Fintech de energia solar, a Solfácil fechou 2021 com uma carteira próxima de R$ 1 bilhão, a partir do financiamento de instalações voltaicas para cerca de 30 mil clientes, entre consumidores, empresas e proprietários rurais. Os números do ano, no entanto, ultrapassam as linhas do balanço da empresa.

Os painéis solares financiados pela companhia evitaram a emissão de 17 mil toneladas de CO2. Em uma base de comparação, esse é o mesmo volume de gás carbônico que 69 mil árvores recolheriam da atmosfera em 20 anos. Ou que um carro popular produziria ao rodar 115 milhões de quilômetros.

Disposta a manter esse ritmo de crescimento nas duas frentes, a Solfácil vai aliar o reforço dado ao seu negócio principal de financiamentos com a exploração de outras ofertas no entorno desse portfólio.

“Temos muitas oportunidades para explorar, mas o maior foco em 2022 é buscar a liderança como financiadores desses projetos de energia solar”, diz Fabio Carrara, fundador e CEO da Solfácil, ao NeoFeed. “Nossa expectativa é fechar 2022 com uma carteira de R$ 3 bilhões.”

A startup tem caixa para financiar essas estratégias. Em junho de 2021, a empresa levantou R$ 160 milhões em uma rodada liderada pelo QED Investors, além de arrecadar, em novembro, R$ 1,3 bilhão com a emissão de títulos verdes. Outras captações nesses moldes estão previstas no decorrer do ano.

Atualmente, cerca de 30% dos projetos na carteira da Solfácil vêm de empresas de pequeno e médio porte. Outros 15% estão ligados a pequenas propriedades rurais. O grosso dessa oferta ainda está relacionada às instalações residenciais.

Esse último segmento deve seguir como um dos motores da fintech. Especialmente a partir de um anúncio recente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que irá financiar a instalação de painéis solares para consumidores na região norte do País.

Nessa ação, batizada de Amazônia Solar, a Solfácil foi escolhida como parceira para fazer a análise de risco de crédito e também da viabilidade dos sistemas nas casas desses clientes. O plano é financiar 1,6 mil projetos com um prazo de até 150 meses e taxas mensais de 0,77% mais o IPCA.

Já uma das novas áreas no horizonte da empresa é o segmento de seguros. Programada para o primeiro semestre do ano, a oferta de um seguro prestamista, ou seja, de proteção financeira aos clientes da sua base, deve marcar a estreia da startup nesse espaço.

Nesse universo, também estão em discussão com parceiros os lançamentos de alternativas em modalidades como garantia estendida dos equipamentos, além de seguros para os painéis solares, que cubram eventuais incidentes pós-instalação, como incêndios, furtos e desastres naturais.

A ampliação do portfólio também deve trazer novidades para os mais de 8 mil integradores parceiros responsáveis pela instalação dos painéis na ponta. Atualmente, 70% desses projetos envolvem parcelas de 60 a 72 meses para os consumidores, com carências de até seis meses e taxa média mensal de 1,2%.

“Entretanto, esses parceiros, muitas vezes, compram os equipamentos à vista dos distribuidores”, diz Carrara. “Então, estamos estudando opções para resolver essa dor deles. Isso pode incluir a antecipação desse recebível ou uma espécie de ‘buy now pay later’ para o setor.”

Os integradores estão no centro de outras duas iniciativas. Lançada no quarto trimestre de 2021, a primeira delas é um marketplace, que conecta esses parceiros a uma dezena de fabricantes dos equipamentos e a um mix de cerca de 5 mil opções de kits de instalação de painéis.

“Com o cenário global da Covid-19 e das quebras nas cadeias de suprimento, houve um aumento no preço desses equipamentos no segundo semestre de 2021”, explica Carrara. “Então, criamos a plataforma para dar mais alternativas a esse parceiro.”

Uma segunda área é o investimento em digitalização para agilizar e aprimorar tanto o fechamento de contratos como o pós-venda. Nesse último caso, a Solfácil tem uma série de projetos-piloto em teste na área de internet das coisas.

A solução envolve hardware e softwares proprietários para monitorar, remotamente, o funcionamento e o desempenho dos sistemas de energia solar. A princípio, a ideia é entregar essas ferramentas como benefício. Mas a startup não descarta estruturar um modelo de comercialização dessa oferta.

Fabio Carrara, fundador e CEO da Solfácil

“Vamos evoluir cada vez mais nossa plataforma para além do financiamento”, diz Carrara. No longo prazo, esse plano pode passar por áreas adjacentes. “Os consumidores irão carregar, por exemplo, seus carros elétricos em casa. Temos a visão de ser o ecossistema que coordena essas soluções.”

No curto prazo, a Solfácil já tem um bom mercado a explorar. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, em 2021, o Brasil chegou a 12 gigawatts de potência instalada nessa matriz. Nessa conta, apenas os 7,5 gigawatts de projetos residenciais equivalem a mais de R$ 37,1 bilhões.

Com questões recentes, como a aprovação de um marco legal para o setor, em 2021, a perspectiva é de que esse mercado ganhe ainda mais impulso. Nesse cenário, o segmento já está atraindo pesos pesados do mercado, como o Itaú Unibanco e o Bradesco.

Um dos players com maior foco no financiamento desses projetos, no entanto, é o BV, que fechou 2021 com uma carteira de R$ 2,5 bilhões, pouco abaixo da meta estabelecida pela Solfácil para esse ano.

No balanço entre as perspectivas de crescimento do mercado de energia solar e do interesse dessas grandes instituições, a Solfácil busca inspiração justamente em um embate similar, travado há mais tempo em outro campo pelos grandes bancos e outras fintechs.

“Somos, de certa forma um outsider na disputa com essas instituições tradicionais”, observa Carrara. “Mas, traçando um paralelo, podemos trilhar o mesmo caminho de outras fintechs, como o Nubank, em energia solar.”