Quando começou a formular a Globo Ventures, ainda em 2020, Roberto Marinho Neto, um dos herdeiros do grupo de mídia carioca, costumava dizer que “não entendia muito de investimento, mas tinha bom senso”. Quase três anos depois, ele agora afirma que é justamente este bom senso que vem faltando ao mercado de venture capital.

Em participação no Macro Vision 2022, evento promovido pelo Itaú BBA nesta quinta-feira, 8 de dezembro, Marinho Neto debateu ao lado de Anderson Thees, managing partner da Redpoint ebentures e venture capitalist do Itaú, sobre cenário atual de startups e as perspectivas para um 2023 ainda desafiador.

Marinho Neto, que é o atual CEO da Globo Ventures, se refere ao frenesi que tomou conta do mercado de venture capital nos últimos anos e que supervalorizou empresas de tecnologia que chegaram a valuations exorbitantes graças ao grande fluxo de capital disponível para investimento.

“Fizemos muito menos investimentos do que gostaríamos porque perdíamos na corrida”, afirmou Marinho Neto. Segundo ele, enquanto seu objetivo era passar mais tempo com os empreendedores antes de assinar qualquer cheque, outras gestoras já apresentavam term sheets em poucas semanas após os primeiros contatos com os empreendedores.

A chegada de 2022, no entanto, mudou o cenário e diminuiu o assédio às startups. Para investidores menos apressados, a mudança veio a calhar. “Está melhor para poder passar bastante tempo com uma pessoa que a gente quer investir”, disse Marinho Neto.

Tanto Marinho Neto como Thees não parecem surpresos com o atual momento do mercado. “O que está acontecendo não é novidade. Novidade foi o que vivemos nos últimos 12 ou 14 anos de um ciclo longo e sem um ajuste”, afirmou Thees. “Esses ciclos costumam ser de quatro a seis anos.”

O que pode vir a surpreender é uma demora mais lenta do setor para se recuperar no ano que vem. Para a dupla, o momento pede cautela e atenção às oportunidades que podem não se repetir. “Abriu a janela, tem que entrar. Não dá para contar com bonança no ano que vem”, disse Thees. “Precisa ser realista e conservador e olhar no caixa de curto prazo.”

Para encarar o solavanco no venture capital, a Globo Ventures reformulou sua estratégia neste ano. “O que eu faço é uma remodelação”, disse Roberto. “Se 2021 foi um ano de mais investimentos em private deals, neste, com a correção do mercado, o dinheiro foi mais destinado para fundos.”

Um exemplo foi dado em novembro, quando a Globo Ventures entrou como limited partner (LP) no fundo da Supera Capital, que conta também com sócios como Luciano Huck, Gilberto Sayão (Vinci Partners) e Duda Melzer (eB Capital), conforme noticiado com exclusividade pelo NeoFeed.

Ainda assim, a Globo Ventures não abandonou os investimentos diretos em startups. Em setembro, a companhia entrou como investidora na Petlove na extensão de rodada que a varejista do setor pet realizou em 2021 e na qual levantou R$ 750 milhões.

Marinho Neto explica que a tese de investimentos foca em negócios que já estejam mais maduros. “A gente começou a fazer mais Série A nos últimos anos porque são negócios que já encontram empresas com modelos prontos e que precisam massificar a operação”, afirmou.

Ao optar por rodadas de Série A, a empresa de capital de risco ligada ao grupo de mídia carioca destina até US$ 20 milhões para os cheques. Sobre os setores preferidos, o olhar é “caso a caso”, mas ainda há uma certa resistência em determinados segmentos. “A gente evita infraestrutura e olhamos menos para o agro”, disse o CEO.

Em outros investimentos realizados ainda no ano passado, a Globo Ventures apostou em negócios como a EmCasa, que tem uma plataforma de compra e venda de imóveis, e a Merama, uma holding de ativos digitais e que se tornou unicórnio um ano após entrar em operação.

Os próximos movimentos da Globo Ventures no mercado de startups ainda são desconhecidos. Ao que Marinho Neto deixa transparecer, será um ano de mais paciência. “O objetivo é diversificação do capital, o retorno do investimento e o aprendizado do que as empresas podem oferecer para ser aplicado na nossa indústria”, afirmou.