As câmeras da GoPro já registraram escaladas de montanhas, surf em altas ondas e saltos de precipícios. Nos últimos cinco anos, a companhia tem vivido tão perigosamente quanto seus consumidores.

Famosa por suas câmeras compactas de ação. a GoPro estreou na Nasdaq em 2014 valendo US$ 3 bilhões e teve uma ascensão meteórica logo no início. No auge, chegou a valer quase US$ 12 bilhões. Seu CEO e fundador, Nick Woodman, foi, inclusive, comparado a Steve Jobs.

Mas, desde novembro de 2015, a companhia vem em uma queda vertiginosa no valor de suas ações. Atualmente, vale US$ 928 milhões, uma desvalorização de 93,6% desde seu melhor momento, e de 75,2% do valor de seu IPO, quando seus papéis foram comercializados a US$ 24 na estreia, em junho de 2014.

Em meio a essa turbulência, no entanto, a GoPro tem algumas poucas boas notícias para comemorar: as suas ações estão se valorizando em 2020. Elas já avançaram 159% desde 11 de março, quando chegaram ao valor mais baixo de sua história. Motivo? O seu serviço de armazenamento na nuvem de fotos e vídeos começa a ganhar tração e conquistar uma base de consumidores.

No começo de outubro, a marca anunciou que o número de assinantes do GoPro Plus, seu serviço de armazenamento, chegou a 500 mil assinantes. A expectativa é atingir 700 mil até o fim deste ano. Foi o suficiente para animar os investidores. Só em 8 de outubro, os papéis avançaram mais de 30%.

É pouco ainda para uma empresa que já foi uma das sensações da Nasdaq e hoje tem dificuldade para conseguir chegar a uma avaliação de US$ 1 bilhão. Mas é um alento depois de várias tentativas frustradas para conseguir retomar o velho brilho do passado.

E não foram poucas as tentativas. Uma delas foi entrar no mercado de drones. Mas um problema técnico no Karma, o seu modelo, abateu logo de início essa iniciativa que parecia promissora.

"A GoPro teve de fazer o recall do seu drone em novembro de 2016, pouco depois de lançá-lo, porque ele perdia potência em pleno voo", afirmou Nicholas Torodov, analista da consultoria Longbow Research.

Outra iniciativa foi a criação de uma divisão de entretenimento, em 2015, para torná-la em uma empresa de mídia. Executivos da Hulu, HBO e CBS foram contratados. No ano seguinte, a GoPro lançou uma série de canais de vídeos em plataformas como Xbox Live e Roku. A ideia não deu certo e foi encerrada em 2017.

“Depois do IPO, experimentamos estratégias de monetização com parcerias com marcas, produções originais e distribuição de conteúdo”, disse um porta-voz da GoPro, na época. “A rápida escala da produção, no entanto, não entregaria um rápido retorno.”

Ao mesmo tempo que uma série de iniciativas deu errado, a GoPro assistiu ao surgimento de diversos concorrentes no setor de câmeras de ação, área em que reinava quase que sozinha, um mercado estimado em US$ 3,5 bilhões, segundo a Global Market Insight.

A chinesa DJI, por exemplo, que por dois anos lançou modelos de drones equipados com câmeras da GoPro, declarou sua independência na virada de 2016 para 2017, com o Phantom 4 Series. Equipado com visão computacional e sensores, o modelo foi eleito o mais seguro da categoria e sua câmera própria entregava excelente resolução.

No mundo esportivo, outros players reivindicaram seu espaço. O principal deles é a japonesa Sony, que colocou no mercado dois modelos para enfrentar a câmera dos americanos: a HDR-AS10 e a HDR-AS15.

Outra dessas empresas é a chinesa Insta360, que levantou US$ 30 milhões em investimentos com Everest Venture Capital, MG Holdings e Huajin Capital. Nos Estados Unidos, o seu marketing é baseado em descontos para quem quiser trocar sua GoPro por uma das câmeras de sua marca.

Nas nuvens 

O serviço de armazenamento GoPro Plus animou os investidores, mas há dúvidas se ele é suficiente sustentar esse ânimo por mais tempo.

O motivo é simples. O crescimento dos números de assinantes está baseado em uma estratégia de subsídios. A GoPro vende a sua mais moderna câmera, a Hero9, com um ano de assinatura no GoPro Plus, por US$ 349,98. Sem a assinatura do serviço de nuvem, ela é vendida por US$ 449,99.

"Sabemos que existe a necessidade de fomentar a plataforma, mas se a GoPro não conseguir reter esses usuários, o estrago será grande", afirma Torodov, da Longbow Research.

Desde 2016, a GoPro acumula prejuízos ano a ano. Em 2016, a marca teve perdas de US$ 419 milhões. Em 2017, US$ 128,8 milhões. Em 2018, US$ 109 milhões e, em 2019, US$ 14,6 milhões. Nos dois primeiros trimestres deste ano, a lógica não se inverteu. E a fabricante de câmeras de ação está no negativo em US$ 109,9 milhões.

No dia 5 de novembro, a companhia vai divulgar os dados de seu terceiro trimestre de 2020. Será a hora da verdade para saber se a companhia vai conseguir reverter a sua queda livre dos últimos. Se conseguir um bom resultado, será um avanço. Voltar a brilhar, como no passado, ainda é uma imagem que não dá para registrar. Nem com suas câmeras.

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