pessoas físicas e jurídicas, que preferem se manter no anonimato, e pela geração de caixa do próprio Einstein, o projeto teve sua pedra fundamental lançada no fim de 2018 e irá reunir toda a estrutura de pesquisa e uma boa parcela dos cursos ofertados pela instituição

Assim como Klajner, outros elos ligados ao grupo já estão preenchendo esse novo espaço. Dos alunos das faculdades de Medicina e de Enfermagem, cujas aulas tiveram início em março, aos médicos do hospital anexo, que também estão percorrendo a passarela e interagindo com esses estudantes.

Formada por cerca de 270 pessoas, entre funcionários, bolsistas, alunos de iniciação científica e pesquisadores visitantes, a área de pesquisa, que hoje ocupa metade de um andar do hospital no Morumbi, irá se instalar no CEP em junho, quando está prevista a inauguração oficial do projeto.

No centro, esses pesquisadores terão acesso a uma série de instalações com recursos bastante avançados, conectados a tecnologias e conceitos como big data, ferramentas analíticas, inteligência artificial e machine learning.

Além do Centro de Terapia Celular e o Centro de Biologia Experimental, um dos espaços será dedicado ao Centro de Genômica, que ajuda a entender a interação que o CEP terá com outros braços do Einstein. Nesse caso, com o Centro de Medicina Personalizada, inaugurado pelo grupo no fim de 2021.

Sob o conceito de medicina personalizada, o Einstein estuda sequenciamentos do genoma para identificar se uma pessoa tem propensão a desenvolver uma determinada doença e qual seria o tratamento mais indicado para a cura daquele paciente.

Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

“A base da medicina personalizada precisa de um arcabouço de pesquisa para trazer respostas rápidas aos médicos e isso só é possível fazer com big data, inteligência artificial e machine learning”, diz Klajner. “E essa será a base do laboratório de genômica.”

Da mesma forma, o CEP trabalhará conectado a operações com o time de big data do Einstein, composto por 130 cientistas de dados, e o Eretz.bio, incubadora de startups e hub de inovação da instituição. Especialmente para testar, ratificar e validar os protótipos e projetos desse ecossistema.

Com o centro, o Einstein também entende que tem mais condições para atrair pesquisadores estrangeiros e mesmo repatriar profissionais brasileiros. Assim como conseguirá atrair mais parcerias e conexões com outras instituições, tanto em ensino como em assistência e pesquisa.

Atualmente, o grupo tem parcerias com o City of Hope, hospital da Califórnia (EUA) que é uma das referências globais em pesquisa de câncer e diabetes. Já na área de ensino, um dos acordos envolve a universidade americana Case Western Reserve, para o intercâmbio de alunos do doutorado.

Outra instalação que traduz os avanços incluídos no CEP é o laboratório de Car-T Cells voltado ao tratamento de linfomas. Entre outros recursos, essa estrutura contará com uma sala limpa, onde será possível manipular células sem risco de contaminação.

Na visão de Klajner, o centro ganhou ainda mais relevância com a Covid-19. “A pandemia ressaltou que a educação e a capacitação em saúde são mais urgentes em um País como o nosso”, diz. “E a pesquisa também mostrou o seu valor, ao permitir que respondêssemos muitas perguntas em tempo recorde.”

Entre as respostas dadas pelo corpo de pesquisa do Einstein estão estudos que comprovaram a falta de eficácia de alguns medicamentos no tratamento da Covid-19 e o primeiro teste genético para a identificação do vírus. Klajner entende que o CEP abre uma nova escala para ir ainda mais longe.

“O CEP é um ambiente de primeiro mundo, para fazer pesquisa de ponta”, diz Klajner, que chama a atenção para o corte crescente do financiamento à pesquisa no País. “Isso teve início no atual governo. E, se não há investimento público, essas questões precisam ser resolvidas por recursos privados.”

Investimento anual

No caso do Einstein, o investimento anual em pesquisa gira em torno de 1,2% a 1,4% da receita da instituição, que foi de R$ 2,9 bilhões em 2020, último dado divulgado pelo grupo. Esse montante, em média, é de R$ 100 milhões, o que inclui, além do caixa próprio, recursos externos.

Atualmente, são 773 projetos de pesquisa em andamento. Parte dessas iniciativas conta com o apoio de doadores e o financiamento de empresas de setores como a indústria farmacêutica. Entre eles, Pfizer, Novartis e Aché. O Einstein criou a Academic Research Organization para a contratação desses projetos.

“Já na área de educação, nosso plano é sempre trabalhar no break even e nunca ser um gerador de lucro”, explica Klajner. “Tudo aquilo que excede o resultado é reinvestido em bolsa de estudos e para que não tenhamos um preço exagerado na mensalidade, perto da média do mercado.”

Em cada turma dos cursos do Einstein, 20% dos alunos têm acesso a bolsas de estudos. Já a mensalidade da graduação de Medicina gira em torno de R$ 8,5 mil a R$ 9 mil.

Com opções que incluem desde cursos técnicos profissionalizantes até graduação, pós-graduação e residência médica, entre outras modalidades, o Einstein saltou de uma base de 43 mil alunos, em 2019, para mais de 100 mil estudantes, a partir do reforço dos conteúdos de educação a distância.

Parte das instalações do Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein

Além do CEP, a estrutura de educação do grupo envolve mais oito unidades, sendo seis na capital paulista e as outras duas em Belo Horizonte (MG) e no Rio de Janeiro (RJ). Com o novo centro, o Einstein também está expandindo sua oferta.

Na graduação, formada, até então, pelos cursos de Medicina e Enfermagem, o grupo deu início, nesse ano, à primeira turma de Fisioterapia. Outros três cursos já estão aprovados com nota máxima no Ministério da Educação e começarão a ser ofertados em 2023: odontologia, engenharia biomédica, e administração e saúde. Esse último, será sediado justamente no CEP.

Assim como o Einstein, outros hospitais e redes de renome do País têm braços de educação e pesquisa. Mantido pelo Sírio-Libanês, o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) oferece cursos de pós-graduação e programas de residência, entre outras opções, além de realizar pesquisas e prestar consultorias a empresas.

Já a Rede D’Or conta com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, com um leque que vai de cursos de curta duração à residência e que, em pesquisa, mantém mais de 100 profissionais, entre pesquisadores, colaboradores e professores.