A Cielo apresentou alguns resultados em seu terceiro trimestre fiscal que surpreenderam os analistas, apesar da queda de 72% do lucro líquido, para R$ 100,4 milhões.
De uma forma geral, o volume financeiro avançou 29,4%, para R$ 165,6 bilhões, recuperando os níveis pré-pandemia. A base de clientes também cresceu, 6,8%. A penetração de varejo e empreendedores, que é o foco companhia agora, passou para 37% - há um ano estava em 30%.
Mas nada disso conseguiu trazer otimismo para os analistas, que consideram que as mudanças estruturais em seu negócio ainda são lentas. Como escreveu o BTG Pactual em seu relatório, “é difícil observar algum ângulo estruturalmente positivo nas ações se a Cielo seguir sendo administrada da mesma forma.”
Essa percepção foi compartilhada por outras casas de análises em seus relatórios, que observaram evolução no resultado da companhia, mas questionaram a capacidade de reestruturação da empresa.
“A Cielo ressurgiu com algum lucro e alguma evolução positiva do lado do cliente, mas ainda muito atrás das fintechs mais experientes e até mesmo de suas concorrentes, que têm oferta de serviços e soluções mais integradas com o negócio bancário” escreveu o analista Eduardo Nishio, da Brasil Plural.
Nishio se refere-se a Stone e a PagSeguro, empresas que têm uma fatia de mercado menor, mas que se posicionarem de forma assertiva atendendo clientes de menor porte e com oferta de soluções que vão além do pagamento.
O caso da Stone é ilustrativo. Nos últimos anos, ela investiu em uma série de empresas para diversificar sua oferta. Só neste ano, a credenciadora fundada por André Street investiu, por exemplo, no aplicativo de entregas Delivery Much, na solução de gestão para restaurantes MVarandas, na ferramenta de gestão de redes sociais mLabs, e na startup de saúde Vitta, que oferece sistemas para consultórios médicos e planos de saúde para startups.
A Cielo também está pressionada pela chegada do PIX, sistema de pagamento instantâneos, que deve reduzir o volume de transações, principalmente de cartão de débitos.
Sobre esse item, o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, tentou passar uma mensagem positiva, alegando que vê o PIX como uma oportunidade, diante da quantidade de brasileiros que devem ser incluídos no sistema bancário com o sistema do Banco Central.
“Existe um mundo no Brasil para a inclusão bancária e o PIX terá um papel importante”, afirmou Caffarelli, durante teleconferência com analistas de mercado. “Menos de 40% das famílias usam cartão de crédito e débito. Se subir para 60%, há uma situação para abocanhar essas transações.”
Caffarelli disse também que espera que o Banco Central autorize o uso do aplicativo de mensagens WhatsApp para pagamento em novembro deste ano. “A expectativa que a gente tem ouvido de partes envolvidas no assunto é de que a autorização do regulador sairá em novembro”, afirmou o presidente da Cielo.
O WhatsApp, que pertence ao Facebook, começou seu serviço de pagamentos através do aplicativo em junho. Os parceiros eram o Banco do Brasil, as bandeiras de cartão de crédito Visa e Mastercard e a Cielo, que faria a parte tecnológica.
Mas o Banco Central proibiu a operação do serviço do WhatsApp e, desde então, passou a fazer testes para que pudesse autorizar a modalidade de pagamento do aplicativo do Facebook. Na época, as ações da Cielo reagiram positivamente ao anúncio de parceria com o Facebook.
Nesta quarta-feira, 28 de outubro, as ações da Cielo caiam 6,5% por volta das 13h45. Além do resultado, o mercado reagia de forma negativa às notícias de uma segunda onda de infecção do novo coronavírus na Europa e as preocupações de que isso possa afetar a recuperação econômica.