A pandemia do novo coronavírus deixou alguns bilionários ainda mais endinheirados. O fundador da Amazon, Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, viu sua fortuna quase chegar a US$ 200 bilhões neste ano.
Elon Musk, da fabricante de carros elétricos Tesla, com um patrimônio estimado em US$ 161 bilhões, roubou a segunda posição de Bill Gates no ranking dos bilionários. Mark Zuckerberg, do Facebook, agora conta com US$ 105 bilhões, na quinta posição.
Mas há um bilionário do setor de tecnologia que não tem muito o que comemorar em 2020. Pelo menos, nos últimos dois meses. É Jack Ma, o fundador do gigante de comércio eletrônico Alibaba, considerado a Amazon da China, embora seu modelo de negócio seja diferente do da companhia de Jeff Bezos.
No fim de outubro, a fortuna de Jack Ma era estimada em US$ 61,7 bilhões e ele estava perto de assumir a posição de homem mais rico da Ásia. Agora, ele conta com “apenas” US$ 50,9 bilhões, segundo ranking da Bloomberg.
O que aconteceu no período de dois meses para que o fundador de uma das maiores empresas de tecnologia da China assistisse a sua fortuna se reduzir tanto assim? Em poucas palavras: o governo chinês resolveu partir para cima das companhias de internet do país. Em especial, do Alibaba, de Ma, e de sua fintech, a Ant Group.
Nos últimos 60 dias, Ma está vivendo um verdadeiro inferno astral que parece não ter data para terminar. No começo de novembro, Ma caminhava para um momento de glória. A Ant Group, fintech da qual o Alibaba detém uma fatia de 33%, estava perto de fazer uma dupla listagem nas bolsas de valores de Xangai e Hong Kong. A captação, estimada em mais de US$ 34 bilhões, era considerada a maior abertura de capital da história.
Tudo começou a dar errado quando Ma fez críticas a bancos e autoridades reguladoras chinesas antes do IPO da Ant Group. Em uma reunião realizada em Xangai, em 24 de outubro, Ma teria afirmado “que o sistema regulatório chinês estava sufocando a inovação e deve ser reformado para fomentar o crescimento”. O fundador do Alibaba teria dito ainda que os bancos chineses operavam com uma mentalidade de “casa de penhores”.
A fala de Ma deixou furiosos funcionários que atuam em agências reguladoras chinesas. A partir daí, o IPO da Ant foi suspenso – e muitos atribuem o cancelamento da abertura de capital às críticas de Ma aos reguladores chineses.
O governo chinês também partiu para cima das empresas de Ma. Em 24 de dezembro, a Administração Estatal para Regulamentação do Mercado iniciou uma investigação antitruste sobre a Alibaba com base em relatos de que o gigante do comércio eletrônico pressiona os comerciantes que vendem produtos em suas plataformas a não vender em seus concorrentes.
Uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal (WSJ) informou que o governo chinês está tentando encolher o império financeiro e tecnológico de Jack Ma e, potencialmente, ter uma participação maior em seus negócios.
Sob um roteiro de reestruturação, a Ant Group voltaria às suas origens como uma empresa de pagamentos online semelhante ao PayPal
Sob um roteiro de reestruturação, a Ant Group voltaria às suas origens como uma empresa de pagamentos online semelhante ao PayPal. Ao mesmo tempo, ela deixaria áreas mais lucrativas, como o negócio de empréstimos, que seria restringido. Os reguladores chineses também ordenaram que a Ant formasse uma holding financeira separada, que estaria sujeita às exigências de capital aplicadas aos bancos.
Isso poderia abrir uma porta para grandes bancos ou outros tipos de entidades controladas pelo governo comprarem a empresa para ajudar a fortalecer sua base de capital, disseram autoridades consultadas pelo WSJ. O fundo de pensão nacional da China, o China Development Bank, e a China International Capital Corp., o maior banco de investimento estatal do país, já são investidores na Ant.
“Sem dúvida, o objetivo é controlar Ma”, disse ao WSJ um consultor do comitê antimonopólio do Conselho de Estado da China, o principal órgão governamental do país. "É como colocar uma rédea em um cavalo."
Outras gigantes chineses de internet estão também sob o escrutínio das autoridades chinesas, que prometem endurecer a regulamentação dessas empresas. Entre eles, o aplicativo WeChat, a holding Tencent e a Didi Chuxing, o Uber da China. Até agora, no entanto, o alvo preferencial tem sido Ma.
Desde 21 de outubro, quando atingiram o valor de US$ 317,14, as ações do Alibaba negociadas na Bolsa de Nova York acumulam uma queda de 24,8%. Neste ano, no entanto, os papéis ainda se valorizam 9,6%. A empresa é avaliada em US$ 626 bilhões.