O executivo Maurício Cascão tem pouco mais de duas semanas como CEO da Mosaico, dona dos sites de comparação de preços Buscapé, Zoom e Bondfaro. Mas ele mal teve tempo para fazer uma adaptação conforme o figurino. “Aqui não temos tempo”, disse Cascão, ao NeoFeed, em sua primeira entrevista à frente da companhia. “Já entrei jogando.”
A frase de Cascão não é apenas uma brincadeira para quebrar o gelo da conversa. Ao contrário. No caso da Mosaico, velocidade é uma palavra que o mercado está cobrando da empresa desde que a companhia abriu o capital, em fevereiro deste ano, captando R$ 1,25 bilhão em uma oferta primária e secundária.
Nesta quinta-feira, 2 de setembro, a Mosaico dá seu primeiro passo para entrar em serviços financeiros, uma promessa da época do IPO, e tentar mudar a visão de uma parte dos analistas de que a companhia está lenta na execução de seu plano, ao mesmo tempo que os rivais estão em ritmo acelerado.
A Mosaico está iniciando a pré-reserva do Bcash, seu cartão de crédito sem anuidade em parceira com o BTG+. O plano é que ele esteja disponível para os consumidores na primeira quinzena de outubro. “Estamos dando início ao nosso front financeiro”, afirma Cascão.
O Bcash vai oferecer um cashback de 2% para compras realizadas através do site do Buscapé. Fora dele, será de apenas 1%. Mas o grande atrativo do cartão será a garantia de preço mínimo, uma novidade no mercado brasileiro.
A ideia da Mosaico é usar as ferramentas de comparação do Buscapé, como os alertas de preço, para que durante um período de até 10 dias depois da compra possa devolver o dinheiro caso o produto adquirido baixe de preço. “Esse prazo pode ser aumentado”, diz Cascão. A companhia está também em negociação final para definir qual bandeira usará no Bcash. A disputa está entre Visa e Mastercard.
Em comparação com os rivais mais próximos, o Bcash terá uma oferta melhor de cashback em sua largada. O cartão do Méliuz, em parceria com o Banco Pan, oferece 1,8% de dinheiro de volta, sendo que 0,8% na fatura e 1% extra em compras online feita em parceiros da companhia. O Banco Inter trabalha com percentuais que variam de acordo com o tipo de cartão. No Gold, o retorno é de 0,25% e no Win, 1,25%.
Cascão evita fazer previsões da quantidade de consumidores que conseguirá atrair com o Bcash, mas acredita que a chegada do cartão de crédito vai ser importante para complementar a jornada de compra dos consumidores da Mosaico.
A percepção é de que a Mosaico estava se tornando um ponto de passagem do consumidor online brasileiro, que iam até os sites de comparação de preço consultar as melhores ofertas e “fugiam” para um rival que oferecia cashback ou um cartão de crédito com vantagens para concluir a compra.
A plataforma de cashback, que foi ao ar em maio, foi o primeiro passo para reter o cliente. Mas ela está escalando aos poucos. Hoje, cerca de 50% do GMV da Mosaico já oferece ofertas de cashback na plataforma e Cascão diz que está em fase final de negociação com dois importantes varejistas que vão fazer esse número dar um salto rapidamente.
Com a plataforma do cashback, a Mosaico botou no ar a carteira digital Bcash, que recebe os recursos quando o dinheiro retorna para o usuário. “Posso dizer que já temos dezenas de milhares de clientes que têm a ‘wallet’ da Bcash e um percentual desses clientes vai contratar o cartão de crédito”, afirma Cascão.
Em julho, a Mosaico também lançou sua plataforma de cupons de descontos e promoções, com centenas de varejistas integrados ao ecossistema da companhia, em mais um passo para manter o usuário engajado e aumentar sua retenção. O cartão de crédito, até agora, era a peça que faltava nessa estratégia.
O próximo passo, diz Cascão, é começar a agregar mais serviços financeiros ao Bcash, que será também um aplicativo. O que está na mesa neste momento, informa o CEO da Mosaico, são as ofertas de garantias estendidas a produtos eletroeletrônicos – essa vertical é forte para a companhia – e de seguros para celulares.
Em comum em todas essas iniciativas está o BTG Pactual, que é dono de uma fatia de 13,1% da Mosaico. “Somos um parceiro para apoiar a Mosaico na frente financeira”, diz Flavia Janini, head de produtos e serviços transacionais do BTG+.
O banco de André Esteves está por trás da carteira digital Bcash e também deve lançar um marketplace do Buscapé no BTG+, ao estilo do que o Banco Inter faz. A instituição ajudou também na plataforma de cashback, bem como agora é a emissora do cartão que chegará ao mercado em outubro.
A pergunta, no entanto, é se o mercado vai achar suficiente esses novos serviços para retomar a confiança na execução da empresa. “A Mosaico está em um cenário muito concorrido e está lenta em fazer inovações”, diz Bruno Rosolini, analista do setor de tecnologia da Genial. “Cashback e cartão de crédito é o que toda a empresa deve ter.”
Rosolini, que tinha uma visão otimista no IPO da Mosaico, mudou sua percepção em relação à empresa e baixou o preço-alvo da ação de R$ 30 para R$ 13. “Esperava novas aquisições e algum produto novo que não fosse cópia de alguém”, diz o analista. “Com a troca do CEO, esperamos alguma mudança neste sentido.”
A visão do analista da Genial, no entanto, não é consenso. A XP manteve o preço-alvo da ação da companhia em R$ 38, apesar dos resultados ruins do segundo trimestre, com quedas expressivas no GMV, nas visitas totais aos sites e no lucro. Nesta quarta-feira, 1 de setembro, o papel fechou cotado a R$ 12,46. Desde a abertura de capital, a ação se desvaloriza 37,1%. Atualmente, a companhia é avaliada em R$ 1,7 bilhão.
O analista da Genial critica também a lentidão da Mosaico em fazer fusões e aquisições desde o IPO, quando, do total captado, R$ 578 milhões foram para o cofre da empresa. Até agora, a companhia anunciou apenas a compra da Vigia do Preço, uma extensão para o navegador Chrome que acompanha o usuário em sua navegação e envia alertas de ofertas ligadas aos sites em que o consumidor entra.
Sobre essa assunto, Cascão avisa: “A nossa visão é de longo prazo e, hoje, está fácil fazer o M&A errado. Tem muito ativo inflacionado e muita coisa com baixo grau de maturidade com preço alto.” Mas conclui: “É muito improvável que não façamos um ou duas aquisições até o fim do ano.”
O CEO da Mosaico diz que a prioridade número um em aquisições são ativos de conteúdo, pois se trata de um diferencial muito forte dos sites da companhia. Na sequência, sem dar detalhes, são empresas que tenham “artefatos que podem trazer mais volume e novidades tecnológicas.”