Era dezembro de 2019, quando Neil Jacobs, CEO da rede hoteleira Six Senses, que pertence ao InterContinental Hotels Group, desembarcou no Brasil para visitar o hotel Botanique, no coração da Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Ele ficou extasiado. “Que lugar maravilhoso para respirar a paz e a beleza ao redor, para encontrar harmonia e reconexão”, disse Jacobs à Fernanda Ralston Semler, a fundadora e dona do lugar.
Jacobs não só gostou do Botanique como saiu de lá com a missão de colocá-lo no seleto grupo de hotéis que ostentam a sua bandeira. Dito e feito. Em fevereiro deste ano, o Botanique, erguido por Fernanda, esposa do empresário Ricardo Semler, foi batizado com outro nome: Six Senses Botanique.
Trata-se da primeira unidade a carregar o nome da marca nas Américas e a 21ª no mundo. Tal é o sucesso que o hotel acaba de ser eleito um dos melhores do planeta pela revista americana Travel + Leisure – It List de 2021.
“Percebi que já estávamos bem alinhados. O namoro e casamento foram rápidos. Estávamos prontos para ‘casar’ em março e aí veio a pandemia. No final fechamos o acordo em fevereiro”, diz Fernanda ao NeoFeed.
A proposta do Six Senses veio no momento em que ela e a família já avaliavam se mudar para San Diego, nos Estados Unidos. Por isso, foi ainda mais decisiva. Afinal, ela não poderia largar o Botanique nas mãos de qualquer um. O hotel é um sonho que foi concretizado ao longo dos anos.
Tudo começou em 2003, após Fernanda trabalhar por oito anos com moda e luxo na Eurofashion TV e com o próprio estilista italiano Gianni Versace, adepto do luxo aspiracional. Com as experiências acumuladas, a empresária aprendeu que deveria apostar em outro caminho.
Por isso, focou no conceito do après-luxe (pós-luxo), que tem como base o fundamento de que o verdadeiro luxo se trata de valores como qualidade de matéria-prima, originalidade e propósito maior/identidade local.
“Percebi que o luxo tradicional tinha virado refém do consumidor aspiracional e não era mais feito de forma cuidadosa e verdadeira.” Quase uma década mais tarde, em 2012, Fernanda abria o hotel que vinha para materializar esse conceito e cujo investimento total chega a R$ 77 milhões desde o seu início – dos quais R$ 7 milhões injetados agora pela Six Senses.
A empresária já tinha recebido várias propostas de grupos internacionais. “Mas nunca considerei, pois para mim a única marca possível para ‘tentar’ traduzir o que construí era e sempre foi a Six Senses. O que me conectou à rede foi a equipe voltada às grandes questões – como sustentabilidade e conexão com a comunidade. Eles viram no pós- luxo algo pronto para ser incorporado na filosofia deles.”
Em meio à propriedade que compreende 1,2 milhão de metros quadrados na região entre os municípios de Santo Antonio do Pinhal, São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão, onde o avô de Fernanda ajudou a trazer a estrada de ferro, o hotel prepara a expansão de quartos e melhorias no spa, academia e outras áreas.
“A Six Senses já pegou um barco andando bem e com ocupação elevada. Mesmo com todas as restrições (por conta da Covid-19), o hotel teve e tem fila de espera”, conta a empresária.
Já está pronto o Alquemy bar, que serve "bebidas vivas", feitas com probióticos caseiros, tônicos e ervas locais. Nele, o hóspede também pode confeccionar esfoliantes e produtos cosméticos em um curso exclusivo.
O spa, um dos pontos altos da marca, ganhará no ano que vem novas salas de tratamento, áreas de relaxamento e um fitness center. A exemplo de seus spas no mundo, a Six Senses está desenvolvendo programas especiais como “Aumente sua imunidade para construir um corpo forte”.
Já funciona também uma nova piscina na área externa e estão sendo criadas para este ano diversas atividades do clube infantil Grow With Six Senses.
Para a hospedagem, 14 novas villas estão a caminho. Hoje são 13, além de sete suítes no corpo principal do hotel, com tarifas a partir de R$ 2.277,00 por casal, com café da manhã. Está nos planos da Six Senses, ainda, a construção de 37 residências eco-friendly, que estarão disponíveis para compra e poderão ser colocadas para locação sob administração da rede.
Durante a fusão, a base de funcionários foi mantida e foram contratados dois colaboradores importantes: Dominic Scoles, gerente-geral que já esteve à frente de outras propriedades Six Senses nas Maldivas e no Vietnã, e Renata Maia Luque, Director of Sales & Marketing, cuja carreira de 20 anos inclui Emiliano e Fasano.
“Após quase dez anos à frente de todas decisões e gerenciamento – dos números às pantufas, a famosa ‘barriga no balcão’ –, consigo agora dar dez passos atrás sabendo que o hotel continuará um sucesso e em boas mãos gerenciais”, diz Fernanda.