Ao longo de três décadas no comando da companhia de tecnologia Stefanini, o fundador e CEO Marco Stefanini, 61 anos, se notabilizou pela experiência e habilidade em costurar fusões e aquisições mundo afora. “Já foram mais de trinta desde que a empresa foi criada”, diz Stefanini ao NeoFeed.

Essa máquina de compras fez da companhia uma gigante com presença em 41 países, 27 mil funcionários e um faturamento que deve bater em R$ 4,8 bilhões neste ano. Mas foi nos últimos cinco anos que a Stefanini passou a criar e comprar startups e empresas digitais, com mais velocidade, numa divisão chamada Stefanini Ventures.

No total, foram 12 companhias, entre elas a de marketing Gauge e a de nuvem TecCloud, e, segundo Stefanini, foi o suficiente para comprovar a tese do investimento. “O nível de retorno é altíssimo. Os valores que as empresas da unidade Ventures têm hoje versus o que a gente investiu são muito maiores”, diz Stefanini. “Tem empresa que multiplicamos o lucro por 20.”

Pois, agora, Stefanini quer botar esse seu track-record à prova no mercado. Ele anunciou com exclusividade ao NeoFeed que vai lançar um fundo de venture capital separado de sua companhia. Ainda sem nome definido, ele deverá captar R$ 300 milhões e deve iniciar suas operações em agosto.

A ideia de criar um fundo de venture capital veio depois de muitos pedidos de family offices interessados no conhecimento e faro de Stefanini, principalmente, no mercado digital. “Tem um monte de gente montando fundo. Virou uma febre”, diz ele. E prossegue. “Há uma sede por empresas digitais. Mas nós temos muito conhecimento e já comprovamos essa tese”, afirma.

Além, obviamente, da demanda de investidores, Stefanini também resolveu entrar nesse mercado por conta de oportunidades que, em muitas ocasiões, ele deixa passar. O empresário afirma que, mensalmente, chegam entre 30 e 40 empresas para ele e a sua equipe de M&A analisar. “Muitas não têm sinergia com o nosso negócio, mas são empresas boas”, afirma. A ideia é também aproveitar esse funil.

Por enquanto, o fundo está sendo estruturado pelo próprio Stefanini e pelo CFO global da companhia, o executivo Marcelo Louro, mas, em breve, Stefanini vai anunciar um sócio. “Pode ser outro fundo de venture capital ou um family office”, diz Stefanini, ressaltando que ele pretende colocar dinheiro do próprio bolso no fundo.

A quantia exata que ele deve aportar ainda está sendo estudada. “Não pode ser pequena e também não muito grande”, afirma. A captação começará em julho e, depois de atingida a meta, o fundo vai se concentrar em comprar participações que variam entre 10% e 40% de empresas que já tenham uma solução rodando. E os valores dos cheques vão depender caso a caso.

“Buscaremos companhias que já tenham uma base de clientes e que precisam alavancar”, diz Stefanini. Não há ainda um setor de atuação definido. “Vai depender do sócio que entrar conosco”, diz ele. Mas o empresário deixa claro que não vai olhar apenas companhias que sejam nativas digitais.

“Empresas com grande potencial de digitalização serão analisadas”, afirma. O próprio Stefanini vai atuar ajudando na gestão das investidas e serão, no máximo, 15 companhias. “A minha ideia é não ter empresas de muitos setores diferentes. Queremos agrupar empresas que tenham sinergias”, afirma.

Com tanto dinheiro disponível no mercado para investimentos em startups, cada vez mais a decisão dos fundadores tem sido por sócios estratégicos, aqueles que agregam com dinheiro e conhecimento. Stefanini vai reunir as duas características e mais um fator: abrir portas.

Ele é um dos empresários mais bem relacionados do País e também conta com muitas conexões internacionais. Além de comandar a empresa que fundou, é Co-Chair pelo lado brasileiro do Fórum de CEOs Brasil-Estados Unidos, para criar uma agenda conjunta de desenvolvimento entre os dois países.

Abilio e Lemann

O caminho que Stefanini está trilhando no mundo dos investimentos não é novo. Outros empresários já fizeram – ou estão fazendo – o mesmo. O caso mais famoso é o de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira com o fundo 3G. Eles não investem apenas dinheiro do próprio bolso nas empresas que compram.

O empresário Abilio Diniz é outro que se prepara para colocar a equipe de gestão do private equity de sua Península Participações para rodar no mercado. Em recente entrevista ao NeoFeed, ele afirmou que até julho todo o processo legal terá sido completado e o private equity será aberto para outros investidores.

Quanto o empresário pretende captar junto à investidores institucionais e outros family offices? “Eu sempre pensei em números grandes, não tem limite. A questão é a seguinte: ‘o que você tem a oferecer para os investidores?’. Quando você tem um bom produto, os investidores vêm”, disse Diniz.

Seguindo a tese de Diniz, Stefanini pode dizer que tem bons números para apresentar. “Em cinco anos, de 2016 até 2021, estamos multiplicando o faturamento das empresas da área de ventures por seis vezes e o Ebitda por 15 vezes”, afirma Stefanini. Mas é sempre bom lembrar a velha máxima do mundo dos investimentos: “retorno passado não é garantia de rentabilidade futura.”