Desde o ano passado, a Tivit está em busca de um comprador para dar saída para o Apax Partners, fundo que controla a companhia de serviços de tecnologia desde 2010, quando pagou aproximadamente US$ 1 bilhão (R$ 1,6 bilhão, levando-se em conta o câmbio da época).
Agora, o desfecho dessa busca pode estar próximo. A Telefónica da Espanha está negociando a compra da Tivit, em um negócio que pode chegar a R$ 3 bilhões, de acordo com fontes a par das conversas.
Segundo apurou o NeoFeed, as negociações estão avançadas, mas não há garantia de que o negócio será fechado – até agora, não foi feita nenhuma proposta firme pelo ativo.
Na quinta-feira, 10 de junho, o fundador e CEO da Tivit, Luiz Mattar, que ainda tem mais de 4% da empresa, e o diretor financeiro, Paulo Freitas, participaram de uma reunião com representantes da Telefónica para tratar da venda.
O negócio está sendo conduzido pela Telefónica da Espanha – mas os executivos brasileiros da operadora sabem das tratativas. O objetivo é integrar os ativos da Tivit com o da Telefónica Tech (T-Tech), filial criada em 2019, a partir de uma reorganização dos negócios do grupo espanhol.
A Tivit tem dito a potenciais compradores que o Ebtida estimado para 2021 deve ficar na casa dos R$ 300 milhões. Se for considerado um múltiplo de 10 vezes o Ebitda, o valor da empresa seria de R$ 3 bilhões (aproximadamente US$ 591 milhões, ao câmbio atual).
Ao longo dos dois últimos anos, a Tivit sondou potenciais compradores via diversos bancos de investimentos. Entre eles, J.P.Morgan, Credit Suisse e Itaú BBA. Os números mostrados aos investidores eram parecidos. Em 2020, a receita estimada era de R$ 1,5 bilhão. Neste ano, a previsão é chegar a R$ 1,7 bilhão.
A Tivit está em 10 países da América Latina e mais de 20% de seu faturamento é de fora do Brasil. Os 10 maiores clientes da Tivit representavam mais de 30% da receita em 2020. Um ano antes, os top 10 respondiam por uma fatia de quase 45%. Segundo apurou o NeoFeed, isso se deve a perda de alguns clientes importantes. Entre eles, a Fidelity.
O interesse da Telefónica é na área de serviços da Tivit, que atua em negócios digitais, computação em nuvem, pagamentos e plataformas tecnológicas. A empresa seria incorporada pela T-Tech, que surgiu para cuidar de negócios de serviços digitais, como computação em nuvem, cibersegurança e internet das coisas (IoT, da sigla em inglês). No futuro, a expectativa é que essa filial possa abrir o seu capital.
A empresa do grupo espanhol está começando a ser estruturada na região. Em novembro do ano passado, a Telefônica Brasil vendeu seu braço de soluções de cibersegurança, a CyberCo Brasil, para a T-Tech, em uma operação avaliada em R$ 116,4 milhões.
Com a Tivit, a T-Tech ganharia um faturamento bilionário e uma presença na América Latina para que essa filial possa fazer frente a empresas como IBM, Accenture, Stefanini e BRQ, que seriam os potenciais concorrentes da companhia.
A empresa controlada pela Apax Partners conta também com uma área de data centers. Mas, mundialmente, a Telefónica deixou esse negócio, vendendo seus ativos para o fundo Asterion, que criou a empresa Nabiax. É provável, pelo histórico, que o grupo espanhol não fique com esses ativos da Tivit, vendendo os para outros players do mercado.
A Apax Partners comprou a Tivit em 2010 e fechou o seu capital. Desde então, tentou voltar a abrir o capital da companhia por duas vezes: em 2017 e 2019. Nas duas ocasiões, o IPO não foi adiante.
Em 2017, a meta da Tivit era captar R$ 1,4 bilhão. Mas a demanda bem abaixo do piso de R$ 43 fez a companhia desistir da oferta. Dois anos depois, a situação se repetiu e a companhia desistiu do IPO, citando as condições adversas do mercado.
Após falhar em se tornar pública, a Tivit começou a sondar a sua venda para companhias estratégicas. Em agosto do ano passado, o NeoFeed publicou que o Itaú BBA tinha sido contratado para tentar vender a Tivit – em 2019, a empresa tentou se desfazer exclusivamente do negócio de data center, mas não encontrou compradores.
Para valorizar o ativo, a Tivit está tentando se vender como uma empresa digital, se comparando até com a Locaweb, cuja valor de mercado é de R$ 15,2 bilhões. Atualmente, mais de 50% da receita da Tivit é da área digital e de computação em nuvem.
No ano passado, a companhia também lançou a Tivit Ventures, com a meta de investir R$ 400 milhões para comprar 10 startups de software as a service até 2025. O primeiro negócio foi com a Privally, especializada em gestão de segurança e privacidade com foco na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), anunciado em dezembro do ano passado.
Em abril deste ano, a Tivit fez a segunda aquisição, com a compra da DevApi, startup de integração de sistemas e gestão de API. Nos dois casos, os valores dos negócios não foram divulgados.
Procurada, a Tivit informou, por meio de nota, “que não comenta rumores de mercado e que continua focada na execução de sua estratégia, que tem levado a sólido crescimento e resultados expressivos”. A Telefônica Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, não quis fazer comentários para essa reportagem.